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MORO E DALLAGNOL
Trocas de Moro e Dallagnol: articulação pelo golpismo e reformas em nome do imperialismo
Rafael Barros

As trocas divulgadas pelo The Intercept entre Moro e Dallagnol revelam e comprovam o que muitos já sabiam: a articulação política entre a Lava-Jato, a 13ª Vara de Curitiba e os procuradores do MPF em pról do golpismo e das reformas neoliberal. Tudo isso em nome de seus laços com o imperialismo dos EUA.

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A revelação feita pelo portal The Intercept, de conversas ilegais entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol na articulação da operação Lava-Jato, o assunto tomou conta do país. As matérias do The Intercept revelam diversas trocas entre o ex-magistrado e Dallagnol, as duas principais figuras da Lava Jato e seu autoritarismo desde o golpe. Entre as conversas, debates de estratégia de atuação, “dicas” e pistas ilegais, e uma coordenação entre ambos, que mostra também os interesses diretos da Lava-Jato e do autoritarismo judiciário com as reformas e ajustes neoliberais.

Aqui vamos mostram um compilado das trocas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol.

As claras articulações entre Moro e Dallagnol, a 13ª Vara de Curitiba e o MPF

Numa das conversas, Dallagnol busca Moro sobre a soltura e prisão de Alexandrino Alencar, ex-executivo da Odebrecht, para avaliarem se conseguem manter o executivo preso, articulando em conjunto a estratégia de operação.

“Caro, STF soltou Alexandrino [Alencar, ex-executivo da Odebrecht]. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e pediremos prisão com base em fundamentos adcionais na cota. [...] Seria possível apreciar hoje?” Escreveu Dallagnol.

A resposta de Moro seguiu desta forma: “Não creio que conseguiria ver hj. Mas pensem bem se é uma boa ideia”. E seguem, minutos depois, com dica de Moro ao procurador do MPF: “Teriam que ser fatos graves”.

Num dos outros diálogos, Moro deixa mais do que evidente o como o juiz, na época da 13ª Vara de Curitiba, e o MPF se articulavam com as operações.

“O que acha dessas notas malucas do diretório nacional do PT? Deveriamos rebater oficialmente? Ou pela ajufe?” A mensagem de Moro é de 27 de fevereiro ao seu comparça do MPF, mostrando a clara coordenação entre o juiz e Dallagnol na condução das operações. Dias antes, em 21 de fevereiro, Moro também já conversava com o MPF cheio de dedos na operação: “Olá Diante dos últimos. Desdobramentos talvez fosse o caso de inverter a ordem das duas planejadas”, muito provavelmente mencionando fases da operação Lava Jato.

O The Intercept também coloca em uma de suas matérias, uma declaração de Sergio Moro em palestra de 2016, contrariando acusações de que seria “juiz investigador”. A declaração com certeza se contradizem com as trocas com o MPF que já mostramos e as que vem a seguir.

“Vamos colocar uma coisa muito clara, que se ouve muito por aí que a estratégia de investigação do juiz Moro. […] Eu não tenho estratégia de investigação nenhuma. Quem investiga ou quem decide o que vai fazer e tal é o Ministério Público e a Polícia [Federal]. O juiz é reativo. A gente fala que o juiz normalmente deve cultivar essas virtudes passivas. E eu até me irrito às vezes, vejo crítica um pouco infundada ao meu trabalho, dizendo que sou juiz investigador”, colocou Moro na palestra em questão, em 2016.

Moro, MPF, “limpeza do Congresso” e as reformas e ajustes neoliberais

Dallagnol – 22:19:29 – E parabéns pelo imenso apoio público hoje. […] Seus sinais conduzirão multidões, inclusive para reformas de que o Brasil precisa, nos sistemas político e de justiça criminal. […].
Moro – 22:31:53. – Fiz uma manifestação oficial. Parabens a todos nós.
22:48:46 – Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar mas isso nao está no horizonte. E nao sei se o stf tem força suficiente para processar e condenar tantos e tao poderosos.

Dallagnol – 21:45:29. – A liberação dos grampos foi um ato de defesa. Analisar coisas com hindsight privilege é fácil, mas ainda assim não entendo que tivéssemos outra opção, sob pena de abrir margem para ataques que estavam sendo tentados de todo jeito…
[…]
Moro – 22:10:55. – nao me arrependo do levantamento do sigilo. Era melhor decisão. Mas a reação está ruim.

Os trechos transcritos acima são mais do que explícitos. A tempos denunciamos aqui no Esquerda Diário, a ligação da Lava-Jato e das forças do autoritarismo judiciário com a aprovação das reformas e ajustes neoliberais.

A articulação entre as forças da Lava-Jato, MPF e do autoritarismo judiciário fica evidente, assim como fica evidente o que denunciávamos aqui desde 2016: a atuação do judiciário no golpe institucional visava conseguir avançar com esse projeto de reformas e ataques neoliberais, atendendo aos interesses do imperialismo, sendo mais um ator a tentar descarregar a crise dos capitalistas em nossas costas.

