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cultura
Yacob Sverdlov, o diamante do Partido Bolchevique
Redação

Foi um dos homens indispensáveis para levar adiante a revolução russa. O grande organizador do partido Bolchevique. A 100 anos de sua morte contamos aqui a sua história.

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Autor: Andrés Sermux - Izquieda Diário
Tradução: Jones Adriano Gaio

““o trabalho que ele realizou como organizador (…) somente poderá prosseguir no futuro se colocarmos em seu lugar um grupo de homens (…) que, se seguirem seus passos, poderão chegar próximo ao que este homem fez sozinho”. Vladimir Lenin, no funeral de Sverdlov.”

Filho de uma família judia, nascido em 4 de junho de 1885, Yákov Mijáilovich Sverdlov será um dos revolucionários mais destacados e com um papel fundamental entre março (quando retornou do exílio) e outubro de 1917, que culmina com a Revolução Russa.

Sverdlov em 1904

Filiou-se ao Partido social-democrata russo em 1901, aos 17 anos e depois, junto à Lênin, será parte da fração Bolchevique. Em 1912 foi eleito como membro do comitê central do partido, ao mesmo tempo em que foi preso quase que imediatamente.

Em 1917, foi reeleito como parte do mesmo comitê central, enquanto exercia funções no comitê militar revolucionário do soviete de Petrogrado. Junto a Lênin e Trotsky, será parte do Estado Maior que levará adiante a Revolução de Outubro. Após esta, será o presidente do comitê executivo central dos sovietes de toda Rússia até a sua morte.

“Sverdlov tinha altura média, de pele escura, esbelto e magro. Seu rosto magro, fino. Sua potente e ressonante voz poderia parecer desproporcional ao seu físico. Em medida ainda maior poderia se dizer o mesmo de seu caráter. Entretanto, essa impressão só poderia ser passageira. Logo a imagem física se fundia com a espiritual”. Assim o descreveu Trotsky em uma carta em homenagem a sua morte.

Esse homem, de uma “memória enciclopédica”, que estava atento a todas as tarefas mais importantes, que passou a maior parte de sua militância política preso ou no exílio, será o maior organizador do Partido Bolchevique.

1905: Organizando os trabalhadores dos Urais

Por ordem do partido, Sverdlov, viaja a região de Ekaterimburgo para colaborar com a organização do Partido social-democrata. Nessa região, como relata sua companheira Klavdiya Timofeevna na biografia do revolucionário, “os social democratas tinham uma rede bastante desenvolvida de grupos locais, mas estavam dispersos, tinham debilidades de comunicação e com frequência se encontravam atuando de maneira isolada sob suas diversas direções”.

Sverdlov junto a sua companheira Klavdiya Sverdlova e sua filha Vera, 1918

Logo que chegou, começou a participar das distintas reuniões de militantes, destacando-se como orador. “As pessoas valorizavam sua convicção sincera e apaixonada, porque também era sensível e considerado, e respeitava as opiniões dos demais”. Relata sua companheira.

Graças a sua experiência como organizador, seu estudo da teoria e qualidades pessoais, em pouco tempo organizou um núcleo confiável de experimentados trabalhadores clandestinos libertos da prisão e jovens organizadores bolcheviques com estreitos vínculos entre os trabalhadores.

No momento da insurreição de 1905, funda o soviete de operários e soldados de Ekaterimburgo. No entanto, a contra ofensiva czarista derrota a insurreição e, por seu papel destacado no levantamento, Sverdlov será um dos mais procurados pela Okrana, a polícia czarista.

Em 1906 é preso e deportado para a Sibéria até 1909. Ainda nesse ano, se encontrará em Moscou, organizando a estrutura do partido e volta a ser detido. Consegue escapar, mas é detido outra vez para ser deportado por quatro anos. Sua vida em todos estes anos foi praticamente uma constante entre ser capturado e fugir da prisão. Enquanto isso, aproveitava a reclusão para formar-se politicamente, recorrendo a todos os livros que pudesse conseguir.

Ao centro, Sverdlov na prisão em 1906.

