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DEBATE COM PSOL
Um debate com o PSOL diante dos desafios da esquerda contra o governo Bolsonaro
Thiago Flamé

Depois das eleições de 2018, alvo das milícias com assassinato de Marielle, atacado pelo governo Bolsonaro, o PSOL se consolidou como uma referência para milhões de pessoas que repudiam o governo Bolsonaro e buscam uma alternativa à esquerda do PT. Aqui queremos abrir um debate em como avançar para construir uma alternativa à esquerda do PT.

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A simpatia que o PSOL desperta, mostra que existe uma enorme politização na juventude e em setores cada vez mais críticos ao PT. Nos colocamos ao lado do PSOL contra os ataques que sofrem do governo Bolsonaro (como a absurda tentativa de tentar envolver o PSOL na facada) e na luta para encontrar os mandantes do assassinato de Marielle. Mas não podemos deixar de abrir um debate sobre os caminhos que o PSOL defende para esses setores, como pretende construir a oposição ao governo Bolsonaro e por que, em nossa opinião, sua política leva a um beco sem saída.

Quando falamos de uma forte oposição ao governo Bolsonaro, não pensamos somente ou principalmente na oposição parlamentar a esse governo. Não. Temos em mente a organização da juventude e da classe trabalhadora em cada local de estudo e de trabalho. Num primeiro momento seria necessário organizar amplos debates para discutir os rumos do país e uma política que permita que sejam os capitalistas e não o povo a pagar os custos da crise econômica. Uma política para enfrentar os problemas estruturais do país – que se agravam cada vez mais como vemos no Rio de Janeiro – a partir dos interesses dos de baixo.

Organizar essa grande força social que permanece passiva seria um primeiro passo para desmascarar a política da oposição parlamentar que se divide entre os que fazem uma oposição "propositiva" (como o PDT ou a ala dos governadores petistas que querem discutir ponto por ponto a reforma da previdência) ou setores petistas que fazem uma oposição eleitoreira como Gleisi Hoffmann ou Zeca Dirceu (que apostam no desgaste do governo Bolsonaro e na campanha "Lula livre" para vencer Bolsonaro nas próximas eleições), avançar em romper a trégua que as centrais sindicais têm dado ao governo Bolsonaro, exigir assembleias, congressos e encontros de representantes de base para preparar os embates que estão por vir.

É preciso superar, nesse processo, a estratégia petista que foi em grande medida responsável por nos trazer até aqui. Primeiro o PT no governo fortaleceu todos os setores da direita que mais tarde se articulariam em torno do golpe institucional – os evangélicos, o centrão, o Ministério Público, o agronegócio. E depois, já na oposição a Temer e agora a Bolsonaro, apostou em uma estratégia eleitoral, que levaria Lula ao governo nas eleições de 2018 (o que foi impedido pela sua prisão e o aprofundamento do golpe institucional) e que agora aposta no mesmo caminho.

As alas do PSOL não apresentam estratégias que superem a conciliação de classes

Em artigo recente, Juliano Medeiros, presidente do PSOL, comemora os passos dados na unidade da oposição parlamentar ao Bolsonaro nos primeiros 100 dias de governo. Boulos compartilha dessa mesma política apresentada por Medeiros. O presidente do PSOL fala de "unidade das esquerdas". Essa imagem apresentada não corresponde à realidade, não passa de uma ilusão propagada para justificar uma política desastrosa e que ainda faz o papel de defensor dos partidos que deveriam ser desmascarados. Dizer que a oposição de "esquerda" está unificada contra a reforma é um sem sentido, quando até mesmo os governadores petistas estão negociando com Paulo Guedes e o governo, e o governador Renato Casagrande do PSB já afirmou seu apoio com ressalvas, enquanto Waldez Góes, governador do Amapá pelo PDT, já declarou abertamente apoio à reforma. Com essa posição, o PSOL vira um joguete nas mãos de um jogo duplo por parte de PDT, PSB, PCdoB e PT, que consiste em se posicionar contra a reforma na Câmara enquanto os seus governadores têm sinal verde para apoiá-la nos bastidores. Ainda elogia a mobilização de 22 de março, que teria demonstrado que essa unidade – que sequer existe – poderia ir muito além do parlamento. Acontece que a fraca mobilização de 22 de março mostra justamente o contrário.

As centrais negociam a passividade em troca do apoio de Maia contra a medida que ataca a arrecadação dos sindicatos, e o 22 de março não passou de uma pequena demonstração para evitar questionamentos da base das centrais que em sua maioria rechaça a reforma da previdência. O PSOL não critica ou levanta exigência às centrais sindicais e esse apoio acrítico às centrais sindicais na prática fortalece a trégua que essas têm mantido frente ao governo Bolsonaro. Dessa forma o prestigio que o PSOL tem na juventude e em setores da classe trabalhadora acaba servindo para fortalecer a burocracia sindical, um dos grandes obstáculos para a organização de um plano de lutas sério contra Bolsonaro.

Ao fim da nota ainda afirma: "Longe de antecipar o debate eleitoral de 2020, esse esforço é fundamental para construir saídas comuns, caso a crise do governo se aprofunde e sejamos convocados a apontar uma saída para o Brasil." Apontar uma saída em comum para o país com esses partidos é o mesmo que abdicar de construir qualquer alternativa independente para superar o PT pela esquerda. No manifesto programático assinado em comum no início de 2018, vemos pontos como a defesa do equilíbrio fiscal, um dos mantras do neoliberalismo para manter a subordinação da economia nacional aos detentores da dívida pública.

