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EDITORIAL MRT
Com a força internacional das mulheres, por justiça para Marielle e uma forte paralisação no 18M
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Em meio a um novo ciclo da luta de classes internacional, milhares de mulheres saíram às ruas em todo mundo nesse 8 de março. Protagonizando manifestações gigantescas, como no Chile e na Cidade do México, nos colocamos na primeira linha da luta contra o machismo, o patriarcado e os efeitos da crise capitalista. É nos apoiando na força desse potente movimento de mulheres internacional, que podemos no Brasil, lutar por justiça para Marielle, preparando grandes manifestações contra Bolsonaro e as reformas, unificando a classe trabalhadora e a juventude na paralisação nacional no próximo dia 18.

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Foto por: Juan Chirioca

A força da luta das mulheres tomou às ruas em muitos países do mundo nos últimos dias, com manifestações massivas e em diversos lugares, os atos começaram na sexta feira e seguiram nessa segunda, com o chamado de uma greve internacional de mulheres em países como México, Chile e Estado Espanhol.

Domingo milhares de pessoas foram às ruas em mais de 70 cidades do México, mais de 150 mil pessoas somente na capital desse país. O altíssimo número de feminicídios foi o motor do chamado a paralisação, naquilo que vem sendo chamado até mesmo pela imprensa burguesa, como a Primavera Feminista no México. Com uma forte preparação há mais de um mês, incluindo assembleias massivas, ocupações de escolas e universidades, as mulheres mexicanas estão retomando os métodos históricos da classe trabalhadora em sua organização contra os feminicídios, todos os dias 10 mulheres são assassinadas pela violência de gênero no país. Desde o Pan y Rosas México construímos cada uma dessas ações prévias ao 8 e 9 de março, domingo marchamos com uma coluna de mais de mil pessoas na Cidade do México, e nossas companheiras estiveram na linha de frente da organização da paralisação em suas escolas, universidades e locais de trabalho.

O Chile, que há 4 meses passa por um profundo processo de rebelião popular, foi o grande destaque com manifestações que reuniram mais de um milhão de pessoas ocupando a Praça Dignidade em Santiago e atos massivos em diversos cantos do país. As mulheres ecoaram o grito de “Fora Piñera” e a luta pelo direito ao aborto legal. Desde nossa agrupação feminista e socialista, Pan y Rosas Chile, levamos um lenço verde gigante pelo direito ao aborto, assim como bandeiras, músicas e intervenções que colocavam a necessidade do movimento de mulheres, com toda a sua força, se proponha a tomar a consigna do Fora Piñera, organizando as mulheres e a oposição por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Na França, trabalhadoras e estudantes que estão na primeira linha da luta contra a reforma da previdência de Macron, marcharam em Paris e diversas cidades do país se enfrentando com uma forte repressão policial. A coluna da agrupação Du Pain et des Roses teve na sua linha de frente as trabalhadoras que protagonizaram essa importante greve, num dos principais processos desse novo ciclo da luta de classes internacional. Na Argentina, a maré verde pelo direito ao aborto legal deixou seu recado: a dívida é com as mulheres não com o FMI, e às ruas são nossas, não vamos entregar nenhum direito, pois o Estado e a Igreja são assuntos separados. Nas próximas semanas o projeto pela legalização do direito ao aborto deverá novamente ser colocado em votação, provocando a ira dos dinossauros conservadores, que lado a lado com a Igreja, convocaram uma “missa pelas mulheres”, enquanto segue impedindo que o aborto seja lei, permitindo que milhares de mulheres sigam morrendo por aborto clandestino.

No Estado Espanhol, as manifestações foram massivas, mas menores que nos últimos anos. Reunindo cerca de 120 mil pessoas em Madrid, 50 mil em Barcelona e 20 mil em Sevilla, tinham como bandeiras a luta contra a desigualdade e a precarização do trabalho, e a defesa dos direitos imigrantes, contra as fronteiras capitalistas. Também nesse país, o Pan y Rosas esteve nas ruas defendendo a necessidade do movimento de mulheres aprofundar uma mobilização independente, debatendo contra as ilusões que a coalizão governamental do PSOE e Podemos alimenta em amplos setores do movimento, apontando como historicamente os direitos das mulheres foram conquistados nas ruas e não gabinetes governamentais.

