Bolsonaro disse que a articulação do apoio parlamentar a Reforma da Previdência “está em processo”. Enquanto isso, repete as estratégias adotadas por Michel Temer, e busca abrir diálogo com a imprensa burguesa para negociar os termos da sua aliança pela disseminação de Fake News em defesa da Reforma da Previdência. Bolsonaro, que vinha tomando o lado da mídia controlada pelos evangélicos em disputa com a Globo e grandes veículos de imprensa, decidiu que estava disposto a negociar até com o Diabo para colocar todos os fatores de “poder real” da burguesia a serviço desse enorme ataque ao conjunto dos trabalhadores.
Convencer os trabalhadores, especialmente as mulheres, que estes devem admitir um futuro de incerteza se irão ter direito a aposentadoria, sequer se conseguirão sobreviver com um benefício miserável, não será tarefa fácil. Nessa mesma reunião, Bolsonaro tenta atacar um dos pontos débeis da proposta, a dificuldade de conseguir apoio feminino. Frente a isso falou que a equipe econômica estudava reduzir o aumento da idade mínima para mulheres de 62 para 60 anos.
Uma mudança cosmética a proposta original, que mantem um conjunto de ataques mais profundos. Dentre eles, está a possibilidade dessa mesma idade mínima ser reajustada automaticamente pelos próximos governos, por via de leis complementares, conforme dados abstratos em relação à expectativa de vida. Sabe-se lá quando as mulheres de fato terão direito a aposentadoria. Além disso, exigirá 40 anos de contribuição para que recebam o valor integral do benefício, os demais ficarão reféns a aposentadorias inferiores a um salário mínimo. Segundo a proposta, o valor dos benefícios poderá ser congelado, do contrário ao que prevê a Constituição, o que gerará desvalorização reais do benefício àqueles que já se aposentaram e aos que conseguirem se aposentar.
Além disso, Bolsonaro mencionou a possibilidade de alguma revisão sobre as mudanças no Benefício de Prestação Continuada, que na nova proposta aumenta para 70 anos a idade mínima para adquiri-lo além de reduzir para escandalosos R$ 400,00. (menos da metade do salário mínimo). Um ataque que recai sobretudo aos aposentados mais vulneráveis, fruto de trabalhos informais, sobretudo no campo, tirando dinheiro dos mais pobres.
Saiba por que é mentira que a reforma da previdência "ataca os ricos e protege os pobres"
Por sua vez, os capitalistas, políticos e militares serão poupados de ter que pagar pelo suposto “déficit” na previdência, mesmo sendo os principais responsáveis por ela. A grande imprensa escolhe não falar sobre as grandes empresas e grandes bancos, que lucram com diversos privilégios, e devem atualmente mais de R$450 bilhões para a Previdência Social, segundo relatório da CPI da previdência de 2017.
Como dado concreto: o Bradesco deve R$ 465 milhões à Previdência; a Vale deve R$ 275 milhões; a JBS, da Friboi, deve R$ 1,8 bilhão. Nada disso será cobrado dessas riquíssimas empresas e bancos. Pior: o banco Santander e o Itáu, que devem respectivamente R$338 milhões e R$25 bilhões à Receita Federal, tiveram suas dívidas perdoadas (em outras palavras, deram calote no Tesouro público, com a conivência dos governos, inclusive o de Jair Bolsonaro, que repetiu diversas vezes que "tornaria o Brasil um paraíso para os empresários"). Por que não se cobram estes bilhões dos ricos e se cobram largos anos de trabalho e uma aposentadoria miserável às mulheres e pobres?
As mulheres, desde as eleições, se mostraram uma importante oposição a seu governo, fruto do seu discurso misógino, traduzido em ameaças aos parcos direitos das mulheres hoje em relação ao aborto, ao uso de contraceptivos, ao debate de gênero e sexualidade nas escolas, mas sobretudo às condições de vida da esmagadora maioria de mulheres trabalhadoras. Apesar das manifestações massivas do #EleNão terem se restrito a uma oposição eleitoral, que coube a mídia, empresas e partidos burgueses tentarem cooptar as mulheres, abriram espaço para que mesmo ações de vanguarda, protagonizada pelas mulheres, com algumas dezenas de milhares, tivessem uma repercussão grande.
A promessa de reduzir o ataque à idade mínima mostra, por um lado, a necessidade de Bolsonaro responder ao perigo que as mulheres representam aos principais ataques de seu governo, enquanto uma vanguarda capaz de irromper a passividade instalada. Uma passividade imposta às mulheres pela ação consciente e complementar da burocracia sindical da CUT e da Marcha Mundial de Mulheres (ambas dirigidas pelo PT), de separar a luta pelos direitos das mulheres dos combates decisivos da luta de classes, como é a Reforma da Previdência, se limitando a uma “resistência democrática” parlamentar, de desgaste passivo ao governo, sem ações coordenadas por cada local de trabalho e estudo. Por outro, a promessa de Bolsonaro não passa da mais vil demagogia para captar alguma confiança na proposta (que há de se ver se ocorrerá), e impor uma derrota profunda ao direito a aposentadoria de milhões de mulheres, sobretudo as mulheres mais precarizadas pelo capitalismo.
Não mudarão a realidade "invisível" do trabalho doméstico que recai sobre as mulheres, em duplas/triplas jornadas, não remuneradas, como parte da exploração capitalista sobre os corpos das mulheres. Sem dizer que a realidade das empregadas domésticas se complica muito com a Reforma da Previdência. Em síntese, a Reforma da Previdência aprofundará a realidade obscura, mas milenar da opressão de gênero, que arranca a vida das mulheres sob a exploração capitalista.
Diante disso, para enfrentar o governo Bolsonaro as mulheres podem se apoiar em cada um dos avanços que o movimento feminista, negro e LGBT veio conquistando nos últimos anos e que o governo quer arrancar, para dar um combate decisivo à Reforma da Previdência com os métodos da luta operária contra o capitalismo e o patriarcado. Isso significa entender que a classe operária no Brasil é cada vez mais feminina e negra e, portanto, é um crime que os sindicatos não levantem tais demandas numa necessidade vital de unificar a classe trabalhadora e seus extratos mais oprimidos e explorados, incluindo toda a camada de precários em nosso país. Significa levantar um feminismo anti-imperialista, que, diante da ofensiva contra a Venezuela, possa levantar, sem nenhum apoio político à Nicolás Maduro, o rechaço primordial a ingerência imperialista de Trump na América Latina.
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