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BARBÁRIE CAPITALISTA
Quem são os jovens que têm suas vidas arrancadas pelos lucros da Rappi, Glovo, IFood e Uber?
Redação
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Thiago Dias, 33 anos: morreu trabalhando, sem receber sequer pronto socorro da Rappi. O motoboy, que dedicava cerca de 12 horas diárias ao App, sofreu um AVC em horário de trabalho e a sua morte poderia ter sido evitada, segundo indicam os médicos que ao final o atenderam. Mas sua morte não foi evitada, devido à negligência e a falta de assistência mínima da empresa, que foi informada da situação pela usuária e por outros entregadores, no momento em que Thiago ainda estava consciente, mas não fez absolutamente nada para ampará-lo. Tratado como um simples veículo de entrega, que só vale se está gerando lucro, Thiago teve sua vida retirada pelo trabalho ultraprecário.

Leia mais: Rappi: trabalho precário causa mais uma morte em São Paulo

Essa história é revoltante e escancara a falácia do trabalho fácil e inovador propagandeada pelas grandes plataformas de aplicativo. Nas suas palavras: “O Uber Eats é uma empresa que oferece oportunidades a profissionais autônomos que podem se beneficiar da tecnologia para gerar renda extra ao toque de um botão”. A Rappi também diz: “A flexibilidade permite que esses profissionais usem a plataforma da maneira que quiserem e de acordo com suas necessidades. Não há relação de subordinação, exclusividade ou cumprimento de cargas horárias.”(grifos nossos). Propagandas tão atraentes quanto falsas, na realidade esse novo e crescente trabalho esconde jornadas de mais de 12 horas diárias, ausência de folgas remuneradas, de seguro desemprego, atendimento a acidentes, manutenção das ferramentas de trabalhos e mais um longuíssimo etc.

Numa entrevista realizada pela BBC News Brasil, que ouviu no período de uma semana dezenas de trabalhadores de aplicativos na cidade de São Paulo, é possível traçar um perfil destes jovens. A ampla maioria está neste tipo de trabalho devido ao desemprego (que atinge mais de 30% dos jovens de 18 a 24 anos, incluindo jovens com diploma de Ensino Superior). Sobre duas rodas, muitos desses jovens não têm condições financeiras de ter uma motocicleta como instrumento de trabalho e recorrem às bikes. Passam cerca de 10 horas ou mais em regiões ricas da cidade, onde a demanda pelo serviço é maior. Isso significa que muitos precisam pedalar até 30 Km para ir e 30 Km para voltar às regiões periféricas onde moram, o que, somado à quilometragem pedalada durante as entregas, chega a totalizar 80 Km rodados de bike por dia. O que leva à mais brutal contradição: em plena era do Smartphone e suas promessas ao toque de um botão o trabalho dessa juventude depende absolutamente de seu esforço físico, um esforço enorme e que não acontece sem consequências, como também demonstra o caso de Thiago.

Além da ausência de quaisquer medidas da CLT ou de quaisquer compromissos por parte das grandes donas da rede de aplicativos em relação ao Estado e aos seus empregados, os entregadores passam por situações extremas todos os dias, com o objetivo de formar um salário ao final do mês, que fica muito abaixo do previsto para atender as necessidades essenciais de uma família. É comum dormirem nas ruas, em parques ou praças, durante curtos intervalos, para conseguirem cumprir com os horários específicos onde mais tem demanda pelas entregas. Também é comum receberem em horários menos movimentados cerca de R$1,50 por entrega, não importando o quanto tenha que pedalar ou em quais condições. Este trabalho moderno está tão bárbaro como os primórdios do desenvolvimento das forças produtivas na origem do capitalismo, séculos atrás. E isso é assim, não porque haja qualquer paradoxo, mas porque por trás de cada corpo e mente que empenha suas energias em fazer o máximo de entregas possível está o lucro de um punhado de capitalistas que não trabalham, mas vivem dessa exploração. Não há “autogerenciamento” do trabalho, ele é regulado pelo frio cálculo do lucro. E essa realidade não tem fronteiras, esses exploradores estão distribuindo suas grandes mochilas coloridas em diversos países do mundo, assim como estão expondo esses trabalhadores à acidentes e os matando, odiosamente o caso de Thiago Dias não é único e nem exceção.

É patente dessa exploração desumana o depoimento dado à BBC pelo motoboy André dos Santos, 30 anos: "Quem tem disposição realmente consegue ganhar dinheiro. Mas tudo o que acontece depende de você: se cair e se machucar, você está sozinho; se chover e não trabalhar, não ganha nada. Se morrer, ninguém vai pagar o seguro para sua família, ninguém vai ligar para sua mulher". Esse é o presente e o futuro que os capitalistas querem reservar à juventude, morrer trabalhando, ultra explorado, sem direitos trabalhistas e previdência. E a isso se combina, como uma luva e com os mesmos objetivos, os ataques neoliberais que desde o governo golpista de Temer vieram tentando nos impor goela abaixo.

A precariedade dos aplicativos tem seu respaldo no intenso desemprego e na Reforma Trabalhista, além da Reforma da Previdência, em vias de ser aprovada no Congresso. Enquanto a juventude perde a vida pedalando para não passar fome, Bolsonaro e os políticos da ordem, com a aprovação do Judiciário, aplaudem a uberização do trabalho como modernização, a tal carteira de trabalho “verde e amarela”. E estes mesmos sanguessugas dos trabalhadores seguem dóceis diante das dívidas bilionárias que os bancos e grandes capitalistas possuem com as contas do Estado, assim como garantem o pagamento da fraudulenta e ilegítima dívida pública e coloca teto nos serviços que deveriam atender a população para conferir o direito à saúde, educação, moradia etc. A juventude e os trabalhadores precisam organizar sua revolta para enfrentar essa barbárie capitalista. São eles ou nós.

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