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CRISE POLÍTICA
Porto Rico: As ruas derrubaram o governo. E agora?
Claudia Cinatti
Buenos Aires | @ClaudiaCinatti

Após 12 dias de mobilizações massivas e uma greve geral nacional, o governador de Porto Rico renunciou ao cargo. Como se configura a relação de forças entre o regime colonial e as ruas?

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Ricardo Roselló anunciou sua renúncia ao cargo de governador de Porto Rico, o que se efetivará no dia 2 de agosto, quando ele entregará o cargo. Ele tentou resistir, ganhar tempo, sustentou por 12 dias a enorme pressão da rua, mas sua sorte já estava lançada. Sem aliados nos Estados Unidos, sem apoio interno nem de seu próprio partido - o Partido Novo Progressista - nem dos empresários da ilha que sentiram o perigo de mobilização, e com a ameaça de enfrentar um julgamento político no Congresso, suas opções haviam se esgotado.

Ele será sucedido pela atual Secretária de Justiça, Wanda Vázquez Garced, já que o Secretário de Estado que seguiria a linha sucessória também renunciou devido ao famoso #Telegramgate. Vázquez, que pertence ao partido de Roselló, é muito questionada além de ter sido respingada por escândalos de corrupção. A princípio, deveria permanecer no cargo até 2020 quando termina o atual mandato. Porém, a realidade atual em Porto Rico é muito distinta do que determina a constituição. A substituição por Vázquez parece uma saída provisória e fraca. Se de fato assume, encabeçará um governo altamente debilitado para enfrentar o desafio das ruas.

A primeira coisa a dizer é que Roselló foi expulso por uma rebeliãoque se tornou imparável. O ponto mais alto e determinante foi, sem dúvidas, a jornada da última segunda-feira, 22 de julho, com uma greve geral massiva e o bloqueio da principal rodovia da capital, San Juan. Neste sentido, teve um caráter histórico. Ocorreram outras lutas emblemáticas, desde as rebeliões anticoloniais até as mais recentes contra a utilização imperialista do território pelos Estados Unidos, ou contra os planos de ajuste e privatizações. Mas é a primeira vez que um governador e derrubado pela mobilização popular desde 1947, quando os porto-riquenhos começaram a votar as autoridades locais.

E mesmo que os noticiários focaram nas personalidades famosas, os protagonistas decisivos foram os centenas de milhares que tomaram as ruas: jovens sem futuro, estudantes que vêem suas escolas e universidades em perigo, trabalhadores, vítimas do furacão María, enfim, as massas trabalhadoras e populares.

No entanto, a enorme espontaneidade que a grande maioria da castigada população de Porto Rico exibiu nos últimos dias é tanto sua fortaleza quanto sua vulnerabilidade. Com a renúncia de Roselló, o processo entra em uma nova etapa.
Os partidos que administram o regime colonial - o Partido Popular Democrático e o Partido Novo Progressista - junto com os republicanos e democratas nos Estados Unidos tentarão restabelecer a ordem e limitar o alcance do protesto à renúncia de Roselló e de seu governo corrupto.
Além disso, Roselló renuncio, mas a Junta de Supervisão Fiscal, integrada por banqueiros de Wall Street para garantir o pagamento da dívida pública, permanece. E mais, não parece inteirada da turbulência que a cerca. Segundo declarações à imprensa de um de seus assessores, o ajuste e a responsabilidade fiscal é mandato da Junta, não de qualquer que seja o governo em serviço.

A persistência dos protestos mostra a profundidade de suas causas. Porto Rico está em recessão econômica há mais de uma década, desde que, sob o governo de Bill Clinton, os Estados Unidos decidiram acabar com o regime de isenção de impostos para empresas que, sem esse privilégio, deixaram a ilha. A crise de 2008 e o furacão María fizeram o resto. No fundo, o que está em jogo é o status colonial de Porto Rico.
Roselló chegou ao governo como um representante do setor “anexionista” da elite porto-riquenha, que defende que a solução é liquidar qualquer pretensão de autodeterminação nacional e se integrar completamente nos Estados Unidos, transformando-se no estado 51. Para conseguir isso, estava fazendo lobby com parlamentares do partido Democrata.
A outra metade, representada pelo Partido Popular Democrático, sustenta a atual ficção de “Estado livre associado”, como se houvesse um pacto de igual para igual entre Porto Rico e o imperialismo norte-americano.

Trump tem aproveitado a crise e a enorme negligência do governo Rosselló para justificar sua política racista e anti-imigrante. Mas os democratas, que eram aliados até ontem de Rosselló, não estão muito atrás. Sem ir muito longe, a Junta de Supervisão Fiscal foi criada pelo Congresso dos EUA sob a presidência de Obama. Nos Estados Unidos há um acordo bipartidário entre republicanos e democratas e ambos sustentam uma política imperialista em relação a Porto Rico. Ambos os partidos são responsáveis por coletar fundos de ajuda frente às catástrofes naturais que chegam a conta-gotas aos porto-riquenhos. A população porto-riquenha nos Estados Unidos, que soma mais de 5 milhões, só vale a eles como clientela eleitoral.

A rebelião de julho colocou em evidência que Porto Rico é uma colônia, com um autogoverno limitado, sem soberania e submetido economicamente ao capital imperialista. Nenhum dos partidos de elite local, que são carne e unha em relação ao establishment dos EUA, têm outra alternativa para oferecer além de aprofundar essa dependência. Portanto, a renúncia de Rosselló é a vitória de uma batalha, mas não é o fim da guerra a qual os poderosos declararam aos trabalhadores e setores oprimidos de Porto Rico e de toda a América Latina.

 
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