Desde a agrupação internacional Pão e Rosas, estivemos presente nas manifestações em diversos outros países como Alemanha, EUA, Costa Rica, Venezuela, Peru, Uruguai e na Bolívia, lutando contra o golpe naquele país. Nosso feminismo socialista enxerga a luta das mulheres como parte da luta de classes, vemos em cada luta parcial que travamos contra a violência machista, a desigualdade e pelo acesso a direitos elementares como o aborto legal, em cada ato e manifestação que construímos, combates que são parte da luta pela nossa emancipação. Nossa luta contra o patriarcado está indissoluvelmente ligado a nossa luta contra o capitalismo, pois buscando transformar cada combate que travamos em um ponto de apoio para uma radical e verdadeira transformação social. Desde essa perspectiva estivemos presentes nos atos e seguimos construindo uma agrupação internacional em meio a emergência do movimento de mulheres em todo mundo.

No Brasil, os atos foram marcados pela luta contra Bolsonaro, que busca avançar em seu autoritarismo convocando a reacionária manifestação do dia 15, e pela luta por justiça para Marielle, uma semana antes de completar dois anos do seu brutal assassinato, que segue sem respostas. Desde o Pão e Rosas Brasil, juntamente com a juventude Faísca e o movimento Nossa Classe, construímos grandes blocos desde cada local de estudo e trabalho colocando no centro a luta contra Bolsonaro e as reformas, que vem sendo aprovada até mesmo nos estados governados pelo PT, na batalha por justiça para Marielle, e no combate a tentativa de controle sob nossos corpos, com a absurda campanha de abstinência sexual proposta pela ministra Damares Alves, defendendo o direito ao aborto legal seguro e gratuito.

Em São Paulo, Campinas e Mauá, nossos blocos tiveram na sua linha de frente às professoras que protagonizaram essa semana um importante combate contra a duríssima reforma da previdência aprovada por João Dória, tendo ao seu lado trabalhadoras e trabalhadores metroviários, funcionários da USP, bancários, entre outras categorias. Desde os Centros Acadêmicos da Letras e Educação da USP e da gestão minoritária do CACH Unicamp, organizamos as e os estudantes com blocos de cada curso. Em Belo Horizonte, nosso bloco foi marcado pela energia das estudantes da UFMG que lado a lado das educadoras da rede estadual e municipal em greve contra Zema e Kalil, mostraram a potência da aliança entre a juventude e a classe trabalhadora. Em Brasília, também fomos parte da marcha que reuniu milhares de mulheres de diferentes estados. Hoje estivemos novamente nas ruas no Rio de Janeiro com trabalhadoras da saúde, professoras e estudantes, em Porto Alegre juntamente com as e os estudantes das Artes da UFRGS e no Rio Grande do Norte, na luta contra a reforma da previdência da governadora Fátima Bezerra do PT.

Nos organizemos desde a base por justiça para Marielle e uma massiva paralisação nacional no 18M

Desde os diversos centros acadêmicos dirigidos pela juventude Faísca e independentes, viemos impulsionando uma grande campanha por #JustiçaParaMarielle, em unidade com outras entidades e organizações. Uma campanha construída desde a base, com diversas ações em cada universidade, buscando colocar no centro essa luta, pois não aceitamos que quase dois anos depois desse brutal assassinato seguimos sem respostas sobre quem mandou matar Marielle e Anderson. Um crime político, uma ferida aberta do golpe institucional, cujo Estado é responsável e não nos calaremos até conseguir justiça, como afirma Carolina Cacau:

“Sabemos que somente com uma grande mobilização conseguiremos impor a investigação e punição dos culpados seja efetivada, sem deixar que se naturalize que o Estado burguês pode seguir fazendo o que quiser com nossos mortos, até mesmo quando se trata de uma vereadora de esquerda. Discutindo também a necessidade de não termos nenhuma ilusão que sem uma investigação independente, que trabalhe em paralelo e controle todo o processo, será possível chegar a alguma verdade. Para nós, a investigação do Estado deve ser acompanhada e fiscalizada rigorosamente por uma investigação que seja independente, composta por defensores notórios dos direitos humanos, sindicatos, familiares, parlamentares do PSOL, movimentos sociais e todos aqueles que, ao contrário da polícia e do judiciário, não tem rabo preso com os capitalistas, com milícias e nem nenhum interesse em deixar impune alguém que matou uma parlamentar negra e de esquerda.”

Essa luta por justiça para Marielle é parte fundamental também da nossa luta contra Bolsonaro e as reformas. Enquanto a luta de classes emerge novamente em todo mundo, tendo as mulheres na sua linha de frente, em nosso país, estamos no polo mais reacionário desse novo momento internacional, onde Bolsonaro, ao mesmo tempo que se subordina totalmente aos interesses imperialistas do também misógino e reacionário Donald Trump, busca aprofundar seus planos autoritários contra nossos direitos mais elementares. Se a crise capitalista já produzia efeitos nefastos para a vida das mulheres, o colapso provocado pela queda no preço do petróleo e nas bolsas de valores mundo afora, deve ter um efeito ainda mais devastador na pífia recuperação da economia mundial, já bastante debilitada pelos impactos do coronavírus. No Brasil, isso vai significar um aumento ainda maior da pressão para a implementação de ajustes contra a classe trabalhadora e a população, como são as nefastas reforma da previdência e trabalhista. Ou seja, uma precarização ainda maior na vida de todos nós, especialmente das mulheres, negros e LGBTs.

