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VENEZUELA
Venezuela: imprensa e bolsonarismo fazem coro com o golpismo dos Estados Unidos
Redação
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Na manhã desta terça-feira (30), o auto-proclamado presidente interino Juan Guaidó, convocou novamente as Forças Armadas a realizarem um golpe de Estado contra o regime de Nicolás Maduro, porém, dessa vez, junto ao dirigente da oposição de direita Leopoldo López e com um grupo de militares.

A ação do grupo de militares dissidentes não surtiu o efeito desejado pela direita golpista, não conseguindo o apoio de peixes graúdos das Forças Armadas, como os generais e o alto oficialato. Apesar da tensão que foi produzida por essa nova tentativa de estimular um golpe militar na Venezuela, a maioria dos militares, por interesses próprios ligados à renda do petróleo e ao poder autoritário que ganharam com Chávez e Maduro, ainda está do lado do chavismo, evidenciando que, por enquanto, o que há de dissidência nas Forças Armadas é algo ainda minoritário e sem muita expressão.

No entanto, com o fracasso evidente do golpe, ao longo do dia a cobertura da grande imprensa alimentou os mais reacionários interesses e discursos da família Bolsonaro e do vice Mourão, assim como estes aproveitaram a tentativa golpista para atacar a esquerda e colocar o Brasil como agente dos interesses intervencionistas e imperialistas dos EUA na América Latina, estimulando a queda do regime de Maduro pela oposição de direita liderada por Guaidó e Leopoldo López.

Nos seus tuítes, Bolsonaro declarou que seu governo apóia incondicionalmente a falsa legitimidade da presidência auto-proclamada de Guaidó, criticando (retuitando Olavo de Carvalho) até mesmo a Veja, reconhecida revista da direita mais reacionária, por ela ter admitido em uma manchete que ocorria na Venezuela era a “fase final” do golpe. Depois ele girou seus ataques a figuras que são reconhecidas no espectro da esquerda brasileira, postando fotos do parlamentar do PSOL, Ivan Valente, assim como Lula e Dilma, ao lado de Maduro e acusando toda a esquerda de “apoiar a ditadura chavista” e de não se solidarizar com o povo venezuelano que sofre com os ataques autoritários do governo

Como se sabe, Bolsonaro é um ser cordialmente solidário com os povos da América Latina: começando por seus elogios aos mais notórios torturadores sob o mando de Washington, como Brilhante Ustra no Brasil, e os ditadores Pinochet no Chile e Alfredo Stroessner no Paraguai; na Venezuela, apoia o embargo petrolífero e o congelamento dos bens da PDVSA pelos EUA, o que agrava a situação de vida catastrófica das massas venezuelanas por conta da política de Maduro.

Por outro lado, seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal que atua mais como ministro das Relações Exteriores, e representante brasileiro da nova internacional de direita organizada pelo xenófobo Steve Bannon, foi mais ofensivo, chegando a desejar sorte à tentativa de golpe, retuitando o próprio Guaidó e o secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo, afirmando que estava na torcida para que o “narcoditador” Nicolás Maduro saísse do poder de qualquer maneira. Ou seja, não se importando que a oposição de direita e um punhado de militares continuassem a aterrorizar a população para provocar um golpe de Estado no país, e implantar uma ditadura a serviço dos interesses recolonizadores dos EUA na região, ao invés das declarações pretensamente democráticas de Guaidó e sua turma, principalmente quando estes falam em remover a usurpação que Maduro faz do poder executivo e judiciário.

Em relação ao ataque ao espectro de esquerda, assim como o pai, Eduardo mirou no PT, afirmando que os empréstimos realizados nos governos Lula e Dilma à Venezuela só serviram para financiar a “narcoditadura” chavista

Entretanto, o que também pesou nesse dia de tensão na região, foi a cobertura bastante interessada da grande mídia brasileira e internacional. Todas atuaram como veículos da operação golpista, menosprezando os atos convocados pelo chavismo e veiculados pelo canal de televisão público Telesur; ao elaborar análises exageradas sobre o raio de influência que os golpistas obtiveram nesta terça-feira; e em apenas veicular as ações da oposição de direita na Venezuela, vendendo ao mundo e ao Brasil a imagem de que o punhado de militares e de manifestantes pró-Guaidó merecem a legitimidade de removerem Maduro com um golpe de Estado.

Partindo das informações vendidas pela grande imprensa, o golpe é louvável, pois, se trata de uma batalha entre a democracia e a tirania “esquerdista” representada pelo populismo autoritário do chavismo. Nessa simplificação mentirosa, a mídia burguesa forneceu, em abundância, armas para o discurso cínico do bolsonarismo e das desculpas esfarrapadas da direita regional organizada em torno do Grupo de Lima e da OEA (Organização dos Estados Americanos), que tentam a todo custo uma forma de intervenção na Venezuela, alegando estar ajudando o povo venezuelano a “restaurar a democracia” no país.

