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CONGRESSO DA CSP-CONLUTAS
4º Congresso da CSP-Conlutas: se aprofunda a crise fruto da política golpista do PSTU
Movimento Nossa Classe
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Dos dias 3 a 6 de outubro diversos trabalhadores, correntes e sindicatos da CSP-Conlutas se reuniram na cidade de Vinhedo para o seu 4° Congresso, em meio a grandes ataques à classe trabalhadora e à juventude, disputas e divisões entre setores da burguesia e do imperialismo, e sob o abalo de tragédias imensuráveis, como, por exemplo, o assassinato da menina Ágatha Félix no Rio de Janeiro e as densas queimadas na Amazônia.

Dias depois, no momento em que se escreve esse texto, a América Latina voltou a ser sacudida por uma nova onda de luta de classes, com mobilizações importantes da juventude e dos trabalhadores. Equador, Honduras, Haiti, atos no Uruguais, e principalmente a forte rebelião popular do Chile. A volta do protagonismo da luta de classes no cenário internacional escancaram que a extrema-direita, os ataques da burguesia e seus governos se colocaram na ofensiva, mas estão muito longe de poder comemorar fortalezas.

O terremoto Chileno nos coloca a urgência de pensar a construção de verdadeiras alternativas revolucionárias em todos os países e internacionalmente, para que processos tão importantes quanto esse não seja mais uma vez canalizado pelo reformismo conciliando com o regime. Os chilenos estão nos dando uma grande lição, apostar na luta da juventude em aliança com os trabalhadores, mas para avançar para um processo revolucionário que saia vitorioso é fundamental uma alternativa revolucionária, com independência de classe e que faça as analises dos processos políticos e da luta de classes a partir das ferramentas marxistas.

É esse cenário nacional e internacional indicam a importância com a qual a CSP-Conlutas precisava encarar os balanços e corrigir os graves erros políticos do último período, para estar à altura desses desafios. No entanto, a chance foi desperdiçada e o 4º congresso aprofundou a orientação política da central que converge com setores da direita golpista tanto no Brasil quanto internacionalmente, seguindo a linha do PSTU, direção majoritária. Esta crise profunda que a direção do PSTU tenta esconder a todo custo pode estar levando a CSP-Conlutas a uma falência estratégia. Entretanto, para o PSTU o que importava era reafirmar a sua própria militância sua linha política escandalosa de direita e sua arrogância em se bastar, condenando a central a ser apenas mais uma colateral partidária.

Sem independência de classe, a Conlutas cede por um lado ao golpismo e a direita e por outro às burocracias sindicais mais traidoras

É estarrecedor que passados 4 anos do golpe institucional no Brasil, que levou a ataques ainda mais brutais contra a classe trabalhadora, o PSTU insista em não rever sua posição e fazer um balanço duro por ter levado a frente a agitação “Fora Dilma! Fora todos!”, que naquele momento se colava aos setores que orquestravam o impeachment, não somente para atacar o PT, mas principalmente para seguir descarregando nos trabalhadores a crise econômica e política que o país passa desde 2013.

Reconhecer o golpe não é negar que o PT também atacou os trabalhadores em seus anos de governo, e usar isso como justificativa para uma política golpista é fazer os trabalhadores pagarem pela traição e política de conciliação de classes desse partido, que foi o que nos trouxe até o governo de extrema-direita. Hoje, no governo Bolsonaro, os ataques seguem passando cada vez mais profundos e esse é o único grande acordo de todas as frações burguesas e imperialistas que atuaram para implementar o golpe institucional, junto com a Lava Jato, o STF, as bancadas reacionárias do agronegócio e da bíblia, as grandes mídias e os partidos do centro e da direita do regime.

A Vaza Jato escancarou que para consagrar o golpe era necessária a prisão arbitrária de Lula, que naquele momento liderava todas as pesquisas de intenção de votos. Moro e os ministros do STF protagonizaram uma das maiores manipulações eleitorais que o país já passou, prendendo Lula e invalidando o voto de milhões de pessoas. Essa foi a eleição que levou Bolsonaro a presidência do país. Pós Vaza Jato, o que o PSTU conseguiu mudar em seu discurso foi incluir que é necessário um julgamento justo, mas sem dizer claramente por qual via, e assim alimentando algum nível de confiança na justiça burguesa, e não defendendo uma saída independente, como julgamento por júri popular para os crimes de corrupção.

O congresso votou resoluções da tese do PSTU reafirmando o apoio da CSP-Conlutas ao golpe de 2016, bem como se negou a reconhecer a necessidade de levantar a liberdade imediata de Lula, sem que isso signifique qualquer apoio político ao PT, e denunciar o avanço e o salto de qualidade que o regime conseguiu nos últimos anos contra os direitos democráticos e a vida dos trabalhadores.

Se por um lado a CSP-Conlutas não teve uma posição firme contra o golpe institucional, argumentando que isso seria defender o PT, por outro lado, optou por não denunciar as inúmeras traições nos últimos anos das grandes centrais sindicais, entre elas a CUT dirigida pelo mesmo PT. A CSP-Conlutas se recusou a denunciar em seus materiais, discursos e nas bases das categorias o que as cúpulas das centrais sindicais (UGT, Força Sindical, CTB, CUT, etc.) já anunciavam, e Paulinho da Força teve a coragem de dizer no ato do 1º de Maio, que negociariam pela retirada de apenas alguns pontos da reforma da previdência. A Conlutas chegou ao cumulo de assinar o balanço positivo da última greve geral, junto com os que a enterraram. No caso da capitulação às grandes centrais, o PSTU foi linha de frente, mas não foi o único, já que a recusa em denunciar a traição que se avizinhava foi defendida em diversos momentos por outras correntes como MES, CST e Resistência, em nome de uma pretensa unidade, que nunca chegou nas bases das categorias.

O resultado é a aprovação do maior de todos os ataques, sem que a Conlutas tenha aparecido como uma alternativa aos trabalhadores. Ao contrário, os poucos que ouviram falar da central entenderam que é mais uma em meio a tantas que falam de unidade, mas somente para as reuniões superestruturais e caminhões de som, sem atuar para uma real unidade de ação no chão dos locais de trabalho e estudo.

O PSTU e os setores que assinaram as resoluções aprovadas no congresso que são contrários a esses dois principais balanços da situação nacional, mais uma vez colocam a CSP-Conlutas numa situação bastante insustentável, espremida entre o golpismo e a direita, e a capitulação contundentes às grandes burocracias sindicais. Seguem, na prática, com uma política sem independência de classe, inofensiva ao governo e as burocracias sindicais e impotente frente aos desafios de organização da classe trabalhadora, ainda mais no atual contexto de inúmeros assassinatos nas periferias, pacote anticrime de Moro, queimadas na Amazônia e as disputas internas das alas da burguesia, que todos os dias estampam as capas dos jornais.

A CSP-Conlutas fechou o 4º Congresso em enorme crise caminhando para uma falência estratégica e se distanciando da possibilidade de ser parte da construção de uma alternativa real e de esquerda para os trabalhadores. É impensável que frente ao ressurgimento da luta de classes na América Latina e em outros países pelo mundo, seja essa a linha para fortalecer a classe trabalhadora e a juventude.

Venezuela e a posição pró imperialista da majoritária da CSP-Conlutas

A cegueira política do PSTU não é inocente, mas bastante consciente e exige grande esforço e malabarismo teórico para justificar os erros políticos não só no Brasil, mas também em diversos conflitos internacionais, como no Egito, Ucrânia e mais recentemente no caso da Venezuela. A linha de apoio incondicional aos movimentos “anti-governos” liderados pelas direitas nacionais e o imperialismo levou o congresso da Conlutas a votar o absurdo “Fora Maduro” para o conflito na Venezuela, sem delimitação alguma com a direita continental e com o imperialismo trumpista. E, mais uma vez, a independência de classe se torna palavras ao vento para a CSP-Conlutas. Na prática, essa resolução só reafirma o posicionamento que a Conlutas e o PSTU vieram agitando, mesmo no auge do intento golpista em fevereiro deste ano, ou seja, levantando o “Fora Maduro!” ao mesmo tempo e junto aos EUA, que tentava avançar no seu plano imperialista. Junto com o PSTU, outras correntes como Combate (CST) também votaram por seguir sem encarar de frente as tarefas prioritárias para o momento, ou seja, rechaçar o golpe imperialista na Venezuela, sem apoiar o regime autoritário de Maduro.

Parte das posições contrárias a essa resolução aprovada, como Resistência, acabaram defendendo uma proposta que não encara a luta contra o golpe de Guaidó e Trump de forma completamente independente, por não incluir a perspectiva uma perspectiva para os venezuelanos que passe por vencer o golpe, visando se fortalecer para a luta contra a pobreza e contra o autoritarismo de Maduro. Acabam por apoiar o regime de Maduro de forma acrítica.

Seguindo a mesma linha que levou a defender o golpe institucional no Brasil, o 4º congresso da Conlutas não serviu para votar as tarefas prioritárias que os trabalhadores precisam levar internacionalmente, entre elas se posicionar claramente contra o golpe imperialista na Venezuela de Guaidó, a direita continental e o imperialismo. Reconhecer a urgência de combater o golpe na Venezuela, sem prestar apoio político ao regime bolivariano, que é responsável por ter conduzido o povo venezuelano a um cerco.

Por isso, reafirmamos: Fora imperialismo da Venezuela e da América Latina! Precisamos lutar por uma saída política dos trabalhadores para a Venezuela e para a unidade socialista da América Latina!

Congresso de “tese guia” e a burocratização da central

O aprofundamento dos erros políticos veio acompanhado de um grande salto nos métodos burocráticos dos debates e votações, que não privilegiaram a defesa e discussão democrática das distintas posições existentes dentro da central. A forma que o congresso foi conduzido, votando tese contra tese e não as resoluções em separado, é a prática do fato consumado, a prática da aprovação apenas da tese guia do partido hegemônico da Conlutas, o PSTU.

Para as correntes minoritárias, restou poucos minutos para tentar defender suas resoluções, que foram votadas contra a tese da majoritária, ou seja, para garantir que fossem rejeitadas.

Mesmo propostas como a campanha pela liberdade de Preta Ferreira, ativista do movimento de moradia, presa em SP pelo governo Doria, ou a intensificação da campanha pela legalização do aborto, frente a ofensiva permanente do governo Bolsonaro e os setores mais reacionários do país contra os direitos das mulheres, foram sumariamente rejeitas para que se votasse apenas a tese do PSTU e seus apoiadores.

Esse é o mesmo caminho percorrido pela CUT no seu processo de burocratização, o método das teses guias, sem a possibilidade de se debater ponto a ponto de todas as teses, votando apenas a tese majoritária. Os mesmos métodos que a própria Conlutas rechaçou em seu nascimento, hoje são implementados para assegurar que não se expresse a crise e esvaziamento que a central vem enfrentando, e que aumenta paulatinamente por conta de seus erros políticos e a linha que impede a construção de uma alternativa real e independente para os trabalhadores.

Frente aos desafios nacionais e a luta de classes na América Latina, a Conlutas não serve

Por diversas vezes alertamos nas reuniões das coordenações estaduais e nacionais que os erros do PSTU estavam levando a Conlutas a seu estancamento. Hoje não só ficou evidente o estancamento, como já podemos alertar sobre os grandes retrocessos. O congresso foi mais uma grande oportunidade perdida de se fazer os balaços necessários para a superação desses problemas. Nesse caso, a superação da tese do golpe como ruptura progressista das massas com o petismo e a defesa da unidade por cima com as cúpulas das burocracias sindicais, sem críticas e exigências, que em nada se assemelha a frente única operária defendida por Trotski.

Ao não corrigir sua orientação, a CSP-Conlutas aprofunda sua crise e deve seguir retraindo, escancarando que não está à altura das necessidades da juventude e das massas operárias. Os números de delegados e observadores inferiores aos congressos passados são consequência da política desastrosa do PSTU. Sindicatos e correntes políticas se posicionaram publicamente pós congresso, indicando que começam a discutir a continuidade ou não na central, consequência da manutenção dos erros políticos e os métodos burocráticos. Esse é o caminho consciente que a Conlutas está optando por seguir.

O papel que a Conlutas vem cumprindo é de política auxiliar da direita, fomentando o avanço do autoritarismo judiciário e do regime, e faz isso quando não reconhece que a prisão de Lula significa um ataque aos direitos democráticos mais básicos dos trabalhadores. No próprio congresso vimos falas dos militantes do PSTU que poderiam ter sido pronunciadas por militantes do MBL no ápice do golpe. Também não é com verborragia contra as batalhas parlamentares, para se diferenciar de forma vazia do PSOL, e com sectarismo com os movimentos sociais como o MTST, levará uma política mais consequente.

Viemos alertando, desde que o processo de golpe institucional foi iniciado, que a capitulação ao golpismo levaria o PSTU e a Conlutas na mesma trincheira que Bolsonaro, o agronegócio, militares, Lava Jato e todo o judiciário. A ausência de uma analise marxista dos sujeitos que dirigem os processos políticos levam o PSTU a dar os braços para os setores mais reacionários do país e virar as costas para a independência de classe. Já o oportunismo de apertos de mão e abraços nas reuniões de cúpulas com as centrais sindicais mostram o sindicalismo vazio e rasteiro que a central segue se afundando.

A lutas no Chile, Equador, Haiti, Honduras, Catalunha, Líbano deixam claro o retorno da luta de classes, abrindo novas perspectivas para a construção de uma esquerda revolucionária, anticapitalista, operária e internacionalista. Com essa política, a CSP-Conlutas não poderá cumprir um papel de vanguarda na organização dos trabalhadores e coloca para a esquerda um grande debate sobre os sindicatos e as centrais sindicais.

* Foto Romerito Pontes

 
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