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ENTREVISTA
"A Oposição da UNE deveria organizar plenárias em todos estados para exigir um plano de luta", diz Flávia da Faísca
Redação

O Esquerda Diário entrevistou Flávia Telles, estudante de Ciências Sociais da UNICAMP e militante da Juventude Faísca, sobre as tarefas da Oposição de Esquerda da UNE depois do Congresso da maior entidade estudantil da América Latina.

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ED: Durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), a Juventude Faísca interveio pela necessidade de unificar a luta nas universidades, em defesa da educação, com o principal ataque do governo Bolsonaro contra a classe trabalhadora, que é a Reforma da Previdência. Como você enxerga essa ligação?

FT: O Conune começou com a aprovação em primeiro turno na Câmara de um grande ataque aos trabalhadores e à juventude, atingindo principalmente as mulheres, negros e LGBTs, a serviço do qual sabemos que foi levado adiante o golpe institucional, a prisão do Lula e elegeram Bolsonaro. Depois o CONUNE terminou com o anúncio do “Future-se”, um projeto que nada mais é que uma escalada privatista do ensino superior e de sucateamento das universidades públicas, um enorme ataque à juventude trabalhadora que consegue furar o filtro social e racial do vestibular e ingressar em uma graduação, geralmente sem políticas de assistência para permanecer ocupando uma vaga até o fim do curso, com um desemprego alarmante que nos obriga a trabalhar para empresas como Rappi, Ifood, Uber, etc.

Assim, os ataques à educação e à classe trabalhadora estão intimamente ligados, já que são parte do mesmo projeto da burguesia para descarregar a crise sobre nós. Não à toa, a questão da necessidade da “autonomia financeira” nas universidades, como pretexto para avançar com as OSs e com a privatização, chegando à possibilidade de pagamento de mensalidades, foi anunciada neste momento, com o governo fortalecido pela aprovação em primeiro turno da Reforma na Câmara.

É por isso que nós da Faísca viemos desde o dia 15 de Maio dizendo que nossa luta deveria ser uma só e que a juventude, para derrotar a perspectiva dos capitalistas contra nosso futuro, tem que batalhar pela unidade com a classe trabalhadora. Fomos parte de fazer ecoar o grito “queremos estudar sem trabalhar até morrer”, porque sabemos que é muito mais árdua a batalha em defesa da educação se a Reforma passa, assim como não descolamos o projeto de educação do projeto de país em curso.

Entretanto, não foi essa a política levada pela UNE. Pelo contrário, o que vimos desde o dia 15, passando pelo 30 e também pelo 14 é que tanto a UNE quanto as centrais sindicais, como a CUT e a CTB, que são entidades dirigidas pelo PT e PCdoB, na realidade fizeram de tudo para dividir nossas lutas. Não só chamaram dias separados contra os cortes na educação e contra a Reforma da Previdência, como buscaram impedir espaços da juventude e da classe trabalhadora para que tomássemos a luta nas mãos, e assim essa linha de nos separar seguisse. A questão é que, enquanto isso, seus governadores no Nordeste apoiam a Reforma da Previdência, e as centrais vieram negociando com Rodrigo Maia a partir de seus próprios interesses - o mesmo Rodrigo Maia aliado da UJS na Câmara. Ou seja, a energia da juventude que se mostrou com toda força nas ruas e que poderia ter também se transformado em uma grande paralisação nacional no dia 14, se a classe trabalhadora tivesse tido espaços de base para se organizar, não foi canalizada por uma perspectiva para vencer. Por isso, dizemos que a UNE e as centrais sindicais estão entregando nosso futuro, com a Reforma da Previdência andando.

O próprio Conune, o primeiro congresso nacional de estudantes no governo Bolsonaro, poderia ter sido histórico, mas na verdade serviu para dar continuidade a essa política de separação, quando, pelo contrário, a juventude deveria estar buscando todas as formas de contagiar a classe trabalhadora, que sempre sente mais o peso das derrotas e das traições, de que é preciso lutar e de que temos força para vencer, porque justamente a classe trabalhadora brasileira é uma gigante que coloca medo nos capitalistas. Nós jovens temos que querer essa aliança e denunciar a burocracia que nos divide.

ED: E como você está vendo o dia 13 de Agosto?

Então, por um lado, eu acho que novamente a UNE e as centrais estão chamando como mais uma data formal de calendário, sem nenhum interesse em qualquer unificação ou espaço de base, como assembleias e reuniões, mesmo frente ao avanço da Reforma da Previdência e com o anúncio do “Future-se”. Mas, por outro lado, eu acho que é nosso papel denunciar e batalhar contra isso.

Nós que sempre vemos a oposição a Bolsonaro no Congresso se valendo da estratégia da obstrução parlamentar nas votações, que é a tentativa de impedir a realização das votações para ganhar tempo, também temos que ver que, na realidade, isso faz sentido na medida em que os combates estão sendo preparados com a força do movimento estudantil e operário. O PT e o PCdoB se valem dessa estratégia. Mas o que poderia ser de grande serventia a todos os que repudiam a Reforma não é usado para preparar uma luta séria, e sim para seus cálculos estritamente eleitorais. Até mesmo a bancada parlamentar do PSOL acaba encobrindo essa estratégia desses partidos, que também estão na direção das principais entidades de massas do país, porque não denunciam a falta de um plano de lutas.

Por isso nós da Faísca viemos desde o CONUNE fazendo um chamado à toda a Oposição de Esquerda (PSOL, PCR e PCB) para que desde lá chamassem uma Plenária Unificada, cujo centro não fossem os cargos da direção da UNE em si mesmos, mas a melhor política para o movimento estudantil. Nós votamos criticamente na chapa da Oposição de Esquerda à direção, mas achamos que essa Plenária não ter acontecido foi um grande erro, já que todas as organizações que se colocam no campo de oposição à majoritária da UNE deveriam se dar o desafio de construir uma força social contra esse divisionismo intencional que prepara nossa derrota.

Por isso, como parte do que deveria ser nossa verdadeira preparação ao dia 13, achamos que a Oposição deveria chamar plenárias em todos os estados, com o objetivo de reunir toda a juventude que está vendo aonde está nos levando essa política da burocracia da UNE, que acoberta as centrais sindicais, para construir uma força que exija um plano de luta para vencer. É essa articulação que chamamos de polo anti-burocrático no movimento estudantil nacional. Por exemplo, em minha universidade, o DCE é dirigido pelo PSOL. Fortaleceria a luta dos estudantes se o DCE, organizando os estudantes a partir de assembleias desde a volta às aulas, encampasse a necessidade de uma plenária como essa no estado de São Paulo, chamando as outras organizações e entidades estudantis que querem se contrapor à traição da UNE e das centrais a discutirmos e votarmos uma exigência à UNE pela necessidade de um plano de lutas, que passe pela unificação e pela construção do dia 13 pela base.

Nesse processo, nós da Faísca levantaríamos a necessidade de um programa anti-imperialista e que faça com que sejam os capitalistas a pagarem por essa crise, porque não podemos aceitar todas as mentiras e fake news que nos vendem para garantir os lucros dos patrões.

Acompanhe live do Esquerda Diário com Flávia e João, estudante da USP, nesta quinta

 
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