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Para nós do Esquerda Diário, a força para combater cada um desses avanços autoritários de Bolsonaro e dos militares, mas também todo projeto de reformas e ajustes capitalistas que vem sendo implementado desde o golpe institucional, passa por apostar em nossa organização independente da classe trabalhadora, da juventude e dos movimentos sociais, se apoiando nesse crescente movimento internacional de mulheres. Nos organizando desde cada local de estudo e trabalho, com assembleias massivas, tendo nossos sindicatos e entidades estudantis como ferramentas para fomentar essa organização, construindo assim desde a base uma fortíssima luta por justiça para Marielle no próximo dia 14, e uma grande paralisação nacional no dia 18 de março. Batalhando para que essas demandas sejam tomadas pelas grandes centrais sindicais e estudantis como a UNE, a CUT e a CTB. Discutindo com cada jovem e trabalhador sobre como nosso desejo de colocar para fora Bolsonaro, precisa primeiro se materializar numa forte organização da classe trabalhadora, da juventude, dos movimentos sociais e de toda população, retomando nossos métodos históricos de luta, como são as greves e paralisações, para que possamos nos enfrentar com essa extrema direita e seus ataques.

Ou seja, debatendo em cada local de estudo e trabalho como nossa organização precisa passar muito longe da ideia que o PT vem semeando sobre a necessidade de uma grande “frente ampla pela democracia”, que inclua o grande articulador da reforma da previdência Rodrigo Maia, o STF, a Globo e toda imprensa burguesa, e acabaria colocando toda energia e disposição daqueles que hoje estão na vanguarda da luta contra Bolsonaro e as reformas, para alimentar ilusões naqueles que hoje disputam com Bolsonaro de qual forma vão implementar os ataques neoliberais. Da mesma forma, que o programa por uma frente popular, como setores do PSOL e da Unidade Popular (UP) vem defendendo, construída juntamente com o PT e o PCdoB, que aprovam a reforma da previdência nos estados onde governam demonstrando sua disposição para administrar esse degradado regime capitalista, ao mesmo tempo que traem importantes lutas operárias como foi na articulação do desmonte da greve petroleira. Uma frente popular que poderia ser aberta inclusive para partidos burgueses como PDT, PSB e Rede, ao contrário de unificar a classe trabalhadora e a população, vai na verdade nos dividir. Pois também significaria colocar toda a vanguarda disposta a lutar contra Bolsonaro e as reformas, amarrada a uma unidade sem qualquer independência de classe, sem dar nenhum combate para forjar uma força independente das burocracias que hoje impedem que a classe trabalhadora e a juventude, tendo na sua linha de frente as mulheres e os negros possam se colocar com um projeto alternativo capaz de se enfrentar com Bolsonaro e a miséria que os capitalistas querem nos impor.

Frentes desse tipo, ao invés de unificar a nossa classe, acabariam limitando nossas lutas aos objetivos meramente eleitorais, colocando como nosso objetivo principal eleger candidatos "progressistas" nas eleições municipais do fim do ano. Gerando a ilusão de que a grande tarefa da classe trabalhadora e da juventude, especialmente das mulheres, negros e LGBTs, é conquistar mais representatividade por dentro das regras dessa já degradada democracia burguesa. Invertendo a lógica, pois ao invés da participação nas eleições e as candidaturas estarem a serviço de fortalecer as nossas lutas, são as nossas lutas que se transformam em plataformas cujo o objetivo final é a eleição de representantes, valendo até mesmo alianças com aqueles que nos atacam com as reformas neoliberais, para tentar disputar alguns direitos por dentro das regras do jogo capitalista. Uma estratégia que em todo mundo, ainda mais diante da crise, já demonstrou diversas vezes como jamais pode atender os interesses dos trabalhadores e da população pobre e explorada. Por isso, nossa batalha é para que os ventos dos processos internacionais da luta de classes, que tem nas mulheres um protagonismo inegável, possa nos inspirar em nossa luta no Brasil, com seus exemplos de auto-organização como vimos no Chile, na França e agora na luta das mulheres no México, para emergir como uma alternativa a esse governo e os projetos de reformas capitalistas.

 
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