Em 1912, durante um breve período de liberdade, começa a trabalhar no Pravda, o jornal bolchevique. Por pouco tempo, já que é denunciado por um policial czarista e teve que se exilar. Nesse período, é convocada a conferencia de Praga do POSDR, onde Lênin enfrentará duramente a fração menchevique do partido e fundará (com uma direção completamente bolchevique) o POSDR (Bolchevique). Nessa conferencia, Sverdlov (sem estar presente), será eleito como membro do comitê central do partido e também de seu Birô Político.

1917: Um revolucionário profissional

Ao regressar do exílio em março de 1917, depois da revolução de fevereiro, Sverdlov foi enviado a Ekaterimburgo novamente para organizar o trabalho da conferência da regional do partido nos Urais, e preparar um levante proletário nos Urais, em caso de não triunfar em Petrogrado.

No mês de abril, durante a sétima conferencia do POSDR, Sverdlov se reuniu pessoalmente com Lênin pela primeira vez. Nela, foi reeleito como membro do comitê central e ocupou o posto de secretário da organização. Não havia duvidas de que ele era o homem ideal para esta tarefa.

Trotsky relata, em sua carta publicada logo após a morte de Sverdlov:

“[Sverdlov] abordava todas as questões da revolução não desde acima a baixo, não desde o ponto de vista das considerações teóricas gerais, mas antes desde baixo, através dos impulsos diretos da vida mesma tal como era transmitida pelo organismo partidário. (…) e quando era necessário passar ao aspecto organizativo do problema e a questão dos quadros, resultava quase invariavelmente que Sverdlov já estava preparado com propostas práticas de largo alcance, baseadas em sua memória enciclopédica e em seu conhecimento pessoal dos indivíduos”.

Teria uma visão global do que se passava no partido e conhecia detalhadamente os seus quadros, recordando como tal ou qual militante havia se comportado em tal ou qual momento e, a partir disso, deduzia se o mesmo era adequado ou não para uma determinada tarefa. Contava com uma especial rapidez para resolver os problemas mais urgentes. Sobre isso, Trotsky conta que “vez ou outra, sucedia que Vladimir Ilich pegava o telefone para propor a Sverdlov determinava medida de emergência e na maioria dos casos a resposta que recebia era: “Já”. Isso significava que a medida já havia sido tomada. Muitas vezes fazíamos piadas sobre isso, dizendo: “Bom, o mais provável é que Sverdlov tenha...”Já”. “Como vocês sabem, recorda Lênin certa vez “no principio estávamos contra sua inclusão no comitê central, como subestimávamos o homem!” Houve uma forte discussão a respeito, mas a base nos corrigiu no congresso e mostrou que tinha razão...”. O respeito de Lenin a Sverdlov era total e podia se perceber em que, para as tarefas mais difíceis, confiava de maneira absoluta na sua decisão de que podia designá-las a Yacob.

Carta completa de Leon Trotsky: Yakov Sverdlov (1885-1919)

No entanto, Sverdlov não buscava concentrar a solução dos problemas em sua pessoa, de maneira individualista. Pelo contrário, “todo seu trabalho preparava as condições para uma solução mais sistemática e regularizada de todos os problemas do partido e dos sovietes. (…) Era muito mais claro e mais fácil abordar cada problema desde o ponto de vista da política e dos princípios que do ponto de vista organizativo”.

É assim que esse revolucionário de base nos anos precedentes a 1917, começaria a mostrar sua verdadeira estatura com o desenvolvimento da revolução.

A tomada do poder

Em julho de 1917, quando os bolcheviques foram declarados contrarrevolucionários, com os principais dirigentes na clandestinidade, ele permaneceu em Petrogrado para organizar o partido e a insurreição. Suas qualidades se mostravam em todo seu esplendor nos momentos mais críticos.

Durante as reuniões do comitê central de 10 a 16 de outubro, poucos dias antes da tomada do poder, Sverdlov passou a fazer parte do Comitê Militar Revolucionário do Soviete de Petrogrado. Este comitê seria o responsável de organizar a derrubada do governo provisório e a tomada do palácio de inverno. “...as medidas mais conspirativas se colocavam em prática por meio da organização militar dos bolcheviques, e de Sverdlov, “secretário geral” não oficial, mas não menos eficaz para realização da insurreição de outubro”.

