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ECONOMIA
OCDE: O beco (ainda) sem saída da economia mundial
Eugênio Okazaki

O primeiro trimestre de 2019, período em que se consolidam os dados econômicos do ano anterior, despejou água no chope de quem desejava que a pequena recuperação do biênio 2017-2018 fosse o início do fim da crise internacional. Desde o final de 2018, a desaceleração da economia mundial já era perceptível, haja vista a instabilidade bursátil que acompanhou as revisões da política de juros do Fed, entre o Cila da deflação e o Caríbdis de uma bolha que se expande desde a injeção de liquidez que "amorteceu” os efeitos da crise pós-quebra do Lehman estendendo-os no tempo. Mas, se há quem ainda duvidasse, o relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado duas semanas atrás pode ter sido o último prego no caixão desse otimismo.

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O primeiro trimestre de 2019, período em que se consolidam os dados econômicos do ano anterior, despejou água no chope de quem desejava que a pequena recuperação do biênio 2017-2018 fosse o início do fim da crise internacional. Desde o final de 2018, a desaceleração da economia mundial já era perceptível, haja vista a instabilidade bursátil que acompanhou as revisões da política de juros do Fed, entre o Cila da deflação e o Caríbdis de uma bolha que se expande desde a injeção de liquidez que "amorteceu” os efeitos da crise pós-quebra do Lehman estendendo-os no tempo. Mas, se há quem ainda duvidasse, o relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado duas semanas atrás pode ter sido o último prego no caixão desse otimismo.

Segundo o relatório, a taxa de crescimento do PIB mundial em 2019 deverá ser de 3,3%, três décimos inferior a do ano passado, e um décimo inferior aos 3,4% projetados para 2020, totalizando uma queda de 0,2% da taxa de crescimento mundial entre 2018 e 2020. Quase todas as economias do G20 tiveram suas projeções revistas negativamente. As principais fontes de risco são a guerra comercial EUA-China e o Brexit. Embora Trump tenha adiado das taxações que entrariam em vigor dia 1º deste mês, as tarifas sobre importações chinesas anunciadas desde que assumiu a presidência já somam 50 bilhões de dólares, aos quais há de se acrescentar outras que independem do país de origem dos produtos, como a de 25% sobre o preço do aço, 10% sobre o alumínio, 30% sobre painéis solares e 20-50% sobre máquinas de lavar roupa. Outro fator de risco mencionado pelo economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, são as incertezas em relação às dimensão da desaceleração chinesa.

Ver também: EEUU y China: ¿qué consecuencias tendría una guerra comercial a gran escala?

Enquanto a União Europeia (UE) inteira representa 20% da economia mundial, a China responde sozinha por 15% do PIB do planeta, o que, em termos de economias nacionais, não tem comparação a não ser os próprios EUA, que correspondem aproximadamente às quarta parte. Pouco tempo depois da divulgação do relatório, o primeiro-ministro chinês, Li Kequiang, disse ao Congresso do Povo que a economia vive momentos difíceis e anunciou uma meta de crescimento revisada, meio ponto percentual abaixo dos 6,5% de 2018. Através de sucessivos pacotes fiscais, o país tem evitado uma desaceleração ainda maior, mas essa fuga adiante não pode continuar indefinidamente. As dívidas chinesas já são 230%, e há quem preveja o estouro de bolhas creditícias, enquanto a indústria registra seu pior resultado em três anos, e o emprego na indústria exportadora, 64 meses de queda. Mundialmente, a dívida corporativa é, hoje, o dobro da que era no pré-crise: US$ 1,3 trilhões em títulos (bonds), dos quais 15% são de países emergentes e, dentre esses, metade são de empresas chinesas. Consequentemente, o risco de moratórias e calotes (defaults) é grande caso a desaceleração da economia mundial seja maior que a esperada.

Todavia, quem mais desapontou a OCDE foi a UE, cujas relações comerciais, tanto entre os próprios países do bloco quanto entre a UE e seus parceiros externos, estão praticamente paralisadas. Como explicamos aqui, o crescimento do comércio dá a medida exata do sucesso da globalização neoliberal e, portanto, do bloco, que, hoje, encontra-se dilacerado pelas desigualdades entre os seus países-membros e pelo re-emergência dos nacionalismos econômicos, uma resposta reacionária à fracassada tentativa, que é a UE, de superar essas diferenças administrativamente. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) não tem todos os instrumentos de política monetária que suas contrapartes estadunidense e chinesa usaram para contra-arrestar a deflação. As taxas de juros da UE já são negativas e as operações de mercado aberto do BCE são restritas, como explica o editor do Financial Times, Martin Wolf, aqui.

A taxa esperada de crescimento do PIB do Reino Unido caiu, após a revisão, de 1,5% para 0,8%. A taxa de investimento também tem caído desde o referendo do Brexit, e a OCDE estima que, se um acordo de saída como o que o parlamento rejeitou na semana passada [LINK: https://mobile.valor.com.br/internacional/6156967/parlamento-britanico-rejeita-acordo-do-brexit-pela-segunda-vez?utm_source=WhatsApp&utm_medium=Social&utm_campaign=Compartilhar] não for aceito, a economia da Grã Bretanha poderá ter encolhido 2% até o ano que vem, o que afetaria negativamente todo o resto da UE, na medida em que seus membros têm mais relações comerciais dentro do bloco do que fora, e muitas cadeias produtivas perpassam as fronteiras dos países. São especialmente vulneráveis as cadeias do setor automotivo, cujas importações Trump considera uma ameaça à segurança nacional dos EUA, segundo declaração recente. Por isso, a revisão da taxa de crescimento do PIB alemão foi ainda maior que o da Rainha: 0,7%, contra 1,6% anteriormente. 10% das exportações da UE destinam-se aos EUA, que, no ano passado, tiveram déficit comercial recorde, apesar de toda a taxação protecionista: US$ 621 bilhões, 12% maior que em 2017.

Trump, que já se referiu ao NAFTA como o pior acordo da história, substituiu-o, a fins de 2018, por um acordo não muito diferente: o USMCA (United States-Mexico-Canada Agreement), um “NAFTA 2.0”, através do qual os EUA tentam aumentar suas exportações para os outros dois países da América do Norte, assim como diminuir suas importações e a entrada de produtos de concorrentes dos EUA nos mesmos. O déficit da balança comercial estadunidense cresceu US$ 11 bilhões em relação ao México, que, junto à UE e à China, são responsáveis por 54% das importações do país, mas por 86% do aumento do rombo, que, em dezembro, foi 19% maior que o do mês anterior.

O PIB do país também está se aproximando dos 2 pontos percentuais, muito inferior aos 4,2% que atingiu no pico da recuperação. Portanto, a crise capitalista está longe do fim. Se as tendências ao nacionalismo econômico e à rivalidade entre as potências só se fortalecem, é justamente porque, hoje, não há quem possa sequer vislumbrar um novo ciclo de crescimento sustentado da economia mundial, o que, como explica Paula Bach, implica também a impossibilidade de um período “reformista”, seja nos países imperialistas, seja em semicolônias como o Brasil.

 
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