Frente à coração do golpe na Bolívia com a autoproclamação Jeanine Añez como presidenta interina da Bolívia, Bolsonaro foi um dos primeiros a reconhecer sua legitimidade. Também foi seguido por Guaidó, golpista venezuelano que andava sumido da política internacional. Trump, grande inspiração para essas duas figuras grotescas, foi além e ameaçou Venezuela e Honduras. Nesse sentido, uma luta consequente contra Bolsonaro deve ser também uma luta anti-imperialista.
Lambe botas. Não tem adjetivo melhor para descrever o papel que o Bolsonaro tem jogado na geopolítica latino-americana durante seu primeiro ano de governo. Com seu Ministro das “Alucinações” Exteriores Ernesto Araújo, o Itamaraty poderia trocar sua sede para a Embaixada Americana que pouca diferença seria sentida.
Desde as eleições, já eram evidentes as ligações de Bolsonaro com Trump, que inclusive tiveram suas campanhas organizadas pela mesma pessoa: Steve Bannon. Desde então o Brasil teve um alinhamento inaudito a política exterior trumpista. Já em janeiro, Bolsonaro se apressou para reconhecer o autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó, na sua falida tentativa de golpe. Nas eleições argentinas se proclamou claramente em apoio ao também lambe-botas americano Macri, ainda que o peronismo não represente uma força anti imperialista, como já fica evidente nas declarações do recém eleito Alberto Fernandez. Mais recentemente se posicionou contra os protestos no Equador e Chile, acusando o Foro de São Paulo de estar por trás das manifestações de as eleições na Argentina. Ainda por cima, como fato inédito na sua história recente, o Brasil se alinhou aos EUA na votação sobre o embargo cubano na ONU, votação essa em que o embargo foi condenado por 187 a 3, com apenas Brasil, EUA e Israel votando por manter.
Apesar de que durante os governos petistas o Brasil se mostrou bem disposto a prestar serviços internacionais ao imperialismo, como por exemplo nas operações de paz no Haiti, vemos aí um salto qualitativo nesse alinhamento no governo Bolsonaro. É provável que, desde a Proclamação da República, nós nunca tenhamos visto uma política externa tão alinhada ao imperialismo como assistimos esse ano com Bolsonaro.
Neste sentido, Bolsonaro se torna o principal agente e articulador da política golpista americana de Trump na América do Sul. O presidente americano, no entanto, foi além: disse que “Estamos mais perto de um hemisfério completamente democrático” e ameaçou Venezuela e Honduras. O apoio de Bolsonaro a golpes não é uma surpresa ninguém, visto inclusive que o mesmo é filho do golpe constitucional de 2016 no Brasil, que também tem dedo do imperialismo americano, nesta época sob a gestão de Obama.
Bom remarcar que esse golpe se deu num momento em que o cenário político mundial estava marcado pelo retorno da luta de classes, com seu ponto mais alto na América Latina com os levantamentos no Equador e Chile. Além disso, o cenário mundial também estava marcado por vários reveses da direita como a derrota eleitoral de Macri na Argentina, e as dificuldades que enfrentam Bolsonaro e Trump. O primeiro acaba de romper com seu próprio partido e também com derrotas como a soltura de Lula. Já o segundo enfrenta um processo de impeachment.
Neste marco de derrotas parciais, a consumação do golpe na Bolívia poderia ser uma vitória para a direita regional. Entretanto, para os planos de Trump e Bolsonaro, havia uma pedra no caminho: a luta de classes. Apesar da política de Evo e da direção do MAS (seu partido) de chamar o povo a aceitar o golpe, desde domingo começou a ocorrer focos de resistência, que terça, quarta e quinta se transformaram em mobilizações massivas protagonizadas pelos indígenas, que foram o alvo preferencial da direita racista. Uma derrota dessa investida reacionária pela via da luta de classes não apenas debilitaria ainda mais a direita regional, como também o próprio imperialismo americano, abrindo espaço inclusive para questionar toda a classe capitalista boliviana, com a qual Evo se conciliou durante todo seu período de governo. Desta forma, uma luta consequente contra Bolsonaro, os ataques da extrema direita e os golpistas precisa ter um caráter anti imperialista, que lute contra o imperialismo americano e seus agentes regionais. Nesse sentido, a bandeira contra o golpe na Bolívia é uma bandeira anti-imperialista que deve ser levantada fortemente por todos os explorados e oprimidos da América Latina!