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EUA
Governo Trump: 10 milhões de desempregados nos EUA em apenas 2 semanas
Juan Andrés Gallardo
Buenos Aires | @juanagallardo1

Apesar do negacionismo de Trump, a crise do coronavírus está fazendo estragos não só na saúde dos estadunidenses, mas também entre as e os trabalhadores que estão sendo demitidos aos milhões. Enquanto as empresas esperam milhões vindos do resgate estatal, começa entre os trabalhadores um processo de lutas que podem se multiplicar no próximo período.

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O número assusta, é o mais alto desde o fim da Segunda Guerra Mundial e estima-se que a taxa de desemprego pode chegar a 15% este mês, superando o recorde anterior de 10,8% durante a profunda recessão de 1982.

Só na última semana, 6,6 milhões de estadunidenses pediram o seguro de desemprego, número que se soma aos mais de 3 milhões que haviam pedido na semana anterior. Isso resulta na cifra sem precedentes de quase 10 milhões de pessoas que perderam seus empregos nos Estados Unidos nas últimas duas semanas, produto da paralisação causada pela crise do coronavírus.

Esse número, que ofusca as previsões da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, há algumas semanas, previa 25 milhões de novos desempregados em todo o mundo, ocorre mesmo quando os Estados Unidos não paralisaram completamente sua indústria. A política negacionista de Donald Trump, que até agora tinha privilegiado manter a economia operando, fez que não houvesse quarentena nacional ou generalizada, de modo que, exceto nos estados mais críticos (começando por Nova York), em muitos casos eles mantêm suas atividades, embora mais reduzidas do que o normal.

O panorama revela a catástrofe que a situação nos Estados Unidos pode alcançar, um país que já se tornou o centro da pandemia global, com 216.000 contaminações até esta quinta-feira.

A maior economia do mundo, na qual o coronavírus já causou mais de 5.000 mortes, há apenas um mês registrava uma taxa de desemprego de 3,5%, a menor em meio século e considerada próxima ao pleno emprego. Agora, a demissão de quase 10 milhões de trabalhadores em apenas duas semanas é equivalente ao total de empregos destruídos nos primeiros seis meses e meio da chamada Grande Recessão de 2008-2009.

Alguns economistas calculam que a taxa de desemprego pode chegar a 20% no médio prazo, o dobro do registrado em outubro de 2009, quando o país completava recém três meses de uma dolorosa recuperação após a Grande Recessão.

O setor de hotéis e restaurantes foi o mais atingido, mas o impacto também se espalhou para os serviços de saúde, fábricas, varejo e construção.

Califórnia na semana passada registrou o maior número de pedidos de seguro desemprego com 879.000 procedimentos, depois de 186.000 na semana anterior.

Em Pensilvânia, reivindicações semanais aumentou de 377.000 para 406.000; enquanto na semana passada houve 366.000 pedidos em Nova York; 311.000 no Michigan; 276.000 no Texas; 272.000 em Ohio; 227.000 na Flórida e 206.000 em Nova Jersey.

Em meio à pandemia, os primeiros a serem atingidos são as e os trabalhadores, que nos Estados Unidos não têm indenizações por demissão e estão completamente desamparados, dependendo do subsídio estatal. As empresas, por sua vez, mostraram que não estavam dispostas a entregar nenhum dos ganhos acumulados no período anterior. Ao mesmo tempo em que esperam se beneficiar do resgate de milhões de dólares preparado pelo governo, eles já correram para demitir seus trabalhadores para que não precisem pagar um único dia de licença médica ou suspensão temporária de atividade, um conceito praticamente inexistente entre a maioria dos trabalhadores.

As empresas, no entanto, não vão perder um único dólar, o governo aprovou com o acordo dos democratas no Congresso um pacote de resgate de 2,2 trilhões de dólares, um valor histórico, destinado em sua grande maioria a resgatar o setor bancário, financeiro, industrial, serviços, turismo e entretenimento, entre outros. Apenas uma pequena porção do resgate visa os mais pobres e os milhões que estão perdendo seus empregos. Eles receberão no máximo um cheque de US$1.200 cada um e outro de US$500 para cada criança, e isso seria um pagamento único. Mas esse valor atingirá apenas aqueles que tinham um emprego registrado, ou seja, milhões de imigrantes, pessoas sem registro e trabalhadores informais são deixados de fora.

A situação mudou abruptamente nos EUA em apenas algumas semanas, como ocorreu em muitos outros países. Há apenas um mês atrás, todos os olhos estavam voltados para as internas do Partido Democrata para descobrir quem seria o oponente de Trump nas eleições de fim de ano. O magnata de Nova York, por sua vez, esperava um ano sem choques e uma corrida limpa para a reeleição, no entanto, a crise social e de saúde do coronavírus e a brutal aceleração da crise econômica tiveram um impacto pesado em suas aspirações presidenciais.

Mas não é só crise alterou a corrida eleitoral, como as vidas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Os que ainda têm emprego começaram a realizar greves, piquetes e ações em todo o país, exigindo condições seguras para trabalhar até o fechamento de suas fábricas, garantindo o pagamento em alguns locais considerados não-essenciais. Isso foi visto nos últimos dias nas grevas na Amazon, Whole Foods, Instacart, enfermeiras, coletores de lixo e onde uma das suas expressões mais importantes foi a exigência dos trabalhadores da General Electric para que a fábrica reestruture a produção para poder fabricar respiradores artificiais, tão necessários em um país onde a privatização do sistema de saúde torna obsoletas as ferramentas estatais para responder a uma pandemia desta magnitude.

Tudo indica que este cenário vai se acentuar. Junto com o aumento da crise, espera-se que se multipliquem as ações de trabalhadores lutando por trabalhar em condições seguras, e possivelmente também dos milhões que começam a ficar desempregados e que não terão mais nada a perder.

A experiência na luta de classes, inicial, porém disseminada pelas condições de precarização do trabalho das últimas décadas, que foram desde os fast foods até grandes supermercados, passando pelos armazéns de distribuição e logística, e pela organização de imigrantes, podem servir como um exercício prévio para as tarefas que a classe trabalhadora estadunidense terá pela frente no próximo período. Os milhões de jovens que afirmam simpatizar com a ideia do socialismo, aqueles que fizeram parte da campanha de base de Bernie Sanders na esperança de "acabar com a desigualdade", aqueles que começaram a ser membros de organizações de esquerda como o DSA, com aqueles que nesta crise começar a ver a face mais brutal do capitalismo imperialista, poderão ser os aliados não-iludíveis com que a classe trabalhadora precisara contar quando sair às ruas.

Tradução para o Esquerda Diário: Caio Reis

 
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