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FRANÇA
300 pessoas debatem com "Révolution Permanente" sobre os Coletes Amarelos e o espectro da revolução
Revolution Permanente
França

Mais de trezentas pessoas assistiram, na noite de sexta-feira, à mesa de Révolution Permanente, no La Générale¹, no 11º arrondissement², de Paris. Mais de 600 pessoas acompanharam os debates, ao vivo, no Facebook. Em uma atmosfera cheia de emoção e determinação, um grande sucesso para o encontro intitulado "Coletes Amarelos: o retorno do espectro da revolução?"

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Foi no La Générale, local associativo e lugar militante conhecido, em que foi realizado o evento. Na mesa estavam Flora Carpentier e Daniela Cobet, membros do conselho editorial da Révolution Permanente; Anasse Kazib, trabalhador ferroviário da greve da primavera passada; Assa Traoré, do coletivo Vérité pour Adama; e três Coletes Amarelos, Franck e Antonio, ambos feridos durante os protestos e Oriane, na iniciativa das manifestações Mulheres Coletes Amarelos.

Flora Carpentier, militante da Révolution Permanente, reconhecida por seu engajamento, em campo, ao lado dos Coletes Amarelos, semanalmente, intruduziu a reunião: “Quem teria pensado que os coletes amarelos, estes objetos que todos temos às mãos, teriam se tornado o símbolo do confronto contra Macron e seu mundo, o Estado e sua polícia? “O movimento dos Coletes Amarelos nos deu esperança”. Ela explica a tarefa da Révolution Permanente: dar voz aos Coletes Amarelos, ignorando qualquer alegação da neutralidade: “nós escolhemos nosso lado, o dos Coletes Amarelos, de uma juventude que precisa de um futuro”.

Anasse Kazib a sucede, ao microfone, para trazer questionamentos sobre as perspectivas para o movimento e os métodos de luta. Para ele, se os Coletes Amarelos já mostraram muito, é para passar a uma etapa superior. Não podemos mais nos contentar em demonstrar, todos os sábados, e nos contentar em ser 80.000, 100.000, na rua. O que é urgentemente necessário para as centenas de milhares de pessoas que se mobilizaram, desde 17 de novembro, que foram feridas aos milhares, pela polícia, é ter uma vida decente, poder comer no final do mês. “devemos exigir o aumento dos salários!”. Este 5 de fevereiro será uma data chave: “ o 5 de fevereiro terá que transformar o movimento dos Coletes Amarelos em um movimento de todos, e não em seis meses, mas hoje, porque hoje já estamos com a corda no pescoço.” No dia 5, todos os Coletes Amarelos devem entrar em greve em suas empresas, bradou Anasse, porque a nossa luta não pode se contentar em ser apenas dirigida contra Macron e a classe política, mas deve atacar aqueles que nos exploram no dia a dia: as grandes patronais.

Então, três Coletes Amarelos falam aos presentes. Oriane, criadora da página do Facebook Mulheres Coletes Amarelos, e a responsável pela iniciativa dos eventos das Mulheres Coletes Amarelos na região parisiense, conta a sua experiência sobre mulheres precarizadas. “Um bom pobre é um homem pobre que está em silêncio, mas ainda mais, um bom pobre, é um pobre que está morto.” Ela reivindica o papel das mulheres no movimento dos Coletes Amarelos: “Nós também estamos contando nossos feridos”. Ela concluiu citando Mirabeau: “enquanto as mulheres não interferirem, não haverá verdadeira revolução.”

Dois Coletes Amarelos feridos, vítimas da repressão durante as manifestações, seguiram-na. Franck, 20 anos, um jardineiro paisagista, de Haute Marne, ficou cego de um olho, ao ser atingido por um tiro de bala de borracha, no Ato III. “Tenho 20 anos, não me atrevo nem a me olhar na neve, estou desfigurado”. “Desde 1º de dezembro não como mais, não durmo mais, perdi 20 kg”. “Penso nos meus futuros filhos, em como eles vão se alimentar, encontrar um apartamento, um emprego?”. Antonio foi atingido por uma granada Gli-F4, o mesmo tipo de granada que tocou Remi Fraisse, como ele recorda. Franck e Antonio organizam, para o Ato XII, uma grande marcha dos feridos, que deixarão Daumesnil para prestar homenagem e pedir justiça para os 2.000 Coletes Amarelos feridos durante o movimento. Eles estão lutando pela proibição do LBD 40 e dessas granadas. Como aponta Antonio: "Eu sou um militante contra a violência policial desde muito antes dos Coletes Amarelos, Adama, Theo, eu não os esqueço".

