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ESPECIAL BRUMADINHO
Vítimas das barragens em risco: o fantasma do medo de rompimentos como o de Brumadinho
Leidilaine Galdino

No último ano, várias famílias deixaram suas casa por medo de rompimentos de barragens como a de Brumadinho.

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Após o crime socioambiental e humano em Mariana e Brumadinho, várias barragens de rejeitos da mineradora Vale foram notificadas por irregularidades e classificadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) em 3 níveis: o nível 1 significa que não há risco de rompimento; o nível 2 é acionado quando os aparelhos de monitoramento da estabilidade das barragens apresenta alguma inconsistência, e significa um alerta; o nível 3 é a classificação máxima, e significa um rompimento iminente da barragem.

Quatro barragens em Minas Gerais já estão no nível 3, nível máximo de risco de rompimento: a barragem Sul Superior em Barão de Cocais, a barragem B3/B4 da mina Mar Azul no distrito de Nova Lima conhecido como Macacos, e as barragens Forquilha I e Forquilha III em Ouro Preto. Desde então, a população dessas cidades não teve mais sossego, e passou por planos de autossalvamento e ouviram a sirene de alerta soar diversas vezes, causando horror e ansiedade cotidianas. As chuvas fortes que aconteceram na região recentemente redobraram o temor pelo rompimento das barragens.

A cidade de Barão de Cocais teve a primeira notificação de grau máximo de rompimento da barragem, chegando ao nível 3 da classificação. Dia 8 de fevereiro de 2019, quando a barragem Sul Superior atingiu o nível 2, as famílias tiveram que evacuar suas casas, levando poucos pertences, e foram levadas para quartos de pousadas e hotéis. Em 22 de março, a barragem Sul Superior atingiu o nível 3, e o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) soltou um comunicado que a barragem poderia se romper a qualquer momento entre os dias 19 e 25 de maio. Dia 18 de maio houve uma simulação de emergência na cidade que envolveu cerca de 1.600 pessoas.

A barragem não se rompeu, mas o medo permaneceu: além do risco de vida ao qual inúmeras famílias estavam expostas, o terror psicológico gerado pela situação alarmante instaurou um pânico geral na cidade. Quase 460 pessoas moram em pousadas para não ficarem em suas próprias casas. Segundo relatos da população, há um grande número de doenças se desenvolvendo, como depressão e fobias. As informações repassadas pela empresa Vale sobre os riscos à população são insuficientes, gerando um clima constante de insegurança e apreensão.

No dia 16 de fevereiro de 2019 a sirene de alerta tocava em outra cidade: São Sebastião das Águas Claras, região conhecida por Macacos, distrito de Nova Lima. Quase 300 moradores foram retirados às pressas após instabilidade comprovada da barragem B3/B4 da Mina Mar Azul. As últimas 48 horas de chuvas fortes na região levaram a deslizamentos de terra em lugares próximos da barragem. As chuvas também inviabilizaram as vias de acesso à região, por ter causado quedas de árvores e risco de deslizamento de terra, além de deixarem o asfalto em péssimas condições. Essas circunstâncias levaram a população a reviver o medo do rompimento ao mesmo tempo que se sentia ilhada, sem ter para onde fugir da cidade.

A Vale iniciou no ano passado uma obra de contenção dos rejeitos da barragem em caso de rompimento, um muro de 34 metros de altura. Enquanto a empresa diz que a obra está paralisada, a população denuncia que ela está, na verdade, abandonada pela empresa. Com o excesso de chuva, a contenção alagou quase completamente, com a água chegando às copas das árvores e ameaçando atingir o bairro Capela Velha, onde moram mais de 90 famílias.

Enquanto isso, a empresa Vale não ofereceu nenhum tipo de acompanhamento ou apoio nesse período de chuvas. Na entrada de Macacos, a placa de um bar fechado anuncia: “O sonho acabou, encerramos as atividades, não foi possível sustentar sem a participação dos turistas”. O que se vê nas duas cidades, Barão de Cocais e Macacos, é um profundo desalento da população e o abandono cruel da empresa Vale e do poder público. Com a rotina dos moradores completamente alterada, o turismo enfraquecido, e o futuro do comércio e da moradia na cidade em suspenso, a Vale mostra que o valor das suas ações no mercado interessa muito mais que a vida dos trabalhadores e da população. Enquanto sobreviver o capitalismo, vidas serão calculadas em favor do lucro.

 
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