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EDITORIAL MRT
Construir um movimento estudantil combativo e revolucionário: por entidades militantes contra Bolsonaro e os ataques
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG
Vitória Camargo

A juventude mostrou sua força contra Bolsonaro nas grandes manifestações dos dias 15 e 30M. É necessário construir um movimento estudantil combativo e revolucionário lutando para retomar os centros acadêmicos (CAs) e diretórios centrais dos estudantes (DCEs) para a mão dos estudantes.

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A juventude mostrou sua força contra Bolsonaro nas grandes manifestações dos dias 15 e 30M. Entretanto, enfrentam também as direções burocráticas do movimento estudantil, como o PT e PCdoB que atuam para impedir que se desenvolva essa força e separá-la dos trabalhadores. A maior parte da esquerda, como o PSOL, convive pacificamente com essas direções e não se colocam como uma alternativa clara que batalhe por um plano de lutas. É no marco desta situação concreta que é necessário construir um movimento estudantil combativo e revolucionário lutando para retomar os centros acadêmicos (CAs) e diretórios centrais dos estudantes (DCEs) para a mão dos estudantes. A Juventude Faísca - Anticapitalista e Revolucionária, composta por militantes do MRT e independentes atua nessa perspectiva.

Completando-se cerca de 10 meses do governo Bolsonaro é inegável que a juventude se mostrou como o principal pólo de resistência aos ataques em curso. As grandes manifestações do 15M e 30M apareceram como um respiro diante de tanta misoginia, racismo, LGBTfobia, ataques aos trabalhadores e à educação, por parte desse governo de extrema-direita. Entretanto, depois dessas grandes manifestações, qual foi a continuidade de um plano de luta real para derrotar os ataques? É muito importante debater isso uma vez que vemos que a energia de milhares de jovens termina sendo utilizada por essas direções, de ato em ato, muitas vezes sem continuidade, e isolados, sem ser parte de um plano de luta concreto, coordenado, organizado. Isso ficou evidente com o que foi o 57º Congresso da UNE que jogou no lixo a oportunidade de organizar milhares de jovens de todo o país para enfrentar de forma unificada os ataques de Bolsonaro, não somente à educação mas também à reforma da previdência. Longe disso, prevaleceram os interesses por "cargos" enquanto ali mesmo em Brasília se aprovava a cruel reforma da previdência. Em seguida, Bolsonaro anunciou o Future-se, que avança com seu projeto privatista e entreguista nas universidades, milhares de cortes nas pesquisas e vem intervindo na escolha de reitores nas universidades.

Ainda que o governo venha amargando uma série de derrotas e em uma crise aberta com a Lava Jato, não podemos esquecer que há toda uma outra ala do regime político, que foi também parte do golpe institucional, e que apesar de uma roupagem mais "democrática" estão ali prontos para garantir que todo o plano do golpe institucional seja implementado até o final. Estamos falando de Rodrigo Maia, Dias Tóffoli e tantas outras figuras que buscam se postular como "oposição" a Bolsonaro para poder aplicar os ajustes. É neste cenário que volta a cena a questão da prisão arbitrária de Lula, a necessidade de lutarmos fortemente por sua liberdade mas sem prestar nenhum apoio político ao PT. Na realidade, justamente mostrar como o PT vem sendo um freio nas direções do movimento operário e da juventude para desenvolver uma luta que possam defender nossas liberdades democráticas, os direitos dos setores oprimidos mas que possa fazer frente a todo o plano de ajustes que está em curso, que foi justamente negociado pelas burocracias sindicais. Não esquecemos, por exemplo, que o novo presidente da UNE se reuniu com o Ministro Weintraub sabe-se lá para discutir o que e que os governadores do PT no Nordeste apoiam a Reforma da Previdência e estão negociando com Maia a entrega histórica do pré-sal na cessão onerosa.

Enquanto entregam nosso futuro, as últimas jornadas convocadas pela UNE mostraram o enorme problema que sua política de trégua com o governo Bolsonaro e aposta na estratégia parlamentar rumo a 2020 e 2022 gera ao movimento estudantil. Hoje isso se expressa de forma aguda no isolamento da greve da UFSC, que resiste há semanas enquanto a UNE ignora que esteja acontecendo. A despeito da posição pública do DCE da universidade contrária à greve, dirigido tanto por setores da majoritária da UNE (PT) quanto pela Oposição de Esquerda (Afronte e UJC), os estudantes decidiram mais uma vez por sua continuidade em ampla maioria. Por que a UNE não colocou todo seu aparato, imprensa, diretores a serviço de uma enorme campanha de solidariedade à greve da UFSC para que essa luta se amplie, massifique e se coordene nacionalmente? Por que a UNE não se apóia na energia e disposição dos que estão à frente da luta contra Bolsonaro para fazer disso um fato nacional que contagie outras universidades e a classe trabalhadora?