De fato, a violência policial que afeta o movimento de massa dos Coletes Amarelos hoje, está longe de ser uma novidade nos bairros populares. Este é a intervenção de Assa Traore, irmã de Adama Traoré, morto pela polícia em julho de 2016. Ela lembra que as lesões por bala de borracha são comuns entre os jovens de bairros pobres, evocando o caso de Fatouma Kébé, mãe de uma família devastada por um tiro de LBD há alguns anos. “Nós, em nossos bairros, não precisamos protestar para sermos mortos e sofrer violência policial.[...] Meu irmão foi morto, nós fomos mortos por este sistema por anos: nossos bairros são campos de treinamento”. “Hoje é um movimento que não pode ser feito sem os bairros populares, porque já sofremos essas brutalidades policiais.

Foi então que a mesa propôs aos presentes tirar uma foto de solidariedade, para exigir justiça a Zineb Redouane, 80 anos, que morreu em Marselha, no dia 2 de dezembro, depois de receber uma granada de gás lacrimogêneo em seu apartamento, mas também para exigir a libertação do boxeador Christophe Dettinger, cujo julgamento acontecerá em 13 de fevereiro, e a anistia de todos os Coletes Amarelos condenados, bem como para recordar a luta que tem sido travada há dois anos e meio para exigir justiça a Adama Traore, e a todos os seus irmãos encarcerados.

Daniela Cobet, membro do conselho editorial da Révolution Permanente, abordou um aspecto mais ideológico, tentando dar alguns elementos de resposta à questão que abre a reunião: "Coletes Amarelos: retorno do espectro da revolução? Ela destaca o caráter pré-revolucionário da situação, mensurável tanto pelo nervosismo das classes dominantes, quanto pela determinação dos Coletes Amarelos: "Quando vemos Franck e os outros Coletes Amarelos, que perderam um olho ou uma mão, que retornam à manifestação, vemos que algo muito profundo está acontecendo, ecoando momentos muito fortes em nossa história."

Diante desse movimento, a esquerda tem uma responsabilidade histórica, especialmente para evitar que a extrema direita tenha o campo livre para capitalizar a raiva social. É uma questão de aproveitar esse movimento e investir nele o máximo possível. Mas, certamente, não de forma acrítica: contra um movimento que reivindica o povo, devemos insistir na dimensão de classe e lutar por um 5 de fevereiro, que é o ponto de partida para uma verdadeira greve geral. É também sobre a questão do caráter internacional dessa classe que Daniela Cobet insistiu, mostrando que a solidariedade e a fraternidade, tecidas nos trevos e nas manifestações, ultrapassam as fronteiras da França, em conjunto com trabalhadores de todo o mundo, o que poderia ser o melhor antídoto contra a extrema direita. Longe de se contentar com uma luta contra o governo, os patões e sua política de classe devem ser confrontados. Eles estão organizados, então, nós também devemos nos organizar.

Em seguida, houve uma discussão com algumas intervenções da sala. Vários deles apontaram para a necessidade de se juntar aos bairros da classe trabalhadora, fazendo a ligação entre a precariedade dos Coletes Amarelos e o colapso dos edifícios em Marselha³, que matam. Novamente, intervieram os Coletes Amarelos de Rungis, além de um estudante de Paris 8, militante da Révolution Permanente. Numa atmosfera cheia de emoção e de determinação, o debate mostrou alta qualidade, expressando, de certa forma, a politização que vem emergindo, há dois meses, no movimento.

Uma assembleia de mulheres, então, foi improvisada, reunindo várias dezenas delas. Seguiram-se discussões amistosas ao redor de uma bebida. Um grande sucesso para este encontro, que não poderia ter acontecido sem a mobilização de uma determinação impecável dos Coletes Amarelos.

Nota da Tradução:

[1] La Générale: cooperativa artística, política e social. Realizam atividades gratuitas, em diversas áreas do conhecimento, com espaço para reuniões e oficinas. Para mais informações: https://www.lagenerale.fr/.

[2] Arrondissement: organização administrativa utilizada em Paris, Fr.

[3] No dia 5 de novembro de 2018, dois edifícios desabaram em Marselha, sudeste da França, deixando vários mortos e feridos. Apontam a deterioração dos prédios (antigos) como um dos fatores para o desabamento.

Tradizido de Revolution Permanente

 
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