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GOLPE DE ESTADO NA BOLÍVIA
Imagem de uma traição: o MAS de Evo e os golpistas negociaram sobre o sangue derramado
Eduardo Castilla

Os legisladores e as legisladoras do MAS deram a Áñez a legitimidade necessária para continuar o golpe.

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Jeanine Áñez e Eva Copa, presidenta do Senado e legisladora do MAS.

"Como posso dizer ao meu filho que o pai dele está morto? Os militares mataram-no como um cão.”

A mulher fala aos prantos. Ao lado dela, outra mulher mais velha olha para ela com a cara prestes a explodir. A sua raiva e tristeza parecem incontroláveis. Só há tensão na sala. É impossível não se mover, não sentir que o ódio ganha cada parte do corpo e chega através dos dedos ao teclado.

Ao longo da história, para impor seus interesses, as classes dominantes não tremeram no momento de exercer uma brutalidade evidente. Isto é conhecido pelo povo trabalhador da América Latina, que viveu múltiplas e reiteradas ditaduras ao longo do curto século XX.

Sob essa lente, é chocante — para dizer o mínimo — que algumas forças políticas argentinas venham hoje propor um "reaparelhamento" das Forças Armadas. Isso acontece ao mesmo tempo em que os militares se empoderam ou são empoderados em diferentes níveis na Bolívia, Chile, Colômbia ou Brasil.

As ações dos golpistas na Bolívia não são e não serão exceção a essa barbárie capitalista. Agora começa a se conhecer os testemunhos apresentados à Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH). A palavra desolador descreve precisamente o que se ouve ali.

Lá, diante das autoridades internacionais, María Cristina Quispe denunciou que "a Áñez diz que é transitória, mas veio para nos matar: uma bala destruiu o coração do meu marido". Juan José Tenorio Mamani tinha apenas 23 anos. Ele foi morto por balas da polícia (ou talvez militares) na terça-feira passada.

Diante dos olhos do mundo e das autoridades da CIDH, outra mulher testemunha que seu irmão almoçou com sua mãe e, quando ele saiu para trabalhar, foi baleado. O chumbo caiu do céu, dos helicópteros enviados contra a população de El Alto.

Aquela terça-feira, a polícia e os militares avançaram na multidão à volta da fábrica de combustível estratégico de Senkata. A lembrança da Guerra do Gás voltou à memória das classes dominantes. Aquele outubro quente de 2003, onde a população altenha foi parte dos combates que acabaram derrubando Sánchez de Lozada.

A Bolívia dos golpistas, a que proclama a "defesa das instituições", já tem mais de 30 pessoas assassinadas pela repressão desde aquele domingo, 10 de novembro.

A Bíblia, as cruzes e as balas. Todos juntos contra as maiorias indígenas, operárias e camponesas. Todos juntos em nome do livres mercado e de um país "unido" a força de tiros, torturas e assassinatos.

O sangue derramado

Uma tradição de luta dos explorados e oprimidos diz que não se negocia sobre o sangue derramado. Que os assassinatos de lutadores operários e populares não são moeda de troca, mas uma bandeira de luta.

Assim gritou um jovem altenho gritou há menos de uma semana. Assim o sentiram os milhares que o aplaudiram e saudaram.

Na última semana, a bancada do MAS pisou nessa tradição. Enquanto as balas caíam do céu sobre Senkata, deputados e senadores do partido de Evo Morales decidiram negociar com os assassinos do povo Altenho.

Para além de suas nuances "duros e suaves" legitimaram a autoproclamada "presidenta interina". Além das diferenças parciais, os e as parlamentares do MAS acordaram uma agenda eleitoral proscritiva com o regime repressivo do Murillo, Lizárraga e Añez.

Os assassinos do povo boliviano terão a agenda eleitoral reivindicada graças à colaboração da bancada do MAS, o chumbo lançado sobre Senkata e Cochabamba, e o endosso escandaloso de organizações como a OEA.

A direita boliviana só podia celebrar. A golpista Página SIETE informou que "Añez não apareceu desta vez na frente das câmeras cercadas por seu gabinete, os comandantes de polícia ou a liderança militar, mas da presidenta da Câmara de Senadores, Eva Copa, do partido de Evo Morales, o Movimento Para o Socialismo (MAS).

Em busca da calma da direita, Eva Copa se encarregou de confirmar que a sua cooperação está completa. Entrevistada pela mesma mídia, ela chegou ao ponto de afirmar que "as pessoas que violaram a lei terão que ser sancionadas de acordo, seja de um lado ou do outro".

Entre os que poderiam ter "violado a lei" estão Evo Morales e Álvaro García Linera. No MAS, a lealdade parece ser menor do que nas fileiras do peronismo.

O presidente derrubado não é alheio a esta pergunta. Apesar de denunciar a repressão golpista, do seu exílio reiterou os apelos à pacificação e evocou a figura de um diálogo impossível com a direita.

Nessa tônica seguem também os encontros entre o governo golpista e muitas das organizações sociais que respondem ou respondiam ao MAS. No sábado passado, o histórico Palácio Quemado assistiu a um encontro entre Áñez e o COB, o Csutcb, a Confederação dos Povos Indígenas do Leste Boliviano (Cidob), entre outros. Aí foi acordada a abertura de uma "mesa para a pacificação e reconciliação do país". Por detrás dos eufemismos está a disponibilidade dos líderes destas organizações para negociar.

Na semana passada, o povo heróico de Alteño demonstrou a sua vontade de lutar e a sua vontade de lutar contra o golpe da direita e do imperialismo. O banco MAS demonstrou o contrário. A foto compartilhada entre Áñez e Eva Copa - que encabeça este artigo - deixa clara essa realidade.

 
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