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MASSACRE XENÓFOBO
O ódio e o racismo imperialista por trás do massacre brutal em El Paso
Juan Andrés Gallardo
Buenos Aires | @juanagallardo1

Neste sábado os Estados Unidos sofreu o ataque contra a população latina mais brutal de sua história recente: 20 pessoas morreram e outras 29 ficaram feridas durante um tiroteio protagonizado por um jovem branco com as mesmas ideias supremacistas, racistas e de ódio apoiadas por Donald Trump.

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Patrick Wood Crusius, um jovem branco de 21 anos, viajou mais de mil quilômetros em um carro para ir de Dallas à cidade fronteira de El Paso para protagonizar, durante a manhã de sábado, o maior massacre contra hispânicos na história moderna dos Estados Unidos.

A apenas 20 minutos de começar o massacre, o atirador havia publicado em um fórum utilizado por supremacistas brancos um manifesto recheado de declarações de ódio contra os imigrantes, latinos e muçulmanos. Em uma delas, se referia à imigração como uma “invasão” que coloca em perigo os EUA como nação.

Nove meses antes, o presidente Trump utilizava esse mesmo termo para se referir aos imigrantes. “Isso é uma invasão em nosso país!”, advertia Trump, enquanto colocava mais 5 mil militares na fronteira. Este discurso voltou a ser repetido a alguns meses atrás, quando exigiu do México que “ pare a invasão” De imigrantes vindos da América Central (algo que o "progressista" mexicano López Obrador aceitou sem hesitar, militarizando a fronteira sul e perseguindo os migrantes da américa central que foram expulsos dos Estados Unidos).

A retórica supremacista, racista e de ódio de Trump, quem em várias ocasiões, se refere aos imigrantes como ladrões, assassinos e narcotraficantes, está por trás de dezenas de ataques deste tipo que, no caso de El Paso, teve sua expressão mais brutal.

Não é por acaso que o assassino escolheu El Paso, uma cidade de 680.0000 habitantes, binacional e bilíngue, com 85% da população sendo hispana, que vem sendo o centro da perseguição de Trump em seus ataques aos imigrantes e, por final, no estado do Texas, onde se encontram muitos centros de detenção onde são presos aqueles que vêm fugindo, desesperados, da situação de miséria e pobreza de seus países, gerada justamente pelas políticas aplicadas pelos Estados Unidos na região.

Aqueles que conseguem superar a repressão, a fome, o frio e as redes de tráfico, e chegam aos Estados Unidos, acabam sendo detidos em verdadeiros campos de concentração, onde as crianças são separadas de suas famílias e vivem em condições de superlotação sem camas, chuveiros ou condições mínimas de higiene. Outros nem isso conseguem e morrem nas mãos da Patrulha da Fronteira.

No último mês foram reportadas as mortes de pelo menos 10 imigrantes sem documentos na fronteira do Arizona, Novo México e Texas, entre eles uma mulher e três crianças, cujos corpos foram encontrados no limite da fronteira do Novo México, assim como uma menina de 7 anos vinda da Índia e que morreu no Arizona.

O Manifesto de 2.300 palavras, publicado pelo assassino de El Paso, está recheado de ódio contra os imigrantes e os hispanos. “os hispanos tomaram o controle dos governos local e estatal do meu amado Texas. (...) se podemos nos livrar de uma quantidade suficiente de gente (...) nosso modo de vida estará mais assegurado”.

“Este ataque é uma resposta à invasão de hispanos no Texas. Eles são os culpados, não eu. Estou simplesmente defendendo o meu país da substituição cultural e étnica provocada por uma invasão”, escreveu o assassino, utilizando a chamada teoria da grande substituição, difundida entre os supremacistas brancos.

O ataque, se somando ao novo tiroteio levando à fatalidades e que ocorreu menos de 24 horas depois em Dayton, Ohaio, Trouxe à tona novamente um debate nacional sobre o porte de armas no país. Entretanto, a multiplicação dos crimes de ódio espalhados por todo o país tem crescido, mostrando que esses casos estão longes de serem executados por “loucos” soltos, como veio justificando Trump, uma ou outra vez nos últimos anos.

