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Apesar do Coronavírus, a luta de classes continua
Nathaniel Flakin

Conforme a pandemia propaga, políticos da classe dominante estão chamando por unidade – e eles estão tentando usar a crise para fazer bilhões. Como socialistas revolucionários, nós rejeitamos a ideia de que possa haver unidade entre exploradores e explorados. Trabalhadores precisam lutar contra a crise com seus próprios métodos.

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Pouco mais de 100 anos atrás, a tão falada gripe espanhola matou 50 a 100 milhões de pessoas em todo o mundo. A gripe não era da Espanha – provavelmente foi originado nos EUA. Mas o vírus se espalhou no momento em que muitos países estavam censurando sua imprensa em razão da primeira Guerra Mundial, e então o primeiro relato da nova cepa da influenza sai da Espanha neutra.

A devastação da gripe não foi nenhuma mera crise biológica. A alta taxa de mortalidade foi uma continuação direta dos horrores da guerra. Tropas sendo enviadas em todo o mundo espalha a doença, com soldados exaustos se agachando em trincheiras particularmente suscetíveis. Mas a maioria das mortes ocorreram no mundo colonizado. No Iran e Índia, requisição e má administração das potências coloniais já conduziram a fome, então o vírus golpeou severamente a população debilitada.

No início da guerra em 1914, líderes do movimento dos trabalhadores pediram por uma “paz cívica”. A ideia era que os trabalhadores suspendessem todas as formas de luta de classe em nome do “interesse nacional”. E assim que a nação individual deles foi vitoriosa, então a lógica veio, trabalhadores teriam uma paz dos despojos.
Na Alemanha, essa política era referida como um Burgfrieden – literalmente, um “castelo paz” que reina com as paredes de um castelo sitiado. Na França, era a union sacrée, a união sagrada. Em todos os casos, significou uma pausa na luta de classes.

A primeira Guerra Mundial trouxe enormes lucros para os grandes capitalistas, os bancos, os acionistas e os especuladores. Mas apenas trouxe fome e miséria para a classe trabalhadora. Isso se aplica até os trabalhadores de países vitoriosos. Não admira que nos anos seguintes à guerra, tiveram movimentos revolucionários massivos em todo o mundo.

Ecos da paz civil

Agora, diante de uma crise similar, nós estamos ouvindo ecos dessa “paz civil”. Políticos da classe dominante querem que a classe trabalhadora se una com os próprios responsáveis por essa crise. Joe Biden e Nancy Pelosi, supostamente a oposição e às vezes até apresentados como a “resistência” ao incompetente governo de Trump, estão chamando por “Unidade, Unidade, Unidade”.

Mas enquanto os políticos capitalistas pedem por uma pausa na luta de classe, os capitalistas estão realmente parando? Não.

Nós vemos isso nos pacotes de resgate apresentados pelos governos capitalistas. Por anos, eles disseram que não havia dinheiro para fornecer cuidados médicos ou educação para os trabalhadores. De repente, o EUA parece ter um trilhão de dólares para salvar a economia.

Quando eles falam sobre “salvar a economia”, no entanto, eles realmente querem dizer sustentar grandes bancos e corporações. Desde que as grandes corporações do EUA pagam poucos impostos ou nenhum, isso significa dinheiro dos impostos pagos pelos trabalhadores. O pacote de trilhões de dólares não é senão uma transferência de riqueza de trabalhadores para os capitalistas diante da crise.

Isso não é uma forma de luta de classe?

Governos capitalistas estão usando o coronavírus como uma desculpa para lhes conceder poderes sem precedentes por vigilância e repressão. Eles afirmam que isso é para combater a pandemia – mas não demorara até que eles usem esses mesmos poderes para parar manifestações e greves.

O mais notório exemplo vem do pós-fascista presidente do Chile, o bilionário Sebastian Piñera. Por meses, ele esteve buscando formas para criminalizar os protestos massivos que esteve balançando o país. Diante do coronavírus, ele originalmente o dispensou, da mesma forma que Trump, como nada mais que uma gripe. Mas então ele sentiu uma oportunidade, e agora ele está pedindo proibições de manifestações – como uma suposta medida de saúde pública! Enquanto isso, ele não faz nada para melhorar a situação terrível do sistema de saúde privatizado do Chile.

