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LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS
Por que a burguesia é economicamente implacável contra a maconha?
Willian Silva

Muitos poderiam dizer que trata-se de pura hipocrisia ou conservadorismo das classes dominantes em relação à legalização. Mas será mesmo essa a resposta? Este é um debate com todas e todos que se mobilizam contra o proibicionismo.

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Sempre volta à discussão a necessidade da legalização da maconha e seus benefícios de ordem medicinal e recreativa. Também tornou-se recorrente exemplos de países que legalizaram a maconha de forma bastante limitada, contraditória e cheia de restrições, mas que devem ser vistos como importantes passos no sentido da liberação da planta. No entanto, uma consequência comum em todos os países onde houve qualquer concessão nesse sentido, é o alto nível de exclusão, seletividade, desigualdade e burocratização no consumo, cultivo e venda. Um exemplo que deixa isso mais gráfico é o Colorado desde 2012, onde a posse foi despenalizada, mas há uma restrição de plantagem (apenas 6 mudas) não podendo haver consumo em público.

O uso medicinal da maconha e os interesses dos cartéis farmacêuticos

Os benefícios da maconha enquanto ansiolítico e anticonvulsivo são inegáveis. Um documentário feito por Tarso Araújo, mostra a redução drástica de crises em pacientes com epilepsia e outras síndromes, tendo o caso da menina Anny Fischer, de 7 anos, como um dos mais emblemáticos, em que a garota apresentava um quadro grave, chegando a ter 80 convulsões por semana e, após iniciar o tratamento com o canabidiol, as convulsões diminuíram para 0 em menos de 9 meses de tratamento.

Outro dado que aponta para a urgência da maconha com fins medicinais, é o estudo publicado no New England Journal of Medicine, realizado com jovens com síndrome de Dravet, uma forma bastante rara de epilepsia. O estudo mostrou que o tratamento com canabidiol foi capaz de reduzir em 39% a frequência das crises nesses pacientes. O pesquisador Orrin Devinsky, professor de Neurologia, Neurocirurgia e Psiquiatria no Langone Medical Center, da Universidade de Nova York, declarou que “O canabidiol não deve ser visto como uma panaceia para a epilepsia, mas para os pacientes com formas especialmente graves que não responderam a inúmeros medicamentos, estes resultados dão a esperança de que logo poderemos ter outra opção de tratamento".

Por isso grandes cartéis farmacêuticos, sabendo da potencialidade da maconha enquanto poderoso anticonvulsivo e ansiolítico, interessados em manter seus lucros estratosféricos com a venda de Rivotril e medicamentos da mesma ordem, muito mais caros e danosos à saúde pois apresentam efeitos colaterais seríssimos a longo prazo, são os primeiros a se colocar de forma implacável contra a legalização. O lucro com a exploração e manutenção de doenças em pacientes é o que mantém de pé essa gigantesca indústria.

A liberação da maconha pode evoluir a ponto de tornar-se um produto de consumo como o cigarro e o álcool?

Diversos estudos científicos já apontaram as consequências maléficas do álcool e do cigarro, assim como outros apontam as consequências benéficas da maconha e suas propriedades. Mas então por que a maconha segue sendo ilegal?

Segundo o médico e pesquisador da UnB, Gilson Dantas, a resposta para essa pergunta está exatamente no modo como a burguesia estrutura a produção. A maconha, diferente do tabaco e álcool, não necessita de industrialização. Trata-se de uma planta que germina com facilidade em qualquer lugar, sob qualquer condição, quadrante ou trópico. Se legalizada, qualquer um pode plantar em casa, produzir para si ou outros. Daí, em sua essência, está a dificuldade da burguesia em monopolizar essa produção, transformar em um grande monopólio capitalista como faz com o cigarro e o álcool.

A resposta contra o proibicionismo está na força das ruas

Hoje, 01 de Junho de 2019, em São Paulo, acontece mais uma grande marcha da maconha. Na semana passada, em BH, a marcha entrou para a história como sendo uma das maiores que a capital já viu. Em todo o mundo acontecem grandes manifestações de ruas reunindo diferentes setores da sociedade, desde o movimento negro que luta contra a guerra às drogas e o extermínio da juventude negra, até os movimentos antiproibicionistas que veem na legalização da maconha uma saída para o tratamento de epilepsia e outras síndromes e que possa garantir a retomada da qualidade de vida dos pacientes.

Na Argentina, chama atenção a enorme mobilização que vem acontecendo em torno da legalização. Nesse país, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT, com a sigla em espanhol) encabeçada pelo PTS e na figura de Nicolás Del Caño, que foi candidato a presidência em 2015, propõe no congresso a liberação integral, se apoiando na mobilização de base, estruturada em comitês de bairro, núcleos de estudantes da área de saúde e entidades estudantis.

É preciso ter clareza que nos marcos do capitalismo, com diferentes e poderosos setores da burguesia interessados na manutenção do proibicionismo, somente um projeto de lei como esse do PTS, que propõe a liberação integral, ao contrário dos projetos cheios de restrições e limitações em voga pelo mundo, como no Colorado ou até mesmo no Uruguai, cujo os usuários são obrigados a oferecerem dados completamente pessoais ao governo, pode avançar em qualidade na luta pela legalização.

 
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