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VENEZUELA
Venezuela: entre os chamados ao golpe e a repressão aos protestos
Milton D’León
Caracas

Na segunda, um grupo de 20 integrantes de baixo escalão da Guarda Nacional protagonizaram um motim, aumentando os níveis de tensão sob os chamados da oposição de direita aos militares para se rebelarem. Ao mesmo tempo, foram reprimidos focos de protesto que se desenvolveram durante o dia em algumas zonas de Caracas. Nesta terça, o vice presidente norte americano, Mike Pence, mandou uma mensagem de apoio à oposição, chamando diretamente à destituição de Maduro.

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Em uma situação ainda não muito clara, um grupo de 20 integrantes da Guarda Nacional Bolivariana (GNB, polícia militar venezuelana) - organismo responsável pela “segurança” e controle social - deteve na madrugada da segunda feira seus oficiais chefes em um posto ao sudoeste de Caracas. Segundo o relato oficial, a partir dali se dirigiram a um posto de comando ao leste da cidade, onde roubaram várias dezenas de fuzis, e em seguida se dirigiram para outro posto da GNB ao oeste da cidade, onde houve uma troca de tiros, mas finalmente, ao amanhecer, foram convencidos a se render e se entregar à justiça.

É difícil elaborar uma hipótese sobre o que realmente ocorreu dado a nebulosidade da situação e a grande incerteza que reina atualmente no país. O que é claro, é que o clima gerado pela própria oposição de direita incitando constantemente as Forças Armadas a impor a “ordem” na situação, ou seja, a levantamentos golpistas para depor Maduro, junto à catástrofe social que vive o país, abre situações de contestação nos quartéis, não sendo de se estranhar que ocorram tais acontecimentos.

A oposição de direita não se cansou de fazer chamados abertos a uma rebelião militar ou a um golpe, contando para isso com o respaldo grosseiro e intervencionista do governo imperialista dos Estados Unidos. Dessa maneira, Juan Guaidó, atual presidente da Assembleia Nacional e do mesmo partido de Leopoldo López, Vontade Popular, disse abertamente: “Fazemos um chamado claro às Forças Armadas, a essa enorme maioria de soldados e oficiais que portam com honra seu uniforme para que não se deixem corromper (...) para que deem um passo à frente (...)”.

Este chamado golpista vem acompanhado de um “incentivo” para os militares. A Assembleia Nacional emitiu um decreto que promete anistia para “todos os funcionários civis e militares que não reconheçam Maduro”.

Para elevar ainda mais a aposta em um intervencionismo sem limites, esta quarta o vice presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, publicou em sua conta de Twitter um vídeo abertamente golpista, no qual afirma falar em nome de Trump, caracterizando Maduro como um ditador e reconhecendo a Assembleia Nacional como o órgão de poder legítimo. Ao mesmo tempo apoia o chamado de Juan Guaidó para destituir a Maduro e estabelecer um governo de transição. O vídeo finaliza com o apoio à marcha chamada para esta quarta 23 pela direita.

Eles querem retirar Maduro da mão do imperialismo ou das FANB (Força Armada Nacional Bolivariana), não para pôr um governo “democrático” mas um governo “forte”, apoiado nestas mesmas FANB, para poder impor sua “saída” à crise com mais fome, entrega e repressão. É mais do que sabido que o plano da direita não é aplicar um programa em função dos interesses da maioria do país. Por isso diante do cenário que vive a Venezuela é necessário opor-se categoricamente a qualquer tipo de saída golpista.

A resposta de Maduro

Maduro aproveita estas ações e chamados para fortalecer seu bonapartismo e seu caráter repressivo, mirando contra o povo, tal como demonstrou na própria segunda feira com a repressão aos distintos bairros que saíram para protestar. Esvaziado de apoio popular, o governo Maduro não apenas se sustenta nas Forças Armadas, como praticamente governa conjuntamente com elas, sendo elas parte das distintas camarilhas do chavismo que sustentam o governo e dividem entre si as frações de poder.

Durante todo a segunda até a madrugada de terça, o Governo descarregou uma brutal repressão sobre pelo menos uma dezena de protestos de rua, que tiveram início em Caracas, e se estenderam inclusive por zonas consideradas bastiões do chavismo.

Alguns centros de acompanhamento dos conflitos como OVCS (Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais) calculam ao menos 30 focos de protestos registrados até a meia noite em Caracas, a maioria em barricadas do município de Libertador, onde estão localizadas todas as sedes dos poderes públicos. Durante a jornada abundaram vídeos e imagens pelas redes sociais buscando conter e sufocar os focos de protestos, inclusive disparando gás lacrimogêneo em áreas residenciais e até invadindo edifícios com disparos de bala de borracha.

Estes protestos são produto da saturação das massas frente este governo em meio a uma catástrofe econômica que se agudiza e se aprofunda no país, aumentando as calamidades. Um cansaço enfrentado pelo Governo com repressão. É de primeira ordem denunciar esta repressão ao povo e os que saem a protestar.

É necessário se enfrentar o governo de Maduro que afoga cada vez mais os trabalhadores e os setores populares com a catástrofe econômica, além de cercear as liberdades democráticas, aumentando sua escalada repressiva. Mas também é necessário se posicionar contra a oposição de direita, que incita a intervenção das Forças Armadas por via direta do golpismo, e que não representa de modo algum as aspirações e interesses da classe trabalhadora e do povo, mas que encarna um projeto político e econômico totalmente pró-empresarial e de maior submissão aos interesses do capital estrangeiro e do imperialismo.

Esta quarta (23) está sendo convocada uma mobilização da direita com o programa golpista e de ingerência que eles vem levantando. De sua parte o governo de Maduro, que convoca sua própria mobilização, aproveitará a recente rebelião para militarizar as ruas, não apenas contra esta marcha mas também contra os bairros populares que começam a colocar-se de pé. A agenda dos trabalhadores e o povo pobre não é a da direita. Como o demonstraram os protesto de segunda, sua saturação com as condições de miséria não necessariamente vão de mão dada com um apoio à oposição de direita.

Por isso enfatizamos uma vez mais que “Com Maduro e o regime atual não há saída, mas o povo trabalhador é quem deve expulsar Maduro, com seus próprio métodos de luta, e não que o descontentamento popular sirva de base de manobra para uma operação política da burguesia e do imperialismo. Por isso dizemos categoricamente que apenas o povo trabalhador deve ser o que expulse Maduro. Assim mesmo, apenas um governo operário e do povo pobre, sustentado nos organismos de luta que proponham as massas, e aplicando uma saída operária em ruptura com o imperialismo e os capitalistas, pode dar resposta favorável ao povo diante da catástrofe imperante, que nos continua arrastando no pântano da miséria e das calamidades”.

 
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