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MILICIAS NO RIO
O poder das milícias no Rio de Janeiro, referendadas pela família Bolsonaro
Redação

Não é novidade para ninguém que as milícias já são parte integral do Estado do Rio de Janeiro. Desde pelo menos duas décadas que as milícias vêm se expandindo, controlando territórios e populações, para dessa maneira vincular seus interesses às instituições públicas.

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Foi assim que as milícias cresceram no Rio de Janeiro. Começando com a comunidade do Rio das Pedras, na Zona Oeste da cidade, e se expandindo até outras favelas da região metropolitana, as milícias impuseram seu poder armado e econômico sobre os trabalhadores que vivem nessas comunidades. Diante desse cenário, foi um pulo para esses grupos de extermínio passarem a ocupar postos-chave do Estado em distintos governos. Rosinha Garotinho, ex-governadora do Rio e envolvida em diversos casos de corrupção, nomeou diversos milicianos para cargos nas secretarias de Justiça e Segurança. Eduardo Paes, ex-prefeito, em entrevista na televisão, defendeu a atuação das milícias argumentando que elas cumpriam um papel “positivo” na segurança dos cidadãos ameaçados pelo crime. Lembrando aqui que Eduardo Paes fez parte durante muito tempo do PMDB, partido que abrigava milicianos reconhecidos, como Marcelo Itagiba, que chegou a ser secretário de segurança pública do estado.

Através desse conluio, se formou nas esferas do poder a “bancada da milícia”. No Legislativo, diversos projetos de lei visando investigar esses grupos foram barrados, chegando até mesmo a ser proposta a sua legalização. E é nessa trajetória histórica que se encontra a família Bolsonaro.

Nos últimos meses vemos mais casos aparecerem na grande mídia que reforça o caráter corrupto e obscuro dessa família. Primeiro, o caso da COAF, envolvendo desvio de verba pública para a conta pessoal de Flávio Bolsonaro (o filho mais velho), que era feita através de um assessor seu, o grande conhecido Queiroz, que além de ser um policial reconhecido pelo seu número de assassinatos durante sua carreira profissional, tem ligações com milicianos, inclusive nomeando parentes deles para cargos na secretaria do então deputado que hoje é senador. Porém, para quem já condecorou na Assembleia Legislativa diversos policiais envolvidos em chacinas e mortes de inocentes em operações policiais e defendeu publicamente a legalização da atuação das milícias, isso não configura nenhuma novidade.

No entanto, com a ampliação desses casos na grande mídia depois que a família Bolsonaro saiu do “baixo clero” para assumir o Planalto, grande parte da população começa a desconfiar cada vez mais dessas relações com milicianos. Se já não bastasse a oposição da opinião pública à atividade desses grupos depois que ocorreu o escândalo da CPI das milícias em 2008, agravada com a morte de jornalistas que investigavam esses grupos, o caso de Marielle Franco causou ainda mais indignação.
O assassinato da vereadora do PSOL deu impulso a uma mobilização de massas que ganhou novamente a opinião pública contra os desmandos e a ameaça que esses grupos representam para os valores democráticos mais elementares. As milícias passam literalmente por cima de seus opositores e isso aterroriza a sociedade. No entanto, a força política que emergiu com a morte de Marielle propiciou uma correlação de forças desfavorável às milícias e nesse processo o seu caso alcança o clã Bolsonaro. Atualmente, Marielle se constitui como umas das maiores forças de oposição ao governo Bolsonaro, pois, seu caso respinga no capital político do governo, evidenciando que interesses de milicianos estão sim próximos ao Planalto da República do Brasil. Parece inacreditável, mas é totalmente possível essa realidade. O Rio já foi tomado, agora é Brasília.

Portanto, diante desse cenário, não é de se estranhar que o caso de Marielle tenha sofrido intervenções e tentativas de sabotagem durante as investigações. Raul Jungmann, ex-secretário de segurança pública do governo Temer, já havia jogado ao ar que interesses ocultos estavam atrapalhando a investigação. Isso também chegou a ser denunciado pelo ex-interventor, o general Richard Nunes, sendo que ele foi além, afirmando em entrevista ao Estadão que para as milícias Marielle representava uma ameaça aos seus interesses econômicos em regiões que faziam grilagens de terras.

Estas afirmações devem ser postas em dúvida permanente, pois o vínculo das milícias com o Estado é muito forte, logo precisamos desconfiar de tudo que venha desses agentes oficiais. No entanto, é significativo, por outro lado, a possibilidade eminente de tentativas desses grupos tão infiltrados em desvirtuar a investigação. Segundo o que foi dito pelos investigadores no circo montado pelo governador Wilson Witzel (PSC) no Palácio da Guanabara, no dia em que Ronie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos, a prisão deles foi fruto de uma “investigação da investigação”, partindo de contra-informações que tentaram sabotar o processo.

Apesar de também desconfiar da afirmação desses delegados, tudo isso mostra que é mais do que necessária uma investigação independente, exigindo a verdade e justiça por Marielle. A polícia com seu envolvimento com a milícia e os negócios milionários de políticos fisiológicos do regime carioca, nunca darão uma resposta contundente, porque juntos são responsáveis tanto pela morte de Marielle como pela impunidade que se arrasta há quase um ano e contínua sem apontar quem mandou mata-lá.

Os presos suspeitos de serem os assassinos da vereadora são também suspeitos de integrar o comando de um grupo de extermínio que cobra por seus serviços, de estarem envolvidos com tráfico de armas (evidenciado pelo número alto de fuzis encontrados na casa de Lessa na Barra) e de controlar comunidades da Zona Oeste da cidade. Ronnie Lessa era filiado ao MDB (saiu em 2010), enquanto Élcio de Queiroz até ontem era filiado ativo do DEM, partido com maior peso no governo de Bolsonaro. Aliás, Élcio de Queiroz é vizinho do próprio presidente, seus filhos possuíam vínculos com familiares do miliciano e inclusive tirou foto ao lado da figura.

Agora, pensando tudo isso com o histórico de defesa, por parte do clã, desses grupos armados, fica mais que evidente que algo de muito podre cheira nas entranhas do poder. É preciso ir mais além para limpar o bueiro, e isso apenas se dará num processo legítimo de investigação autônoma, fortalecido pela imposição de uma mobilização de massas, para chegar até aos mandantes da morte de Marielle, e quiçá, sobre as relações concretas que existe debaixo dos panos entre as milícias com o governo do Rio e também com o presidente da República.

 
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