Entre trocas sobre vazamentos de grampos, declarações coordenadas e apoio às reformas, o golpismo da Lava-Jato sempre contou com a articulação de Moro e do MPF. E as conversas divulgadas pelo The Intercept, existem provas concretas dos fatos, e não apenas a famosa convicção, da qual Deltan Dallagnol se apoiou tanto.

Golpismo via telegram

Em outras das trocas entre a dupla dinâmica, Moro e Dallagnol debatem sobre as preocupações com liberação dada para que Lula pudesse conceder entrevista à Folha de S.Paulo, e formas de tentar impedir que a mesma acontecesse. O medo de ambos era que a entrevista pudesse “eleger Haddad”, ou recolocar o PT no poder.

A grande maioria das mensagens faz cair por terra as inúmeras declarações do atual ministro e do líder do MPF, de que não existem e nem existiram motivações políticas na Lava-Jato. Se já era claro o papel não só da Lava-Jato, mas de outras forças do judiciário no golpismo, seja com a prisão arbitrária de Lula, seja com sua proscrição nas eleições de 2018, impedindo as pessoas de decidir em quem votar no último processo eleitoral, as trocas entre Moro e Dallagnol mostram com clareza a atuação do judiciário em garantir a consolidação do golpismo durante o processo eleitoral de 2018, que elegeu Jair Bolsonaro, e sua sede em conseguir fazer avançar com o projeto de reformas neoliberais, de braços dados com o imperialismo.
As trocas nos grupos de telegrama entre os procuradores são muito claras. Mostram uma discussão de estratégias entre os procuradores para conseguir reduzir o “efeito eleitoral” de uma possível entrevista, desde tentar marca-la apenas para depois da eleição, tentar recursos no STF, e etc. Tesler deixa claro os medos dos procuradores quando escreve: “sei lá…mas uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad”.

Januário Paludo propôs, por exemplo: “Plano a: tentar recurso no próprio stf, possibilidade Zero. Plano b: abrir para todos fazerem a entrevista no mesmo dia. Vai ser uma zona mas diminui a chance da entrevista ser direcionada.”

Athayde Costa – 12:02:22 N tem data. So a pf agendar pra dps das eleicoes. Estara cumprindo a decisao
12:03:00 E se forcarem antes, desnuda ainda mais o carater eleitoreiro

As trocas aconteciam desde as 10h da manhã do dia em que o ministro do STF deu parecer favorável para que acontecesse uma entrevista de Lula para o jornal A Folha de S. Paulo. Na noite do mesmo dia, o temor dos procuradores foi resolvido graças ao ministro Luiz Fux, que atendeu à liminar expedida pelo Partido Novo, e garantindo que o direito de Lula á conceder entrevista não fosse garantido. Januário Paludo enviou mensagem dizendo “devemos agradecer à nossa PGR: o Partido Novo”, em alusão à Raquel Dodge, de quem os procuradores esperavam que saísse liminar contra a entrevista.

Januário Paludo – 23:41:02 Eu fiquei sabendo agora…
Deltan – 23:41:32 Rsrsrs
Athayde Costa – 23:42:02 O clima no stf deve ta otimo
Januário Paludo – 23:42:11 vai ser uma guerra de liminares…

O cinismo e a cara de pau dos procuradores e de Sergio Moro, suas aspirações golpistas e as relações com o projeto neoliberal de reformas, assim como seus laços com o imperialismo, não surpreende a quem acompanhava o caminho da operação Lava-Jato desde 2016. A novidade é o fato de que agora deixamos de ter apenas ‘convicções’, para termos em mãos provas, com as trocar nos grupos de telegram. Está desvelado o que a anos era muito claro na operação Lava-Jato.

Hoje é fundamental fazer uma oposição ao autoritarismo judiciário, à operação Lava-Jato e também ao absurdo pacote anti-crime de Sergio Moro. As forças do autoritarismo judiciário apontam a um caminho claro de ataques ao movimento de massas e à classe trabalhadora, e seus laços com os interesses imperialistas dos EUA, como a privatização de estatais, e também a aprovação dos ajustes.

A Lava-Jato e o autoritarismo judiciário foram peça chave no golpe institucional e em sua continuidade. Na prisão e proscrição da candidatura de Lula em 2018, na manipulação eleitoral, com vazamento de delações de Sergio Moro nas vésperas de primeiro turno. Tudo isso com base a essa articulação entre Moro, procuradores e MPF, e em base a seus métodos artibitrários e autoritários, de conduções coercitivas, escutas ilegais, e intenções políticas muito bem definidas, em nome do imperialismo norte-americano.

Defendemos a liberdade imediata de Lula, sem prestar nenhum apoio político ao PT, que aposta e confia no STF e no judiciário, e que abriu espaço para o golpe institucional com suas alianças com a direita tradicional e os setores mais nefastos da política brasileira. Ao mesmo tempo, hoje, combater a Reforma da Previdência, assim como todos os ataques defendidos pelos mercados, privatizações e outros ajustes neoliberais, também passa por ter uma política independente do reacionarismo da Lava-Jato e do autoritarismo judiciário, pilar do golpe institucional e da agenda neoliberal.

 
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