As outras alas do PSOL não vão melhor, cometem erros como os que apontamos acima e, com o agravante, de apoiar – de uma forma ou de outra – os avanços autoritários da Lava Jato. Freixo se consolidou nas eleições para a presidência da Câmara de Deputados como a principal referência nacional do PSOL. Sua participação nessas eleições sintetizou a deriva política que ambas as alas do PSOL compartilham. Como dissemos, sua estratégia é meramente parlamentar. Buscou unir todo o bloco de opositores ao seu redor, aproveitando o vazio político que a crise interna do PT deixou. Fez acenos para partidos burgueses como o PDT e o PSB, além do PT e do PCdoB para compor um bloco comum contra Rodrigo Maia – e sequer conseguiu, dado que uma parte do PT, o PCdoB e o PDT apoiaram Maia em troca de cargos. Ao fazer isso se afastou dos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre, que são contrapostos aos desses partidos burgueses e do próprio PT, como dissemos acima, e deixou de usar a popularidade que adquiriu para dar passos em superar a estratégia petista. Ou, dito de outro forma, seguiu pelo mesmo caminho surrado que o PT já trilhou no passado.

Mas Freixo foi além, e aceitou a inglória tarefa que lhe ofereceu Rodrigo Maia, de ser o relator na Câmara do pacote dito "anticrime" de Sergio Moro. Já na sua primeira critica ao pacote mostrou toda sua estratégia: disse que o pacote de Moro é “fraco”. Ao não rechaçar de conjunto um projeto que é claramente anti pobre e negros e adotar a linha de “debater os pontos fracos”, pisoteia toda sua tradição de direitos humanos e se coloca como a quinta roda do projeto de Moro, que quer constituir uma ditadura da toga pra entregar nossos direitos e o país aos EUA. Essa postura “dialoguista” de Freixo com Moro tem ligação com sua posição concessiva à Lava Jato como se ela representasse algum tipo de luta real contra a corrupção e que chega ao ponto de dizer que “a pauta não pode ser mais o Lula Livre” , em nome da mesma “unidade da oposição” – posto que essa é uma das condições que Ciro Gomes coloca em nome de tal "unidade".

A corrente Movimento de Esquerda Socialista, da deputada recém eleita Sâmia Bonfim, leva o apoio à Lava Jato até as últimas consequências. Critica pontualmente a prisão de Lula, mas apoia a Lava Jato no seu conjunto, fazendo abstração da escalada autoritária que essa operação significa. Em texto recente abordando a prisão de Temer, critica os que denunciaram os métodos da Lava Jato, como se fosse possível lutar contra a corrupção apoiando as medidas arbitrárias e seletivas de tal operação. Para o MES, os que não apoiam decididamente as medidas autoritárias, como os métodos das prisões preventivas, estão "vacilando" na luta contra a corrupção. No início do ano, em texto analisando a entrada de Moro no governo Bolsonaro, afirmam: "Vai se abrir uma luta de exigência e um processo de experiência pelo menos em relação a dois temas: corrupção e combate aos assassinatos políticos". Nos perguntamos: quanto tempo mais será necessário para o MES completar sua própria experiência com Sergio Moro e a Lava Jato?

Nem a adesão acrítica às alianças com o PT, representada pela política de Juliano Medeiros e Boulos, nem a adesão crítica, apoiando um ou outro aspecto do autoritarismo judiciário de Moro, representada por Freixo e pelo MES de Sâmia e Luciana Genro, são uma alternativa. É preciso superar a estratégia petista e a adaptação à opinião pública burguesa que leva ao apoio ao autoritarismo judiciário.

Propomos, no lugar dessas estratégias falidas, uma outra opção: construir uma verdadeira oposição de massas ao governo Bolsonaro, que se apoie somente na organização da juventude e da classe trabalhadora e que utilize os cargos parlamentares não para a conciliação de classes, mas para apontar uma saída que permita que sejam os capitalistas e não a classe trabalhadora e o povo que paguem pela crise.

Contra a reforma da previdência, contra o discurso cínico das finanças de que a aposentadoria é responsável pela crise fiscal do estado, chamamos o PSOL e todas as organizações de esquerda a impulsionar uma grande campanha pelo não pagamento da dívida pública, que drena os recurso do país para dentro dos bolsos dos banqueiros – mas para isso seria necessário romper os acordos, ou as tentativas de acordos, com PDT, PSB, PT e PCdoB, todos defensores do pagamento da dívida e de alguma modalidade de ajuste fiscal que permita esse pagamento. Para romper a passividade é necessário colocar toda a força na organização em cada local de trabalho e estudo, colocar de pé comitês para levar adiante a campanha contra a reforma da previdência e pelo não pagamento da dívida pública e impulsionar assembleias em todos os lugares que seja possível. Um passo nesse sentido poderia ser a organização de um grande encontro nacional de mulheres, que já demonstraram no Brasil e em vários países do mundo estarem na linha de frente contra os governos de direita e extrema direita e das lutas contra os ataques dos governos, que atingem sempre em primeiro lugar as mulheres. Num encontro como esse poderíamos fortalecer a luta por justiça por Marielle, que para nós só conquistaremos com uma luta combativa e impondo uma investigação independente.

 
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