Porque isso não tem nada a ver com a estratégia que lhes importa nesse momento: sob um discurso de que "a luta contra os ataques na educação serão a longo prazo" querem descomprimir o foco de resistência que a juventude expressou contra Bolsonaro e capitalizar isso a longo prazo eleitoralmente, transformando a desmoralização e ceticismo em "imposição da situação" e não consequência, também, de sua política de paralisia e contenção da luta da juventude. A esquerda, em especial as correntes do PSOL, ao não se colocaram na perspectiva de ser um contraponto a essa política da direção terminam encobrindo essa estratégia pela esquerda, como o exemplo da UFSC expressa bem. Neste momento, chamamos toda a Oposição de Esquerda a fazermos uma ampla campanha de solidariedade pela greve da UFSC a partir de cada DCE e CA que dirige, colocando no centro a necessidade de nacionalizar e massificar essa luta.

Hoje o papel da UNE é simplesmente do dia para noite "convocar um dia de luta" e nada mais, sem organizá-lo pela base, sem construir milhares de assembleias. A não existência, por exemplo, de um comando de delegados eleitos pela base após a explosão das manifestações do 15 e 30M são uma mostra contundente de que a UNE quer usar a juventude como massa de manobra - ou como "números" nas manifestações - e não como sujeito ativo no enfrentamento a Bolsonaro, o que somente poderia se efetivar com a auto-organização dos estudantes tomando as rédeas da luta em suas mãos. Somente assim, a força da base estudantil e da juventude poderia impor a essas direções que parem de negociar nosso futuro e frear nossa luta: ao contrário, que apresentem um plano de luta concreto para que a massa de estudantes que ainda enxergam na UNE uma alternativa possam fazer experiência com essas direções.

É no marco dessa situação concreta que consideramos que toda a juventude que se levantou precisa debater com qual estratégia e com qual programa vão atuar para que nossa energia não seja canalizada eleitoral ou institucionalmente. Para que nossa força possa impor um movimento massivo que realmente enfrente os ataques que estão em curso, impedindo a divisão que querem nos impor. A batalha para retomar as entidades estudantis nas mãos dos estudantes, para que sejam ferramentas de luta contra os ataques em curso é uma batalha fundamental para construir um movimento estudantil combativo e revolucionário. Não podemos mais ter entidades que são corporativas, que não debatem os grandes temas políticos do país e que são aparelhadas por burocracias sindicais que impedem a nossa luta. Precisamos retomar as entidades nas mãos dos estudantes e transformá-las em organismos militantes para impulsionar a auto-organização dos estudantes frente a todos os ataques.

É nesta perspectiva que nós do MRT junto a independentes que impulsionamos a Juventude Faísca e atuamos nas entidades, como na gestão reeleita do Centro Acadêmico de Serviço Social na UERJ, no curso de Teatro da UFGRS, na APG UFRJ e como parte do CACH-Unicamp. É por entidades militantes contra Bolsonaro e seus ataques que estamos participando das eleições do DCE da UFMG, elegemos delegados ao Congresso de Estudantes da UFRN e vamos nos próximos meses aprofundar essa batalha.

Por isso levantamos a necessidade de uma ampla discussão com todas as correntes de esquerda e, diferente de todos os outros anos, queremos construir amplas convenções democráticas que possam debater qual programa o movimento estudantil deve levantar nesse momento. Partindo de que um movimento estudantil para ser combativo deve se colocar na perspectiva de luta contra o golpe institucional e pela liberdade de Lula sem prestar apoio político ao PT, defendendo a proporcionalidade das entidades, um programa radical que passa pelo fim do vestibular e estatização das universidades privadas e batalhando pela auto-organização dos estudantes e sua necessária aliança com a classe trabalhadora. Essas batalhas devem estar a serviço de construir um movimento estudantil combativo, pró-operário, anti-burocrático e revolucionário, lutando não somente contra os ataques na educação mas em defesa da juventude trabalhadora que hoje se encontra nas bicicletas e motos da Rappi, UberEats, entre outros, mas também nas fábricas, telemarketing, lutando contra toda a precarização do trabalho bem como enfrentando a reforma trabalhista e a reforma da previdência, por um movimento estudantil que se enfrente contra o massacre da juventude negra por justiça a todas as Ágathas assassinadas pelo Estado.

Para nós da Faísca, isso significa resgatar o marxismo revolucionário, o que está diretamente contraposto a tradição stalinista que até hoje confunde as novas gerações com o que de fato é a estratégia da revolução socialista.

Chamamos todos os jovens a construírem conosco a Faísca e batalhar por essas ideias.

 
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