Aproxima-se aquele que a oposição venezuelana considera o dia D para rachar as forças armadas e tentar uma saída golpista contra Maduro. Cruzam-se ameaças e concertos musicais para disfarçar seus objetivos e ameaças cruzadas.
Às vésperas do #23F, recrudesceu na Venezuela o ultimato aos militares para forçar uma saída golpista contra o governo de Maduro. As declarações e ameaças foram “amenizadas” com uma série de concertos nessa sexta-feira, convocados pela oposição golpista e também pelo governo.
Um concerto para respaldar a intervenção
Sob o nome Venezuela Aid Live, a oposição montou um concerto musical na fronteira colombiana para cobertura ao que não é nem mais nem menos que uma intervenção direta contra a Venezuela.
Guaidó, apoiado pelo imperialismo estadunidense e à direita regional, decidiu utilizar demagogicamente a desesperadora situação social que vive o país para disfarçar de “ajuda humanitária” o que na verdade com o objetivo de quebrar as forças armadas e forçar uma saída golpista contra Maduro.
Para disfarçar esse objetivo nada melhor do que um show com muitas figuras reconhecidas com supostos fins benéficos. Carlos Vives, Juan Luis Guerra, Juanes, Ricardo Montaner, Alejandro Sanz, e o “Puma” Rodríguez são alguns dos artistas que participarão do recital que foi financiado e organizado pelo multimilionário britânico Richrd Branson, dono da gravadora Virgin Records.
No encerramento, estarão presentes os presidentes da Colômbia, Iván Duque, do Chile, Sebastián Piñera, e do Paraguai, Mario Abdo, se restassem dúvidas a respeito do caráter do mesmo.
A manobra é escandalosa, e o músico Roger Waters a contestou em um vídeo, publicado na internet, desmascarando as intenções do empresário Richard Branson. “Por mais que você possa crer em seus truques, nada disso tem a ver com ajuda humanitária. Isso tem a ver com Richard Branson estar trabalhando para o plano dos Estados Unidos de tomar o controle da Venezuela. Nada do que estão promovendo tem a ver com as necessidades do povo venezuelano”.
Para além da visão de Waters sobre a situação catastrófica que vive o povo venezuelano, indulgente com Maduro, sua declaração acerca do caráter desse recital financiado por Branson para favorecer os objetivos dos EUA e da direita golpista denuncia corretamente essa grosseira manobra.
O concerto, que será realizado no lado colombiano da fronteira, contará com sua versão oficialista do lado venezuelano, mediante um recital paralelo organizado pelo governo sob o lema “Hands off Venezuela” (Tirem as mãos da Venezuela).
Aumenta a tensão
Por trás do concerto, e um dia antes da ação preparada por Guaidó com o respaldo dos EUA, o que crescem são as tensões e as ameaças ingerencistas e golpistas, cada vez mais fortes.
Na semana passada, quando Guaidó anunciou a internção de trazer à força a “ajuda humanitária”, o fez com uma pressão extrema sobre os militares para que abandonem Maduro, em troca de uma “generosa anistia”. Porém, nos dias seguintes, não só isso não ocorreu mas também a cúpula das forças armadas reafirmaram seu respaldo a Maduro.
Com a operação já lançada e sem possibilidade de voltar atrás, essa semana, redobraram-se os ultimatos e as ameaças de todo tipo para forçar uma saída golpista.
Com esse objetivo, levou-se adiante a visita do senador estadunidense republicano Marco Rubio, no fim de semana passado, na cidade fronteiriça de Cútuca, e as declarações do conselheiro de segurança nacional, John Bolton, e do próprio Trump, com mensagens diretas aos militares, para que decidam antes de sábado se irão continuar apoiando Maduro.
Oportunamente, os EUA, na quinta-feira, fizeram saber que desertou o ex-chefe da inteligência militar da Venezuela, que agora diz reconhecer Guaidó, numa tentativa de aumentar a pressão sobre a cúpula militar.
O governo Maduro, por sua vez, respondeu fechando a fronteira com o Brasil (outro dos pontos por onde a oposição pretendia que ingressasse a “ajuda”) e todo o espaço aéreo, enquanto decidia se fecharia também a fronteira com a Colômbia.
Diante da possibilidade de não conseguir seus objetivos, os EUA saíram nessa sexta-feira responsabilizando as forças armadas da Venezuela caso a ação de sábado resulte em “derramamento de sangue”, e ameaçando reagir com sanções ou repercussões contra seus familiares no exterior. Não se trata só de ameaçar os militares, mas também de abrir a possibilidade a qualquer tipo de provocações que possam efetivamente terminar em um banho de sangue.
A jornada de sábado, que elevou a tensão política, apoia-se no discurso de uma direita que, como se vê, faz uso de demandas “democráticas” mas não cessa seu chamado aos militares para que ponham “ordem”.
Guaidó e os EUA usam os padecimentos de que sofre o povo venezuelano, como resultado das políticas antipopulares de Maduro e do saque dos empresários nacionais e internacionais, para levantar de forma demagógica a entrada de “ajuda humanitária”. Um verdadeiro cavalo de Troia que esconde a intervenção imperialista e um plano econômico neoliberal, para o que as calamidades que sofrem os trabalhadores e o povo venezuelano são apenas base de manobra de seus objetivos futuros.
No Brasil, o governo Bolsonaro também é um ponto de apoio importante dessa ofensiva golpista do imperialismo estadunidense contra a Venezuela. Repudiamos as provocações de Bolsonaro que, ajoelhando-se diante do amo do norte, põe o Brasil à serviço da suposta “ajuda humanitária”, através da qual pretende aprofundar as tensões golpistas na fronteira com a Venezuela, provocações que põem em risco as vidas venezuelanas.
Atende ao explícito desejo de Trump submeter a economia venezuelana e de seu povo à sede de lucros do capital financeiro internacional e saquear o petróleo do seu país, em detrimento das vantagens que a China extrai das riquezas do país.