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RACISMO INSTITUCIONAL
"Cadê meu pai?" diz filho de Evaldo: 80 tiros e o rastro de sangue negro derramado pelo Estado
Redação
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Luciana dos Santos, mulher de Evaldo, chora na zona oeste no Rio. Foto: Fabio Teixeira/AP

Um rapaz de 16 anos vai buscar pipoca na casa de familiares para levar na creche do irmão de 4 anos, uma cena normal do cotidiano de qualquer cidade. Esse rapaz foi assassinado pela polícia do Rio de Janeiro. Ele era negro. A polícia alegou que ele estava armado, mas nenhuma arma foi encontrada, apenas ficaram o pacote de pipoca e as marcas de sangue.

“Estava chovendo e a esposa e seus dois filhos não estavam em casa, então ele desceu a ladeira do morro para aguardá-los”, disse um morador ao jornal El País. “A polícia desceu correndo, achou que ele estava com colete e com fuzil, e atirou. A PM não só atirou, como matou o homem”, acrescentou. “Não estava tendo operação naquela hora. Não teve troca de tiro”, ressaltou.

Esse homem era Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, 26, Morador da favela Chapéu Mangueira, na zona sul; ele era casado há sete anos, tinha dois filhos, um de quatro anos e outro de 10 meses, e trabalhava como vigia em um bar em Ipanema, também zona sul do Rio. Ele era negro.

As “confusões” da polícia e do Exército, destroem famílias, deixam filhos órfãos, matam jovens, crianças e trabalhadores. Os dramas pessoais que cada um desses vivem, e que se somam, não são expressão do acaso, da violência vista de forma genérica, de pessoas de “mal caráter” como um “setor corrompido” das corporações policiais. Esses casos são expressão de um drama social da violência exercida pelas forças repressivas do Estado. O caráter corrupto e assassino é a essência do papel das forças repressivas do Estado, que nada produzem, e têm apenas como sentido de existência defender a propriedade privada e reprimir a população periférica, trabalhadora, pobre e negra na sua grande maioria.

Essa violência é resultado de uma complexa formação social, que herda o racismo e a exclusão dos tempos de escravidão, a impunidade dos torturadores da ditadura, o desenvolvimento de milícias nos bairros criando currais eleitorais, e a necessidade orgânica do Estado brasileiro de usar do Exército e da polícia como instrumento de violência constante, para gerar o medo e a desmoralização. A sensação de impunidade e impotência na população é necessária, porque essa massa de trabalhadores negros sempre foi um risco de instabilidade dos governo, caso desenvolvam revoltas de massas.

A cidade do Rio de Janeiro é uma expressão categórica da situação da burguesia nacional, apertada entre os interesses imperialistas por um lado, e a grande massa de trabalhadores de outro. Enquanto existe o pequeno Rio bonito, pautado na super exploração dos trabalhadores, na humilhação e na prostituição para o turismo estrangeiro, o outro Rio, dos assassinatos policiais contra a juventude e os trabalhadores, serve justamente para reprimir e conter essa massa de explorados que vivem cotidianamente em meio a essa contradição da riqueza e do luxo de um lado, e a miséria e a violência de outro. As duas realidades completamente implicadas uma na outra.

Cinco jovens foram fuzilados na zona norte do Rio, Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, dirigia o Palio que foi fuzilado. Também estavam no carro Wesley Castro Rodrigues, de 25 anos, e os amigos Cleiton Corrêa de Souza, de 18 anos, Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16 anos, e Roberto de Souza Penha, de 16 anos.

Essa é a cara da juventude trabalhadora no Brasil. Érica Esteves Domingos, de 35 anos, tia de Wilton, disse ao jornal Extra que os cinco rapazes iam “comemorar o primeiro salário que um deles tinha recebido e tinham programado de ir à praia neste domingo. Quando soubemos dos tiros, corremos ao local e encontramos Wilton ainda agonizando, mas os policiais não deixaram a gente socorrer, porque não poderia alterar a cena do crime” – conta.

Enquanto os rapazes, que queriam comemorar o humilde primeiro salário, foram mortos, o governador do Estado do Rio de Janeiro, em 2018 comemorou, ao lado de Rodrigo Amorim e Daniel Silveira, ambos do PSL, destruindo a placa em homenagem a Marielle Franco – vereadora assassinada pelas milícias.

Bolsonaro, Witzel, Moro e Guedes são responsáveis por essas mortes e por “essa vida” de miséria, trabalhos super de super-exploração 6x1, intermitentes e precários. O menino que morreu aos 16 anos comemorando o primeiro salário tinha a idade de que um jovem precisa começar a trabalhar registrado para conseguir se aposentar com a reforma da previdência proposta por Bolsonaro e Guedes. Essa é a situação revoltante colocada para a juventude brasileira hoje.

Saiba mais: Moro, Bolsonaro e Witzel são responsáveis pelos 80 tiros com seu incentivo ao massacre racista do Estado

O pacote “anticrime” de Sérgio Moro busca expandir esses casos de violência garantindo a impunidade das Forças Armadas, permitindo que um policial atire alegando “forte emoção”. Uma justificativa absurda, que escancara a hipocrisia do Estado e dos diversos casos de “autos de resistência” e de provas forjadas que já garantiam a impunidade. Com o novo projeto de Moro a polícia não precisará ser tão "original" em suas mentiras, dando assim carta branca para assassinar os negros, pobres e trabalhadores.

Recentemente o cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Leonardo Albarello, acusado de matar um homem que segurava uma furadeira durante operação policial realizada na zona norte do Rio de Janeiro em maio de 2010, foi absolvido sumariamentee, dessa forma, não irá a júri popular. A vítima era um trabalhador, supervisor de supermercado, Hélio Barreira Ribeiro, 47, que utilizava uma furadeira na varanda de sua casa no morro do Andaraí, que foi “confundida” com uma arma.

"Ele só repete: cadê meu pai? E eu não tenho resposta". A frase dita pelo entregador Daniel Rosa, de 29 anos, filho do músico Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos, fala sobre o estado do irmão, de 7, que viu o pai morrer.

Essa é a realidade do caso recente, ocorrido nesse domingo, em que o carro da família de Evaldo recebeu 80 tiros do Exército. O governo Temer decretou a intervenção federal no Rio de Janeiro, que segue até hoje com o único resultado: pessoas assassinadas. Essa intervenção é composta por militares que passaram anos treinando no Haiti, matando a população negra daquele país.

Saiba mais: Com 80 tiros em carro, militares executam um pai no RJ. Não é engano, é racismo de Estado!

Esses casos inadmissíveis mostram o racismo do Estado, e a necessidade de combatê-lo. Lutando contra as reformas do governo Bolsonaro, a intervenção no Rio de Janeiro, contra o pacote do Moro e os já atuais "autos de resistência". Por júris populares, redução da jornada de trabalho sem redução de salário, para que todos tenham emprego e condições de vida. Obras públicas de saneamento, habitação e transporte, história das lutas do povo negro nas escolas. Esses são alguns planos que só podem ser colocados em prática se forem arrancados com combate, com greves e mobilizações que mostrem a força dos trabalhadores e da juventude organizados.

 
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