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No CO, conselheiros da USP se posicionam contra os ataques à educação e em defesa da autonomia universitária
Redação

Desde as eleições do final do ano passado, fruto do golpe institucional e do avanço do autoritarismo do judiciário que impôs uma correlação de forças mais à direita na situação nacional, a educação e o desenvolvimento do conhecimento de conjunto - e as Universidades em particular - passam por momento de ataques sem precedentes, tanto no âmbito econômico quanto ideológico.

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Enquanto o governo Bolsonaro corta bolsa da CAPES e CNPQ e reduz em 30% o repasse de verbas para as Universidades federais, intervindo em algumas instituições na escolha indireta do Reitores, no Estado de São Paulo os deputados da base do governo Dória (PSDB) instauram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no início do ano buscando impor um controle ideológico sobre as Universidades, com o discurso de eliminar um suposto “aparelhamento da esquerda” dentro das estaduais paulistas.

Só no último mês foram encaminhados para as Reitorias da USP, UNESP e Unicamp requerimentos absurdos buscando patrulhar as atividades de pesquisa científica, os eventos filosóficos e ideológicos e as atividades políticas realizadas na Universidade e seus organizadores, buscando fazer um mapeamento seletivo do que deve ser permitido e incentivado, do que deve ser coibido e reprimido.

Na 998ª sessão do Conselho Universitário da USP a defesa da autonomia universitária e a denúncia desses ataques à educação foi parte da fala de praticamente todos os Conselheiros que se pronunciaram. O Reitor da USP, Prof. Dr. Vahan Agopyan abriu a sessão “agradecendo o apoio que [está] tendo como Reitor, na situação que estamos vivendo no momento (...) estamos com um objetivo comum e (...) sendo realista, o sistema universitário brasileiro é forte o suficiente para aguentar esses trancos (...) a CPI das Universidades continua caminhando, só espero que não tenhamos nenhum dissabor no relatório final. Toda informação que eles solicitam nós repassamos, (...) nós não temos nada a esconder e damos as informações necessárias”.

Na sequência, a Diretora da Faculdade de Farmácia, Profa. Dra. Primavera, ao tomar a palavra para apresentar o cronograma de comemoração de 120 anos da Faculdade de Farmácia da USP, fez questão de remarcar “a preocupação e indignação (...) com a situação do país no que tange os ataques à ciência ,educação, cultura e autonomia das universidades [diante de ] uma possibilidade real de desmonte e de que voltemos décadas no avanço do conhecimento”.

Também ao menos sete estudantes das poucas dez cadeiras de representação que possuem no espaço do Conselho Universitário fizeram questão de vincular a necessidade de enfrentar a CPI das Universidades como parte de enfrentar os ataques do governo Bolsonaro à educação, como o Projeto Future-se e o corte de bolsas. Felipe Faria, estudante da FFLCH reafirmou que “o que os deputados querem hoje é o contrário do que a gente defende [que é] uma universidade pública, que é uma universidade que tenha retorno para a população, que o que eles [deputados] querem é uma universidade que tenha retorno para benefícios privados, dos grandes bancos, das grandes empresas, que nossa produção de conhecimento científico seja de benefícios individuais e privados”.

Maria Luiza, estudante da ECA, lembrou a Reitoria da importância do papel dos estudantes na luta contra esse retrocesso, o que “coloca como centro do debate a defesa das entidades estudantis e dos seus espaços estudantis, isso significa defender que o corpo estudantil tenha liberdade para se auto-organizar e promover a resistência como promoveu em períodos anteriores da nossa história como foi na ditadura e como está sendo agora com as ondas e tsunamis da educação que mostram a contrariedade a esse projeto de retirada do direito à universidade pública”.

O representante da Escola Politécnica, Prof. Dr. Marcelo Zufu, fez um alerta em nome da Congregação da EP, da SBPC e da Academia Brasileira de Ciências a respeito do corte das bolsas da CNPq dizendo que “na história da ciência brasileira trata-se de um retrocesso sem precedentes”, e que a Escola Politécnica aprovou uma moção de apoio à CNPq sobre a qual já havia sido recolhida quase 1 milhão de assinaturas.

Por fim, os representantes dos trabalhadores remarcaram a necessidade de que a Reitoria não aceite se submeter às exigências descabidas vindas desses deputados. A Diretora do SINTUSP Neli Wada reforçou a batalha que o sindicato tem dado para demonstrar o significado político reacionário dessa CPI dentro da categoria “porque muitas vezes os trabalhadores são tão reprimidos dentro dessa Universidade que quando tem uma CPI dessas eles querem ir lá (...), e aí nós tivemos um trabalho muito importante até aqui pra explicar o que significa essa CPI, porque nós também estamos juntos [nessa batalha]” e o Diretor Adriano Favarin enfatizou a necessidade de desmascarar o discurso demagógico desses deputados, colocando a Universidade realmente a serviço dos interesses da população que hoje se encontra “impossibilitada de acessar seus cursos por causa do filtro racial e social do vestibular, (...) de frequentar suas áreas de lazer por causa dos muros e portões que a separam da comunidade, (...) que não vê o conhecimento desenvolvido aqui dentro ser aplicado, por exemplo, contra a fúria predatória dos recursos naturais, como vimos recentemente na Amazônia (...) de ter acesso aos serviços de extensão, como as creches, a escola de aplicação e o Hospital Universitário devido à política de desmonte dos serviços iniciada pela gestão Zago.”

O Reitor da USP, Prof. Dr. Vahan Agopyan chegou a fazer um discurso bastante exaltado para dizer que não cumpriria um papel de agente das forças obscurantistas que querem acabar com o livre-pensar dentro da Universidade e que “nenhum evento que seja organizado por diversos órgãos, professores, alunos, funcionários nós temos controle e não vamos ter controle. Não vamos ter controle. Inclusive [eventos] político-partidários que ocorrem aqui dentro. E ocorrem mesmo, [como] ocorreram semana passada na Faculdade de Direito”.

Essa confluência na necessidade de defender a Universidade Pública e sua autonomia didático-científica reforçam a proposta feita pelo representante dos trabalhadores, Adriano Favarin, de que “os Reitores organizassem um ato político aberto em defesa da autonomia universitária, na Praça do Relógio, chamando toda a comunidade a se manifestar e discutir a autonomia universitária e seus rumos, a partir de uma Assembleia Universitária com a liberação das aulas e dos serviços. (...). Isso sim seria um recado bastante forte para esses setores retrógrados, que demonstraria uma Universidade viva, pulsante e que debate entre toda a sua comunidade os rumos de sua autonomia, como ela deve ser e a serviço do que ela deve estar.”

 
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