Clóvis Rossi, em matéria analisando o fato na Venezuela, mesmo que afirme ainda a incapacidade do intento golpista de conseguir a derrubada de Maduro, afirmou em base a especulações não confirmadas que generais de longa trajetória haviam pulado para o lado de Guaidó, chegando a alegar que isso representava um avanço significativo na “insurreição” contra o autoritarismo de Maduro, chegando a ficar até mesmo à direita do reacionário general e chefe da inteligência do governo Augusto Heleno, que afirmou que a apoio dos militares à Guaidó não chegou a atingir altos escalões das Forças Armadas venezuelanas.

O Estadão, numa coluna de análise assinada por Roberto Godoy, chega a afirmar que há uma divisão clara nas Forças Armadas com parte “significativa” dela apoiando Guaidó, colocando como perspectiva a capacidade dessa pretensa expressividade de dissidência em articular uma resistência eficaz contra a ala militar chavista. O interessante de toda essa análise é que ela também foi veiculada em base a suposições especulativas sobre o apoio de militares do alto escalão, e quando tentou encontrar sustentação em números concretos, o nosso querido articulista chega mesmo a forçar a barra, alegando que a entrada de cerca de 60 militares venezuelanos de baixo escalão no Brasil e de 1.400 na Colômbia, era um sinal de verdadeiro racha nas Forças Armadas que ainda apoiam Maduro. A conclusão do colunista é a iminência cada vez mais próxima de uma guerra civil na Venezuela, exigindo das forças armadas brasileiras a necessidade delas estarem nas fronteiras para “proteger” o país.

De forma mais ofensiva e convicta, os porta-vozes do O Globo também fizeram sua parte na campanha midiática de apoio à operação golpista de Guaidó e Trump. Em sua coluna, o baluarte direitista do jornalismo, senhor Merval Pereira, publicou em uma nota rápida, que será difícil Maduro resistir porque “boa parte dos militares” estaria com Guaidó, tendo que apertar ainda mais o regime sem o auxílio das Forças Armadas, mas sim com as milícias que defendem extra-oficialmente o regime chavista. Guga Chacra, outro incansável baluarte da direita liberal, chegou mesmo a elogiar a operação golpista, ressaltando a “ação bem elaborada” envolvendo a soltura de Leopoldo López e a ida provocativa dele e de Guaidó para a base militar em que fizeram o pronunciamento clamando os militares para o golpe. Em outra coluna do mesmo jornal, Pedro Doria vai mais longe, afirmando que o que está em curso é sim um golpe, mas que se legitima pela tentativa de remover Maduro do poder a qualquer custo.

No âmbito internacional, o jornal El Pais, mundialmente conhecido e tratado aqui no Brasil como uma mídia “progressista” por publicar notícias e algumas colunas de opinião contra Bolsonaro, também fechou com o imperialismo e com o bolsonarismo ao propagar o mesmo que toda a mídia burguesa no Brasil. Nas páginas do jornal espanhol, só se mostram imagens dos movimentos oposicionistas, exagerando o número de manifestantes, e chegando ao absurdo de afirmar que a ação minoritária de um grupo de militares foi um fato de “enorme importância” para catapultar Juan Guaidó como a principal figura da oposição ao chavismo.

Apesar dos movimentos da família Bolsonaro e de seu entorno no governo, assim como as declarações de Mourão e a cobertura interessada da imprensa empresarial, a nova tentativa da oposição de direita nessa terça foi a de desencadear um golpe militar, o que significa, no plano internacional, uma ofensiva intervencionista dos EUA para impor à Venezuela um governo fantoche a serviço dos seus planos de recolonização na América Latina.

Portanto, nós do Esquerda Diário denunciamos e repudiamos a tentativa de Guaidó, do imperialismo e da direita latino-americana de desencadear um golpe militar, nos opondo ao intervencionismo imperialista em nosso continente, sem que isso implique também em qualquer forma de apoio político ao regime autoritário e pró-capitalista de Maduro.

Defendemos uma saída de independência de classe dos trabalhadores e da população oprimida venezuelana, por fora das soluções de rapina do capital internacional, independente tanto do plano de ajustes da direita pró-imperialista quanto dos ajustes chavistas. Um golpe militar de Trump na Venezuela não é nenhuma alternativa à política burocrático-militar levadas a cabo por Maduro, para suprimir a oposição e que acaba golpeando fortemente o povo trabalhador e pobre, além de fortalecer o bonapartismo das Forças Armadas.

Uma derrota do golpe pró-imperialista com nossos próprios métodos de luta e levantando um programa com essas características nos colocaria em melhores condições para enfrentar também o próprio Maduro.

 
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