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FRANÇA
França: Greve Geral pelo aumento geral dos salários e aposentadorias
Julián Vadis

Há uma semana, se respira um ar de greve geral. Os Coletes Amarelos de Rouen convocaram uma greve geral com prazo indeterminado. A continuidade e o encadeamento das manifestações abriu a necessidade de um salto no movimento. A Greve Geral também foi chamada por Olivier Besancenot, do NPA, apoiada por Jean-Luc Melenchon da LFI (França insubmissa) e finalmente pelo sindicato Solidários, que deixou de lado a possibilidade de um novo acordo que coloca a pressão sobre a direção da CGT - que, depois de virar as costas à raiva social, há 2 meses, se encontra a partir de agora tendo que enfrentar suas responsabilidades.

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Créditos da foto: O Phil des Contrastes*.
O movimento dos Coletes amarelos não para de dar cabelos brancos a Macron. Há dois meses a contestação cresce, mostrando um estado de espírito determinado e exemplar que está reavivando o espectro da Revolução.

Por que o chamado à greve feito pela CGT é um ponto de apoio?
Falando sinceramente, este chamado não foi um “momento de lucidez” de Philippe Martinez [2] que mudou de lado após ter virado as costas à raiva social. Isto ocorreu porque trabalhadores de outras categorias se somaram aos Coletes Amarelos, participando das jornadas de sábado e que a contestação interna da CGT diante da posição da confederação esteve cada vez mais presente e que Martinez acabou por consentir à organização desta jornada de greve para o próximo dia 05 de fevereiro.

Porém, e apesar de toda a sua combatividade, o movimento dos Coletes Amarelos, parece hoje se chocar com um teto de vidro. A correlação de forças imposta abalou Macron até suas raízes, no entanto, não foi suficiente para obter uma vitória em toda linha. A questão que se coloca hoje de fato, é o aumento da relação de força e a massificação do movimento nas ruas e na ação. E para que os fins de semana de mobilização se transformem numa semana amarela, a questão da Greve Geral se coloca como uma realidade avassaladora. Esta aspiração de parar o país se torna, a cada dia, uma vontade que ganha cada vez mais força junto aos Coletes Amarelos.
É por este motivo que, apesar da raiva legítima dos Coletes Amarelos pelos “chefes sindicais”, que a data de 05 de fevereiro é uma ocasião que não se pode deixar passar. Não para firmar uma aliança “por cima” com Martinez, mas para costurar laços de convergência “pela base”, concretamente a partir do aviso prévio da greve à disposição. Pois, está claro que se trata de uma base material indispensável para que o movimento dos Coletes Amarelos “contamine” as empresas: se isto fosse possível de acontecer, não se teria dúvidas de que a greve não seria apenas uma vontade, mas sim uma realidade atualmente.

5 de fevereiro, ponto de partida da Greve Geral?
Reconheçamos uma realidade para Martinez: não existe um botão “greve geral”. Reconheçamos também um outro problema que é de sua responsabilidade: o secretário geral da CGT, assim como seus antecessores e semelhantes, colocam sempre o “pacote” para a preparação destas jornadas de greves nacionais sem qualquer continuidade. Neste sentido também será da base da CGT , dos militantes de base honestos e dos trabalhadores de categorias sindicalizados ou não, que virá a solução.

Mas o problema é mais profundo. Várias décadas de ofensivas neoliberais deixaram verdadeiras barreiras à mobilização dos trabalhadores. Uma precarização selvagem, tornou difíceis todo tipo de estruturação coletiva dos trabalhadores, a multiplicação de contratos precários (CDD, intérim - contratos de tempo determinado e intermitentes, em tradução livre) abriram diretamente a porta do desemprego em caso de “rebelião”, além do assédio dos militantes sindicais combativos, tudo foi costurado para limitar a capacidade de mobilização dos que estavam no coração da economia. Uma fraqueza imposta a golpes de cassetete, alimentada pela sucessão de derrotas após 1995 e que favoreceu a propaganda neoliberal: no fim, não haveria nem alternativa desejável, sem alternativa desejada!

É por esta razão que o movimento dos Coletes Amarelos nos ofereceu uma verdadeira bolha de ar fresco: arregaçando as janelas, soltando as amarras, quebrando em mil pedaços este “mito neoliberal”! Não, nós não queremos este mundo imposto, que nos explora até a morte, que deteriora nossas condições de vida, que nos mergulha sem cessar na precarização. Em outras palavras, os Coletes Amarelos devolveram nossa capacidade coletiva de superar o conjunto de nossas dificuldades.

A Greve Geral começará na manhã do dia 05 de fevereiro? Seria bem otimista responder categoricamente esta questão pela afirmativa. Mas esta data pode marcar uma virada para começar a sua construção: convergir concretamente os Coletes Amarelos e setores mobilizados, principalmente com o começo do movimento junto aos estudantes. Colocar na rua e se dirigir à alguns setores do mundo do trabalho, aqueles que ainda desfrutam da capacidade de se mobilizar (como, por exemplo, o bastião de ferroviários que provou sua força, apesar da derrota de um plano de luta desastroso das direções sindicais, na última primavera francesa) para que juntos, com os Coletes Amarelos, se abra a perspectiva de se atrair outros setores do mundo do trabalho para a mobilização.

Colocar as bases da convergência e da Greve Geral a partir de agora! Reivindiquemos um aumento geral dos salários, das aposentadorias e dos benefícios sociais aos mais pobres!

De fato, esta é uma tarefa que hoje se coloca diante de nós. Para isto, é aparentemente indispensável fazer emergir uma série de reivindicações gerais, que unifiquem o conjunto das reivindicações setoriais do mundo do trabalho e dos Coletes Amarelos.

O aumento geral dos salários e das aposentadorias, atrelado à inflação, para evitar que o “ganho extra” de renda da população seja engolido em poucos meses, como em 68, surge como uma reivindicação absolutamente central. Devemos exigir o fim dos impostos indiretos como o TVA [3], substituindo-os por uma taxação direta sobre o capital das grandes empresas e multinacionais. Para frear e acabar com o desemprego, colocando um ponto final a um ritmo de trabalho infernal, é preciso exigir o fim dos contratos precários, a proibição das demissões e o emprego massivo, tanto no setor privado quanto no setor público por meio de uma redução significativa no tempo de trabalho. Mesmo que estas reivindicações não assegurem a vitória nem a certeza de concretizar a emergência e a generalização da greve, estas colocam as bases de uma possível contaminação do “espírito revolucionário” presente nos Coletes Amarelos para dentro das empresas. Este é um combate que vale a pena ser travado.

Notas da tradução:
*Texto da foto: Greve para não andarmos em marcha-ré (em tradução livre).
[1] Trata-se de Eric Drouet uma das figuras públicas dos Coletes Amarelos.
[2] Secretário geral da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores).
[3] TVA: imposto indireto pago pelos consumidores, consiste numa taxa sobre o valor adicionado das mercadorias.

 
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