O novo coronavírus ocupou as manchetes dos jornais do mundo todo e é assunto em cada conversa de corredor da UFRN. Há muita desinformação circulando, alimentando o pânico e a dúvida do que pode ser feito. Os governos demonstram que não tem uma solução para o problema, ora sendo boçais negligentes, como se “fosse só uma gripe”, como dizem Bolsonaro e Trump, ora se valendo do alarmismo para fortalecer a autoridade repressiva do Estado, como vemos em especial na Itália, onde o país foi praticamente todo forçado à quarentena.
São os mesmos que depois de anos de crise capitalista e de degradação dos serviços de saúde deixaram os trabalhadores, em especial os idosos, reféns da pandemia. No Brasil, a EC do Teto de gastos, a Reforma da Previdência, e novos cortes do governo Bolsonaro, podem nos levar a uma crise sanitária sem precedentes, frente aos sinais de que uma nova recessão se adianta. Ainda há tempo de reverter esse cenário, mas para grandes crises é preciso de grandes soluções.
Greves espontâneas dos trabalhadores industriais do norte da Itália estouram denunciando o descaso do Estado e das patronais, que os mantém trabalhando nas fábricas enquanto o país todo está em quarentena. Seu grito de que “nossas vidas valem mais que os lucros capitalistas” deve se fazer ouvir em cada local de trabalho e estudo desse país.
É sob essa perspectiva que nós da juventude Faísca da UFRN elencamos algumas propostas que podemos debater para criar na universidade os “anticorpos” para prevenir o contágio e que sejam parte de uma saída dos trabalhadores e da juventude para essa crise.
No Rio Grande do Norte, a contaminação ainda é bastante inicial comparado a outros estados do país, mas eventos esportivos, aulas na UERN e atividades administrativas do governo já estão sendo suspensos. Na UFRN, a reitoria criou um comitê para acompanhar a situação do vírus na universidade e tomará nesta manhã uma decisão sobre a suspensão ou não de atividades acadêmicas.
A maioria dos banheiros sequer possui sabão para higienizar as mãos. O Hospital Universitário (HUOL) vem sendo precarizado ao longo dos anos, faltando funcionários, leitos e insumos básicos, e com os últimos cortes do MEC está em uma situação grave. A reitoria tem que garantir insumos mínimos nos prédios, como álcool gel, sabonete, máscaras, luvas descartáveis aos funcionários, em especial da limpeza e do hospital.
A reabertura dos leitos fechados no HUOL e a contratação emergencial de pessoal é fundamental para garantir o atendimento da comunidade e da população de Natal. É o básico para que a universidade possa se colocar a serviço de atender a população doente, frente a tremenda precariedade da rede pública de hospitais de Natal.
No caso da suspensão das atividades acadêmicas da universidade, cuja decisão não pode ficar restrita aos órgãos técnicos e administrativos da reitoria, mas deve incluir a participação estudantil e dos trabalhadores, é necessário a garantia dos direitos daqueles que serão afetados:
Tanto os trabalhadores efetivos quanto os terceirizados devem ser liberados sem corte salarial e com garantia de assistência médica aos doentes.
Aos estudantes bolsistas, devem seguir recebendo o valor dos seus auxílios e benefícios integralmente. A alimentação dos que se utilizam do RU deve ser paga em dinheiro, para que os trabalhadores do restaurante sejam liberados.
Liberação remunerada imediata dos trabalhadores pais e mães que têm seus filhos doentes ou com eventuais aulas suspensas, para que possam garantir os seus cuidados.
Efetivação de todos os contratos terceirizados sem concurso público.
Essas são algumas medidas que podemos e devemos desenvolver através da nossa auto-organização, que se mostra indispensável para garantir inclusive tais medidas mínimas.
O DCE, o Sintest e a ADURN deveriam impulsionar um Comitê de Prevenção que organize a comunidade acadêmica acompanhar as medidas da reitoria, avalie a partir de definições científicas e sanitárias as melhores formas de prevenir o contágio, garanta a rotatividade mais adequada aos trabalhadores em áreas de maior risco, junto aos funcionários do HUOL e da rede pública de saúde de Natal e do Rio Grande do Norte.
Estas entidades poderiam seguir o exemplo do CA da Letras da USP, onde as aulas estão suspensas, está organizando panfletagens nos bairros com informativos de medidas de prevenção sanitária, combatendo a desinformação da mídia e do governo.
Uma organização desse tipo é estratégica para que possamos avançar em medidas que ataquem o problema da precariedade da saúde de Natal, que não está em condições de responder a um cenário de maior propagação do vírus. O Hospital Walfredo Gurgel está abarrotado de gente nos corredores, falta tudo e está com a estrutura decadente. A governadora Fátima Bezerra (PT), fechou um dos principais hospitais públicos no ano passado, o Ruy Costa Pereira, medida que precisa ser revertida imediatamente a partir da nossa auto-organização, exigindo da governadora que pare de perdoar a dívida de R$ 7 bilhões dos empresários para que promova novos leitos, insumos, equipamentos, e recontratação de todos os profissionais da saúde.
Essas são medidas parciais mínimas que precisam da nossa organização em cada local de estudo que obriguem os governos a cumpri-las. Para além disso, nossa batalha contra o coronavírus vai ter que se enfrentar com as principais medidas de corte de verbas na saúde, como a revogação da EC do Teto de Gastos. Por sua vez, é preciso acabar com o pagamento da dívida pública, à qual se destina bilhões do orçamento público todos os anos, que apenas salvam os lucros dos banqueiros enquanto a população morre nos hospitais.
Além disso, é necessário medidas imediatas emergenciais para garantir os leitos de internação, de UTI, com contratação de trabalhadores da saúde etc, e a disponibilização de leitos e equipamentos da rede privada à demanda do SUS, como parte de avançar para um sistema único de saúde que seja 100% estatal sob controle dos trabalhadores da saúde e em parceria com a população.
Nesta quarta-feira estava convocado um Dia Nacional de Paralisação da Educação, cujos atos foram cancelados pelas direções das Centrais Sindicais e da UNE, mas a convocatória para greve mantida. O Coronavírus tem turbinado a desaceleração econômica que já se mostrava, aproximando um novo período de recessão com quedas estrondosas nas bolsas de valores, comparáveis apenas à crise de 1929 e ao derretimento de 1987, combinado com a disputa entre a Rússia e a Arábia Saudita, que despencaram o valor do barril de petróleo em 30%. A resposta dos Estados burgueses tem sido uma só: injetar milhões no mercado de ações enquanto mais de 65 países tiveram cortes de bilhões que precarizaram a saúde pública desde a crise de 2008.
É inadmissível que os rumos das nossas vidas sigam nas mãos dos que só governam pelo lucro dos patrões, por isso nós da Faísca defendemos que existam espaços de auto-organização na UFRN. Recebemos a notícia do cancelamento da plenária unificada sob justificativa de responsabilidade com a saúde pública, sem nenhum outro conteúdo, sequer sobre prevenção, apenas servindo para somar ao pânico. O RN teve até agora apenas um caso confirmado e a pessoa já saiu de quarentena. É necessário que as entidades de organização dos estudantes, trabalhadores e professores disponibilizem álcool em gel e máscaras para garantir a segurança dos participantes e promovam espaços de auto-organização para que organizemos a nossa luta, para garantia de insumos mínimos e a anulação imediata da Lei de Teto de Gastos. Como dizem os operários italianos: “Nossa saúde vale mais que os lucros deles”.
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