Controle das medidas de emergência pelos trabalhadores

No setor manufatureiro, o capitalismo tentou manter os trabalhadores em fábricas, fazendo produtos não essenciais e arriscando suas vidas por lucros de outros. Greves na Itália, no país do Bosco e no Estados Unidos fecharam uma séria de fábricas.

Muitos trabalhadores não podem trabalhar de casa. Isso é particularmente verdade para os enfermeiros, médicos e todos os trabalhadores da saúde. Em todo o mundo, eles estão trabalhando turnos cansativos sob a direção da gestão capitalista. E aqui, nós vemos formas adicionais de luta de classe.

Atualmente, trabalhadores da saúde estão sendo forçados a ignorar precauções de segurança estabelecidas. Eles são instruídos a trabalhar sem equipamentos de proteção, já que nenhum está disponível. Eles estão trabalhando ridiculamente longos turnos devido à falta de pessoal. Mas a crise nos hospitais não caiu do céu. É um resultado de décadas de políticas neoliberais por empresários e políticos – as mesmas pessoas que agora pedem aos trabalhadores que se sacrifiquem!

A maioria dos trabalhadores da saúde não estão reclamando. Em vez disso, a crise destaca a fundamental solidariedade dos trabalhadores. Trabalhadores da saúde hoje são o precioso fermento da humanidade. Eles não estão em greve apesar das terríveis condições as quais eles estão sendo sujeitados – condições que já foram intoleráveis antes da pandemia.

Para derrotar o vírus, trabalhadores precisam tomar o controle de seus locais de trabalho. Isso se aplica aos hospitais, mas também às fabricas de todo tipo que podem ser reaproveitados para fabricar suprimentos para combater a crise. Os proprietários e empresários capitalistas trouxe a sociedade para a beira da catástrofe – porque esses especialistas em exportação estariam no comando em uma emergência de saúde pública? Trabalhadores precisam expulsar os empresários e proprietários – ou melhor ainda, por eles para trabalhar fazendo algo útil, como desinfetar. Precisamos de comitês eleitos pelos trabalhadores e especialistas para coordenar nossas respostas para a crise.

É assim que podemos nos opor à luta de classe dos capitalistas durante a crise – com a nossa luta de classe!

Como socialistas revolucionários, não nos opomos a colocar a sociedade em pé de guerra. Somos muito a favor. Na verdade, queremos uma mobilização até maior do que em uma guerra. Guerra é sobre uma Estado-Nação se mobilizando contra o outro. Mas queremos que toda a humanidade se junte em um esforço monumental para parar um inimigo comum. O que queremos é mais como a resposta a uma invasão do espaço sideral.

Mas esse tipo de mobilização bélica não pode ser deixado nas mãos dos parasitas e imbecis malignos que dirigem estados capitalistas. Trump fala sobre ser um “presidente da guerra”, mas seu foco em manter os lucros dos capitalistas está sabotando o suposto esforço de guerra a todo passo. Não é apenas um problema de simplórios como Trump e seus lacaios. Até na China, a qual tinha uma grande campanha contra o vírus, vimos como os burocratas dominantes, para manter seus prestígios, repetidamente sabotou o esforço heroico dos trabalhadores com mentiras e censura.

São os próprios trabalhadores que podem melhor controlar o tipo de mobilização que precisamos. Rejeitamos qualquer tipo de “paz cívica” durante a crise. Uma mobilização bélica contra o coronavírus requer uma simultânea luta pelo poder da classe trabalhadora sobre todos os aspectos da sociedade. Em outras palavras, precisamos combinar a guerra contra o Corona com a guerra contra os capitalistas. Isso é exatamente o que os trabalhadores fizeram 100 anos atrás para lutar contra os horrores da primeira Guerra Mundial e a gripe espanhola: eles responderam ao barbarismo do capitalismo com revoltas revolucionárias em todo o globo.

Artigo publicado originalmente em inglês no site Left Voice, integrante estadounidense da rede internacional de diários La Izquierda Diario. Tradução por Pablo Lisboa.

 
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