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PT E REFORMA DA PREVIDÊNCIA
PT e CUT não organizam assembleias para que o 22M seja uma paralisação nacional contra a reforma da Previdência
Vanessa Duarte

O PT e a CUT convocam para o dia 22 um “dia de luta contra a reforma da previdência”. Sem terem construído efetivamente na base de nenhuma categoria de trabalhadores e atuando precisamente para desvincular a luta das mulheres das lutas contra os ataques aos trabalhadores, o PT, que para além de ter sido fundamental na reconfiguração ainda mais à direita do regime no Brasil, tendo aberto o caminho ao golpe institucional reacionário e ao avanço da extrema direita, evidencia que é uma absolutamente inofensiva “oposição parlamentar”.

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Enquanto grandes empresas e bancos bilionários devem mais de R$ 450 bilhões para a Previdência Social, segundo relatório da CPI da previdência de 2017, o governo Bolsonaro arquiteta plano para na prática impedir que milhões de trabalhadores tenham direito à aposentadoria. Trata-se de um plano para proteger os grandes empresários e banqueiros milionários, e atacar a população pobre e trabalhadora, obrigada a trabalhar nas piores condições da reforma trabalhista para que os capitalistas possam se enriquecer.

É neste cenário que a CUT e as centrais sindicais realizaram uma reunião no dia 26/02 e definiram o dia 22 de março como o “Dia Nacional de Luta e Mobilização em Defesa da Previdência”. Na reunião, Vagner Freitas, presidente da CUT, ligada ao PT, enche o peito ao lado das burocracias sindicais há anos encasteladas em seus privilégios para dizer que “a única saída é o enfrentamento”, mas na prática não impulsiona nenhum dos sindicatos das categorias ligadas à central a qual preside.

A CUT e a CTB seguem a passividade do PT e não organizam nada sério para que o 22M seja o pontapé a um plano de luta contundente para derrotar a reforma da previdência de Bolsonaro. Tanto assim que Gleisi Hoffmann, presidente do PT, flerta até com a ideia de uma “reforma da previdência contra os privilégios”, principal argumento do governo Bolsonaro para enganar a população e passar seu ajuste neoliberal. Não assombra, já que a CUT propunha até há pouco uma reforma alternativa, quando é um dever da classe trabalhadora rechaçar qualquer tipo de reforma da previdência, por definição dirigida para aumentar a exploração capitalista.

A política do PT abriu espaço para o fortalecimento da direita

A estratégia de conciliação de classes do PT, seu programa de administração do capitalismo neoliberal em decadência junto com a direita fisiológica que hoje é base do bolsonarismo, preservando uma estrutura econômica semicolonial dependente do capitalismo estrangeiro, explica sua tremenda passividade diante dos ataques do governo.

Diante das demissões em massa, manda os trabalhadores para a casa, como fez na Ford de São Bernardo do Campo; diante da reforma da previdência, colabora com a Força Sindical e outras centrais mafiosas em convocar ações sem organização prévia dos trabalhadores, para que essas jornadas não sejam demonstrações contundentes de força para frear os ajustes.

Nesta etapa na situação política marcada por uma profunda crise do regime de 1988, os trabalhadores ainda têm sido atores de baixo protagonismo. O motivo disso é justamente a paralisia das centrais sindicais. No caso da CUT e da CTB, dirigidos respectivamente pelo PT e pelo PCdoB de Manuela D’Ávila, a paralisia é consciente: mesmo dirigindo milhões de trabalhadores através dos sindicatos, esses partidos atuam no sentido de fazer adormecer a revolta dos trabalhadores.

E isso, quando estamos em meio a ajustes neoliberais estratégicos para a burguesia, e também quando precisamos exigir justiça por Marielle Franco!

Exemplo categórico disso são seus discursos que propagam aos quatro ventos que o governo, através de iniciativas e declarações conservadoras e obscurantistas (de ataque às mulheres, aos negros e aos LGBTs), lança uma “cortina de fumaça” sobre os olhos dos trabalhadores para distraí-los enquanto passa ataques “de verdade” como a reforma da previdência. Essa separação que o PT faz deixa clara sua política de separação da luta das mulheres - que, diga-se de passagem, levou às ruas uma estrondosa massa gigantesca de mulheres em todo o mundo neste 8 de março - das lutas da classe trabalhadora e, dessa forma, atua para bloquear a possibilidade de uma explosiva revolta social.

Atuando neste sentido, o PT a CUT e todos os sindicatos que dirigem tiveram a linha de abafar a luta dos professores e servidores municipais em São Paulo que se levantavam contra o Sampaprev, reforma da previdência a nível municipal. Não moveram uma única palha diante de milhões de trabalhadores que dirigem para cercar de solidariedade a greve que durou mais de 30 dias. Também parte dessa atuação do PT foi no 8 de março, que batalhou para isentar o governo Bolsonaro de estar no centro do rechaço e do ódio das mulheres. Quanto ao PCdoB, exemplo ainda mais emblemático é o apoio e o entusiasmo com que o partido apoiou a reeleição de Maia, o principal articulador da reforma da previdência no Congresso.