Desde que assumiu, Trump não fez mais do que radicalizar uma política que não é marca exclusiva do presidente ou dos republicanos, mas também dos democratas, como mostra o fato de que o ex presidente Obama deportou mais imigrantes no seu primeiro mandato que o atual mandatário. O racismo e a xenofobia são, na prática, institucionais.

Entretanto, Trump busca conseguir com a polarização social aguda o que não pode mediante uma hegemonia política própria. Assim, o ataque às minorias começou desde o primeiro dia com as tentativas de proibir a entrada de viajantes de países de maioria muçulmana, com os anúncios permanentes da construção de um muro de ódio contra os migrantes, com a negação do racismo contra afro-americanos vindo de supremacistas e, ultimamente, com ataques diretos a um grupo de quatro deputadas de origem latina, afro-americano ou de religião muçulmana, dizendo que elas devem “ voltaram para seus países”.

Toda essa situação vem para fortalecer e radicalizar a prática que os Estados Unidos, como principal potência imperialista, leva adiante dia após dia assassinando, massacrando e executando guerras e ocupações contra distintos países e povos ao redor do mundo. Frente a este brutal massacre contra a população hispânica no interior dos Estados Unidos, Trump, pela primeira vez, falou de ódio e supremacia, mas insistiu em apontar para o responsável como um "louco" e aproveitou a oportunidade para voltar ao cargo com a reforma migratória. Os democratas, por sua vez, os mesmos que votaram para manter a polícia de imigração e, em sua maior parte, não se opõem à construção do muro, mais uma vez insistem que o problema é o controle de armas.

Sem dúvidas, o sistema de venda de armas nos Estados Unidos, extremamente liberado e controlado pelo lobby da supremacista Associação Nacional do Rifle, merece um debate profundo, mas seria hipocrisia não buscar a raiz do problema central da multiplicação deste tipo de ataque. Os responsáveis estão do outro lado, e são tanto o partido republicano como o democrata.

As guerras e ocupações que o EUA levam adiante em todo mundo, reivindicando massacres, torturas e campos de concentração clandestinos, além do uso de tecnologia como drones para o assassinato massivo de populações civis (que bateram recordes no governo Obama), se somam uma série de avanços no racismo e na militarização a nível interno.

Os assassinatos sistemáticos de afro-americanos pelas mãos de policiais brancos, que levaram à revoltas em várias cidades e a conformação do movimento do Black Lives Matter, foi uma amostra, durante o último mandato de Obama, de que o racismo institucional nos Estados Unidos é uma questão de Estado e que não havia diminuído, e sim aumentado com a chegada do presidente afro-americano na Casa Branca.

A isso se soma a militarização extrema da polícia local, com números absurdos de apetrechos de guerra que as empresas armamentistas viram como um grande negócio. Esta hiper militarização se converteu em um organismo de controle e repressão interna como se viu não somente durante as revoltas contra o assassinato de afro-americanos, mas também na mobilização de órgãos durante catástrofes naturais, que tem como primeira ordem a de cuidar da propriedade privada frente a possibilidade de saques.

A política de “guerra do lado de fora e vigilância do lado de dentro”, “em defesa da democracia estadunidense”, penetra profundamente uma sociedade imersa na crise social e na decadência. Trump não fez mais que aprofundar a polarização de um império em decadência, que busca cada vez mais bodes expiatórios entre as minorias para reforçar sua própria base social.

A brutalidade destes ataques, como um salto dessa retórica, deve colocar todos os jovens, trabalhadores e movimentos sociais da região em estado de alerta, começando pelos da América Central, México e pelos milhares de jovens que nos últimos anos, no interior dos Estados Unidos, começaram a simpatizar com ideias socialistas, ainda que contraditórias, mas que rechaçam essas políticas e ataques e que têm a enorme tarefa de colocar na luz do dia um grande movimento anti-imperialista que dê esta batalha no interior desta besta que é a principal potência do mundo.

 
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