A revolução triunfa. O poder passa das mãos do governo provisório a dos trabalhadores. No entanto, não havia momento para sentar e descansar. Era necessário formar um novo governo. Enquanto Lênin e Trotsky debatiam sobre como nomear o novo governo dos “sovietes dos comissários do povo” - “isso serve formidavelmente à revolução” – diria Lênin, Trotsky conta em seu livro “Minha Vida” a seguinte anedota: “O que acontecerá – me perguntou Vladimir Ilich em um desses primeiros dias, quando eu menos esperava – se os guardas brancos nos matarem você e a mim? Você acredita que Sverdlov e Bukarin saberão seguir o caminho?” (…) relatado pela primeira vez esse episódio em minhas recordações sobre Lênin, publicados no ano de 1924 (1). Segundo soube-se depois, a notícia ofendeu gravemente a Troika então formada por Stálin, Zinoviev e Kamenev; No entanto, não se atreveram a discutir sua autenticidade. As coisas são como são: Lênin somente havia nomeado Sverdlov e Bukárin. Não lhe ocorreu pensar em outros”. (2)
tempos depois, Yacob seria nomeado presidente do comitê executivo central dos sovietes de toda Rússia. E foi encarregado de redigir a constituição da nova República socialista federativa soviética da Rússia.

Sentado junto a Zinoviev como presidente do CC de toda Rússia, julho de 1918.

Em agosto de 1918, Lênin é ferido em um atentado. Sverdlov toma provisoriamente suas funções políticas, sendo o encarregado de dirigir a luta contra a contrarrevolução. Além disso, comandou um grande trabalho internacional preparando o 1º congresso da internacional comunista e participou da organização de congressos dos partidos comunistas da Letônia, Lituânia, Bielorrússia e Ucrânia.

No trem viajando para o front, 1918

O legado de Yacob Sverdlov

A morte de Sverdlov foi um golpe para o partido e para a revolução. Morreu de febre tifoide em 16 de março de 1919.

Trotsky conta que se encontravam em uma reunião do comitê central quando souberam que a saúde de Yacob havia piorado bruscamente: “Vladimir Ilich foi ao apartamento de Sverdlov e eu sai em direção ao comissariado para preparar imediatamente a partida em direção o front. Em uns quinze minutos chegou uma chamada telefônica de Lênin, que disse com uma voz peculiarmente alterada que significava uma grande tensão: “Ele se foi”. “Se foi”. “Se foi”. Por um momento, cada um de nós pegou o telefone em suas mãos e cada um podia ouvir o silêncio no outro extremo. Então desligamos. Não havia mais nada a dizer. Yakov Mijailovich se foi. Sverdlov já não estava mais entre nós”.

Em seu discurso pela morte de Sverdlov, Lênin pronunciará as seguintes palavras:

“Quem trabalhou dia a dia com o camarada Sverdlov, recordará claramente que seu excepcional talento organizativo nos proporcionou algo de que estávamos orgulhosos com plena autoridade. Nos permitiu levar a cabo atividades concentradas, eficientes e realmente organizadas, atividades dignas das massas proletárias organizadas e que satisfaziam as necessidades da revolução proletária. Atividades concentradas e organizadas sem as quais não poderíamos ter obtido um só exito. (…) A lembrança do camarada Sverdlov servirá não somente como um símbolo permanente da devoção do revolucionário a sua causa e como exemplo de como combinar habilidade prática, contato próximo com as massas e capacidade de dirigi-las; também é uma promessa de que um numero cada vez maior de trabalhadores, guiados por estes exemplos, avançarão até a vitória completa da revolução comunista mundial.”

Discurso de Lênin diante da morte de Sverdlov

Notas:

1. León Trotsky, Lenin, Ediciones IPS-CEIP, Bs. As., 2009, “El trabajo gubernamental”, p. 282.

2. León Trotsky, Mi vida, Ediciones IPS-CEIP y Museo Casa León Trotsky, OE 2, Bs. As., 2012, pp. 352-353.

 
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