Mas não é somente através dessa separação entre os temas democráticos e a luta econômica dos trabalhadores que o PT e a CUT atuam para paralisar a organização do combate aos ataques do governo. O PT tem responsabilidade na própria construção e consolidação dessa atual situação política: foi justamente quem permitiu o crescimento de uma onda conservadora junto a setores de massas nas grandes cidades através do fortalecendo de setores ligados às Igrejas Evangélicas e à bancada da bíblia, junto também ao fortalecimento da bancada do boi, alimentando exponencialmente o agronegócio, que teve o consequente fortalecimento de uma nova burguesia rural, que hoje é base sólida do bolsonarismo e de sua agenda conservadora. Foi também justamente as políticas de segurança pública dos governos do PT, centradas na construção das UPPs, que possibilitaram o crescimento e o peso das milícias, o que configura um novo fator de poder no marco de uma enorme degradação estatal do Rio de Janeiro.

Ou seja, a política do PT hoje, em tempos de governo Bolsonaro, é ainda mais decisiva para a “paz social” do que durante o governo Temer, pois antes a paralisia imposta pela CUT e o PT se deu através de sucessivas traições de greves e lutas, mas agora, além do refluxo resultante dessas traições, há também a desfavorável correlação de força dos trabalhadores em detrimento do fortalecimento dessa nova burguesia rural, das milícias, das igrejas evangélicas e demais setores reacionários fortalecidos pelas políticas do PT. É nisso o que consiste a base do bolsonarismo.

Isso tudo expressa que, apesar de o PT tentar demonstrar ser uma “oposição parlamentar” - através de uma “guerra cibernética” contra o governo Bolsonaro -, na prática se aliou aos setores mais podres do regime, abriu espaço ao golpe que tirou Dilma da presidência e entregou sua principal figura, Lula, transformando-o em “mártir”, aos braços do autoritarismo judiciário aliado à Lava Jato. Com os desdobramentos do golpe e da prisão de Lula, e incontáveis manipulações do Judiciário, Bolsonaro leva a corrida presidencial e então configura um aprofundamento do giro à direita na América Latina, com o Brasil sendo o principal ponto de apoio à repudiável ofensiva do imperialismo de Trump sobre a Venezuela.

A águia do imperialismo se apoia sobre os ombros de Bolsonaro para nova ofensiva colonizadora na América Latina, e tenta forçar o reacionário golpe de Estado na Venezuela, encabeçado por Guaidó, aproveitando-se do justo descontentamento da população trabalhadora Venezuela contra a catástrofe social e econômica imposta por Nicolás Maduro. E o PT e a CUT diante disso tudo? Sentam e assistem a tudo sentados.

Com isso tudo, o PT mostra que não foi e não será alternativa aos trabalhadores que querem seriamente lutar contra a reforma da previdência, e é incapaz de lutar contra os avanços da direita e do imperialismo. Não podemos sentar e esperar passivos as próximas eleições em 2022 como tem proposto o PT. Propõe com o discurso de “fazer sangrar” o governo, como se tamanho ataque às aposentadorias, somado às crises palacianas (de Bebianno às investigações do filho Flávio e da campanha de laranjas), pudessem ter algum benefício apostando no desgaste de Bolsonaro.

Nessa visão, não há necessidade dos trabalhadores entrarem no tabuleiro político para intervir enquanto uma força social que altere a correlação de forças para a esquerda, possibilitando vencer os ataques e defender os direitos das mulheres. As mulheres estão na linha de tiro desse governo, e sua relação com a luta dos trabalhadores tem potencial explosivo que não cabem nas urnas, nem nas datas rotineiras, desorganizadas, que chamam as centrais sindicais. Mostraram que são um perigo para essa passividade imposta pelas velhas direções dos sindicatos.

O PSOL, com uma estratégia de “pressão parlamentar” cada vez mais tímida, aponta seguir caminhos semelhantes ao do PT, e isenta as centrais sindicais de sua responsabilidade.

O que os trabalhadores precisam é de alternativas que se choquem com essas direções sindicais para retomar em suas mãos os sindicatos e resgatar os métodos histórico de luta dos trabalhadores, que são as paralisações, as greves, as massivas manifestações de rua: a pressão da luta de classes é a única que pode barrar a reforma da previdência e fazer recuar a direita e o reacionarismo.

A tarefa imediata para os trabalhadores é batalhar em cada local de trabalho e dentro dos sindicatos e entidades estudantis pela construção efetiva de uma luta massiva contra a reforma da previdência e por justiça a Marielle Franco. É preciso, junto às bases das categorias, convocar um plano de lutas que coloque fim à essa trégua com o governo.

 
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