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MOROGATE
Por que The Intercept não divulga tudo o que tem?
Thiago Flamé
São Paulo

Informações tão importantes como as conversas entre os procuradores da lava jato e juiz Sergio Moro, que podem influenciar os rumos do país, não podem depender dos obscuros interesses de um bilionário dos EUA.

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O The Intercept é um site financiado pelo bilionário do eBay, Pierre Omidyar, que despeja bilhões do dólares e projetos de mídia pelo mundo, ajudou a política dos EUA de “revolução laranja” na Ucrânia, está por trás dos vazamentos do “Panama Papers” e está sentado nas informações do WikiLeaks. Informações tão importantes como as conversas entre os procuradores da lava jato e juiz Sergio Moro, que podem influenciar os rumos do país, não podem depender dos obscuros interesses de um bilionário dos EUA.

As primeiras revelações das conversas entre Sérgio Moro e Dallagnol comprovam o que já era sabido por muitos, que a operação lava jato é uma operação política que envolve procuradores, juízes e ministros do STF. Pela primeira vez o juiz Sérgio Moro e a lava jato foram colocados na defensiva, no lugar dos acusados e não dos acusadores.

Segundo Glenn Greenwald, o jornalista também dos EUA que comanda o The Intercept no Brasil, o que foi revelado até agora representa uma pequena parcela do total de informações coletadas nos celulares de Sergio Moro e dos procuradores da lava jato. A tática do jornal que se coloca como independente é ir fritando Sergio Moro aos poucos… até quando?

Existe sempre a expectativa de que os próximos vazamentos podem ser bombas ainda maiores. É natural que isso deixe satisfeitos milhões de jovens e trabalhadores que nutrem um ódio bem justificado contra Sergio Moro, a lava jato e todos os interesses antinacionais e antipopulares que eles representam. Porém não podemos deixar de questionar que, até agora, ainda que criem uma grande dor de cabeça ao juiz chefe da lava jato, as conversas divulgadas não têm o poder de questionar de conjunto a operação que foi o pilar do golpe institucional, da prisão de Lula e da vitória de Bolsonaro em eleições manipuladas, e revelam somente a ponta do iceberg da trama que foi tecida nos bastidores dos tribunais e nos gabinetes de políticos e empresários para avançar contra os direitos do povo brasileiro.

Também não podemos deixar de questionar quais são os interesses por trás do The Intercept, que não são o da busca da verdade, de um jornalismo independente ou de um combate desinteressado ao golpe institucional e à entrega do país aos EUA. Se assim fosse, por que não sistematizar e publicar tudo o que tem? A questão é que, como Glenn Greenwald já declarou mais de uma vez, The Intercept não é contra a lava jato e o conjunto de interesses multinacionais por trás da operação. Num vídeo compartilhado pelo próprio Dallagnol, em um evento em Vancouver, uma premiação por “combate a corrupção” em que a lava jato foi homenageada e Glenn Greenwald discursou, ele afirma: “o que podemos dizer sobre a força tarefa brasileira, a lava jato, é que eles definitivamente não foram perfeitos, mas que foram guiados por princípios e muito persistentes. E eles são realmente dedicados a essa ideia, de que eles querem mudar a sociedade de um modelo sistematicamente corrompido para um em que a lei prevalece, não importa se você é um garoto negro e pobre da favela ou um oligarca absurdamente rico (…) eu acho que eles encarnam muito bem essa virtude (…) ser dedicado a mudar o mundo”.

Em entrevista ao programa Pânico na Joven Pan, depois de ter acesso às conversas, reafirmou sua admiração à Lava Jato e criticou Moro: “o poder subiu à cabeça dele”.

A tática de desgastar Moro aos poucos converge com essa avaliação da lava jato. The Intercept apoia, ou apoiou, a lava jato até certo ponto. Até quando ela servia para mudar o “modelo” de sociedade – mas sempre a mudança da lava jato foi uma ferramenta a serviço dos interesses econômicos e geopolíticos dos EUA, para avançar na privatização da Petrobras e todas as estatais que restaram, e acabar com qualquer margem de autonomia, ainda que relativa e submissa, que o Brasil teve na sua política internacional durante o lulismo. É impossível saber ao certo qual é o jogo do bilionário do eBay que financia o The Intercept, como pode se relacionar com as disputas nos EUA e sua relação com o complexo tabuleiro político brasileiro, nem até onde estão dispostos a divulgar o que têm em mãos.

Mas temos o direito, junto a toda população brasileira, de saber o que mais escondem os procuradores e os juízes da Lava Jato.

O interesse da juventude e da classe trabalhadora brasileira que estão vendo o governo Bolsonaro com o apoio da Lava Jato, por um lado, e o Congresso e o STF por outro, avançarem como um rolo compressor sobre os seus direitos, seria que todo o conteúdo das conversas entre os promotores do golpe institucional fosse divulgado o quanto antes.

O enfraquecimento da lava jato e o direito do povo de ter acesso às informações, precisam levar a um fortalecimento da luta da juventude e da classe trabalhadora contra a reforma da previdência, os cortes na educação e todos os ataques. Não são os vazamentos seletivos ou as negociações promovidas pelo PT para discutir pontos da reforma que poderão derrotar os ataques de Bolsonaro, mas sim a mobilização unificada de estudantes e trabalhadores.

 
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