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EDITORIAL
Semana 1 do Bolsonaro: 50 tons de uma guerra contra os trabalhadores
Letícia Parks

Foram anunciadas 50 medidas para “destravar” a economia nacional pelo governo Bolsonaro junto aos ministros, em reunião na última 5ª feira, 03/01. Dentre esses ministros estão Damares Alves, que opina que meninos devem usar azul e meninas rosa, ou Guedes que defende a democracia aonde os patrões tem todos os direitos, e os trabalhadores nenhum. Para esse time de inimigos da classe trabalhadora, das mulheres, negrxs e LGBTs, “destravar” a economia significa em primeiro lugar nos fazer trabalhar até morrer, liberar mais dinheiro pra dívida pública, privatizar estatais, avançar na reforma trabalhista, entre outros ataques. Veja a seguir os 50 tons dessa guerra declarada do governo Bolsonaro contra a classe trabalhadora e qual programa e estratégia precisamos para vencer esses ataques e o reacionário governo empossado.

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Uma primeira semana de um governo que declarou guerra contra os trabalhadores

Nessa quinta-feira (03/01), em suaprimeira reunião com os ministros, dentre eles conhecidos inimigos das mulheres, LGBTs e da classe trabalhadora comoDamares Alves e Paulo Guedes, