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FUTEBOL
Bahia joga com camisa suja de óleo contra crime ambiental capitalista
Eduardo Luiz
Mônica Silva Dias
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Escutamos várias vezes a frase futebol não é apenas um jogo, o Esporte Clube Bahia é um grande exemplo de que essa frase faz muito sentido. Tem ainda quem diga que futebol não se discute, mas o técnico do Bahia dá uma lição de que futebol se discute e ainda tem contribuições sobre a realidade nacional.

Na noite de ontem (21) o Esporte Clube Bahia entrou em campo com sua camisa manchada de petróleo, para protestar contra o vazamento que contaminou várias praias do nordeste brasileiro. Enquanto o governo não toma nenhuma medida, o Bahia decidi ir a campo protestar contra essa Barbárie.

Atitudes como estas devem ser destacadas. Vivemos um momento na história do país onde o presidente do Brasil, mostra e dá legitimidade para expressões de racismo, machismo e LGBTTfobia, reforçando um discurso de ódio alimentado pelas elites. Mas o Esporte Clube Bahia se posiciona na contramão desse discurso reacionário, fazendo valer os holofotes dos campos no combate ao preconceito e a opressão.

Quando o assunto é futebol, não podemos negligenciar a existência de um processo de elitização entoado na busca pelo consumo. Essa busca expressa-se fortemente no processo de comoditização e não raramente é difundida como condição inerente à sobrevivência de um clube. Esse processo evidencia-se ainda em crescimento cada vez maior do que convenciona-se chamar de “consumo pela paixão” . Segundo essa definição, torcedores acabam colocando-se como dispostos a comprar os mais diversos produtos para expressarem sua paixão pelo clube e auxiliar na promoção do mesmo.

Guilherme Bellintani que assumiu a presidência do Esporte Clube Bahia em 2018 não apenas reafirmou a existência dessa falácia, como se colocou na contramão ao priorizar estratégias que visavam a reaproximação do time com sua torcida (amplamente constituída pela base popular) e ao afirmar que é possível trabalhar uma mudança na realidade por meio do esporte. Condutas como a criação de um Núcleo de Ações Afirmativas e revisão dos preços (camisetas, ingressos e sócio torcedor) marcam o caminho escolhido para essa reaproximação.
Contra o racismo no futebol e no país

Todos nós já ouvimos que as afinidades aproximam as pessoas, nesse caso estamos falando de um técnico e um time, em abril de 2019 após a demissão de Enderson Moreira, o Esporte clube Bahia contrata o técnico Roger Machado, que vem fazendo um ótimo trabalho com o time dentro e fora de campo. Mostrando que para bater um bolão é necessário debater o futebol e combater os preconceitos.

No dia 12 de outubro no jogo contra o Fluminense, Roger e Marcão, os únicos técnicos negros na primeira divisão do futebol nacional, Marcão pelo Flu e Roger pelo Bahia, entraram em campo com camisas estampando a frase “chega de preconceito”. Mas o melhor ainda estava por vir, no final do jogo na entrevista coletiva Roger Machado fez um discurso em que disse: “ Na medida em que temos mais de 50% da população negra e a proporcionalidade que se representa não igual, eu acho que a gente tem que refletir e se questionar, se não ah preconceito no Brasil, porque que os negros conseguem ter um nível de escolaridade menor que o dos brancos, porque a maior população carcerária 70% dela é negra, porque os jovens negros são os que mais morrem no brasil, porque os menores salários entre brancos e negros, são o dos negros?”

Em sua fala cheia de dados, com uma base teórica riquíssima, denunciou o racismo estrutural, cobrou igualdade de oportunidade para os negros e refutou o mito da democracia racial no país.

confira no vídeo completo

Na mesma semana, no dia 15 de outubro, ao falar sobre a surpresa gerada pela repercussão nacional a que sua fala foi submetida, Roger afirmou ser um “ativista político dentro do futebol” e que entende o esporte como uma “ferramenta de transformação social”. O técnico ressaltou ainda que a Bahia e o Bahia o ajudou e possibilitou para que tivesse coragem e condições para dar a declaração inicial e que estava feliz de estar no Clube.

Campanhas do Time com Enderson Moreira a frente

Em abril de 2019 o Esporte Clube Bahia homenageou os nativos brasileiros e apoiou a reivindicação por território na companha“Não tem jogo sem demarcação”. Além disso, em suas redes sociais levantou a hashtag #DemarcaçãoJá, seguida da seguinte mensagem: “Nossa partida é a nossa luta. Nossas vidas estão em disputa. É preciso cumprir a regra. Sem demarcação, não tem jogo”. O clube ainda estampou as camisas dos jogadores com nomes de indígenas em jogos contra Londrina, pela Copa do Brasil, e Bahia de Feira, pela final do Campeonato Baiano.

A Bahia, estado com a maior população indígena do Nordeste, tem sido palco de violentos conflitos por terra nos últimos anos. Em novembro de 2018, 490 famílias da etnia tuxá foram ordenadas a desocupar uma área tradicionalmente habitada pela comunidade – o Tribunal de Justiça do Estado suspendeu a liminar até o julgamento da ação. Bolsonaro declara guerra aos indígenas e quilombolas, atacando comunidades e intervindo contra a demarcação de Terras e com repressão, mais uma vez aí o Bahia se coloca ao lado do povo diferente do governo.

No último dia dos pais o Esporte Clube Bahia fez uma campanha conjunta com a defensoria pública do estado da Bahia contra o abandono paterno, em um país onde abortar é um crime hediondo para a mulher e o abandono paterno não se é discutido, no Brasil, hoje são cerca de 5,5 milhões de crianças que não possuem o nome do pai no registro, combinada a campanha o clube também disponibilizou teste de DNA de graça na loja do Esquadrão dentro da Fonte Nova.

O futebol brasileiro é fortemente marcado pela homofobia, percebemos isso pelos gritos da torcida a cada tiro de meta do time adversário, times como São Paulo que sempre foram alvos da homofobia, com xingamentos (bambis, bichas, veados) para ofender e depreciar o time. Pensando em combater a homofobia nos estádios, no jogou que ocorreu no dia 15 de setembro deste ano o Clube se tornou o único no cenário brasileiro a impulsionar publicamente uma campanha contra a LGBTfobia, trocou as tradicionais bandeiras do escanteio, sempre das cores do time, pela bandeiras do orgulho LGBT e colocou no ar uma linda campanha #LevanteBandeira que pode ser conferida nesse link juntamente com o comercial emocionante.

O Esporte Clube Bahia mostra o caminho que os demais clubes devem tomar, para além das quatro linhas dos gramados. BAHÊA! BAHÊA! BAHÊA!

 
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