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ARTE E CULTURA
Carnaval 2019: a arte política tomou as ruas
Afonso Machado
Campinas

Nossa época tem dado inúmeros exemplos de como as insatisfações políticas podem ser ritmadas, alegorizadas e apresentadas publicamente como protesto artístico. A polarização ideológica que tomou conta do Brasil nos últimos tempos é canalizada esteticamente pela cultura popular: o Carnaval 2019 não deixou mentir que, no atual momento do país, sambar é protestar e protestar também é sambar.

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Protestar contra quem está no poder consistiria aparentemente numa válvula de escape fornecida pela música, pela dança e pelas fantasias. Todavia existe algo mais profundo no inconformismo político da folia hoje em dia. Talvez as ruas que abrigaram o Carnaval, começaram a gestar um movimento político e cultural que expressa anseios populares. Críticas ao atual governo, a defesa da soltura do ex presidente Lula, homenagens a Marielle Franco, críticas ao comercialismo carnavalesco, enfim, ficou mais uma vez comprovado que brincar e falar de coisas sérias, curtir e promover a reflexão crítica, são necessidades da arte brasileira do nosso tempo.

É comum encontrar na fala da direita a afirmação de que é preciso "recuperar" a cultura brasileira, "ameaçada" ideologicamente pelo socialismo. Mas fica difícil saber de que cultura eles estão falando: nosso país não cabe num conto de fadas patriótico. O Brasil não é um todo indivisível mas uma sociedade de classes, com uma montanha de injustiças históricas que ultrapassam o céu.
O que as manifestações da cultura popular fazem é denunciar este estado de coisas. Mas o que essa direita raivosa quer, afinal? Serão as interpretações românticas e açucaradas do Brasil? Difícil saber, pois a coisa anda tão hostil que até o amor de Cesi e Peri poderia soar subversivo hoje.

A verdade é que em vários blocos de Carnaval, uma ácida crítica realista embalou a rapaziada. Não cola este papo de que existe um fator de divisão antipatriótico entre aqueles que realizam críticas às desigualdades e injustiças sociais. Não foi a esquerda quem inventou essa situação e sim as classes dominantes ao longo de nossa história.

A sátira sempre foi um instrumento expressivo dos povos oprimidos. Despir situações históricas, personagens célebres e autoridades, arrancando-lhes o véu da solenidade, é um ato político feito com base nas manhas da cultura popular. Injetar humor selvagem nas folias significa dizer que as coisas não andam nada bem para a maioria da população. Pelo país a fora, blocos de carnaval cantaram com fúria e sensualidade seus descontentamentos frente aos rumos políticos do Brasil. Se o canto popular é um contexto para contar histórias, então registrou-se uma interpretação crítica da história do Brasil. Neste início de 2019 está claro que a cultura do povo é também a cultura do combate político.

 
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