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MULHER É 1ª MORTA POR CORONAVIRUS NO DF
Covid-19 e machismo: Brasil está lidando com mais de uma epidemia
Estrela - Comitê DF/GO
Comitê Esquerda Diário DF/GO

Com o aumento dos casos de violência doméstica durante o confinamento em um país com uma das maiores taxas de violência de gênero em todo mundo e eleitor de um Presidente da República abertamente misógino e racista , se faz necessário trazer à luz a questão da mulher na crise e no capitalismo.

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Não é coincidência que a primeira morte registrada no DF devido ao novo Coronavírus é de uma mulher, moradora do entorno (Luziânia) e enfermeira, fatos esses que escancaram o caráter especial que a questão de gênero assume em um estado que é carregado nas costas por mulheres, que em meio a quarentena seletiva de Ibaneis, seguem trabalhando e mantendo de pé serviços essenciais sem saberem se estão contaminadas, como milhares de enfermeiras, auxiliares, secretárias e recepcionistas, assistentes sociais, domésticas e caixas de supermercados, todos empregos majoritariamente femininos. A enfermeira Viviane Rocha de Luiz, assessora técnica no Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), morreu dia 23 de março, porém seu diagnóstico foi confirmado somente uma semana depois.

A estrutura social já estava doente muito antes da pandemia, a chegada do Covid-19, especialmente no Brasil, trouxe à superfície a violência com que o governo Bolsonaro continua a herança política de proteger os capitalistas e negligenciar os trabalhadores brasileiros que são em sua maioria informais e terceirizados. A questão de gênero se destaca na marcante desproporção na forma de inserção de mulheres e homens no mercado de trabalho, sendo aquelas maioria no percentual de trabalhadores informais, terceirizados, subocupados e daqueles não contemplados com a quarentena. Além disso, a tripla jornada assumida pelas mulheres, bem como o aumento de denúncias de violência doméstica desde o início do confinamento, revela o caráter estrutural violento e machista da “pátria amada Brasil”.

No Distrito Federal, as mulheres compõem 74% da força de trabalho do Iges-DF (Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF). Ademais, mulheres, majoritariamente negras e de baixa escolaridade, são a esmagadora maioria dos trabalhadores domésticos no Brasil, um país onde há, segundo a Organização Internacional do Trabalho, 3 empregados domésticos para cada grupo de 100 pessoas. Ou seja, as mulheres trabalhadoras estão na linha de frente nessa luta contra a epidemia nos postos de trabalho mais expostos e vulneráveis a ela.

À vista disso, as medidas do governo Bolsonaro como o corte de 158.452 Bolsas Família, o apoio a MP da Morte e da Fome, além da negligência total para com a necessidade de investimento em respiradores e leitos nos hospitais, clínicas e laboratórios disponíveis à população mais vulnerável ao vírus ou até testes massivos para toda a população como medida de prevenção, fazem com que a crise epidêmica e, consequentemente, econômica atinja de forma bem mais violenta esses setores de mulheres trabalhadoras.

Como se não bastasse, as mulheres dedicam mais horas aos afazeres domésticos que os homens, segundo o IBGE. Com a quarentena, a dupla jornada das mulheres se intensifica: aquelas que coabitam uma residência com um homem em que ambos trabalhavam fora e agora estão em home office continuam a dedicar,em média, 8 horas de trabalho doméstico a mais que os homens. Ao contar com a narrativa de mulheres mães cujos filhos também estão de quarentena devido a suspensão de atividades em creches, colégios e universidades, a jornada é tripla: tomar conta da(s) criança(s), dos afazeres domésticos e ainda do trabalho dentro ou fora de casa.

Mais um agravante à saúde mental feminina é a potencialização dos casos de violência doméstica com a quarentena: mulheres isoladas de seus familiares e amigos com seus agressores. Na China, primeiro país a lidar com o surto do vírus, o número de casos denunciados de violência doméstica triplicou em fevereiro, mês em que já havia sido implantada a quarentena, segundo o editorial Axios. No Brasil o mesmo fenômeno aparece; no Rio de Janeiro, por exemplo, o Plantão da Justiça estadual registrou um aumento de 50% nas denúncias, o que torna ainda mais preocupante a evolução desse cenário em um país em que uma mulher é morta a cada 2 horas vítima de violência.

Outra negligência do governo Bolsonaro e do governador Ibaneis é o investimento e a manutenção dos núcleos que atendem às vítimas de violência doméstica. Para as mulheres vítimas de violência doméstica, é oferecido pela Secretaria da Mulher, no DF, três Centros Especializados de Atendimento à Mulher (CEAMs), na estação 102 Sul, em Planaltina e em Ceilândia, além dos NAFAVDs (Núcleo de Atendimento às Famílias e aos aos Autores de Violência Doméstica) e da Casa de Abrigo, local onde mulheres são acolhidas por encaminhamento da Polícia Civil ou por ordem judicial. Porém, como afirma Ericka Filippelli, Secretária da Mulher, os servidores estão sobrecarregados e os atendimentos ocorrem em uma estrutura mínima, o que reflete a realidade do DF e do país. É revoltante que frente à crise e aos números gritantes de denúncias de violência doméstica o Governo do Distrito Federal se cale ao invés de intensificar esses programas também como medida voltada a própria contenção do Coronavírus.

A declaração de Bolsonaro do dia 29 de março em que faz uma tentativa repulsiva de embasar sua campanha que defende o lucro dos patrões, a mesma que incentiva a volta dos trabalhadores a seus locais de trabalho sem nenhuma garantia de segurança contra a pandemia, no aumento da violência doméstica durante a quarentena, intensifica, mais uma vez, a exploração da classe trabalhadora. A postura do presidente não deixa dúvidas de seu caráter repugnante ao jogar o peso da crise nas costas dos trabalhadores e,especialmente, das trabalhadoras, ao afirmar que a solução contra esse aumento de denúncias é a volta de todos ao trabalho.

Diante do exposto, é necessário lutar contra um sistema capitalista que alimenta uma estrutura de opressões assassina e asquerosa, primando pelo bem-estar físico e mental da base do operariado, a mulher.

 
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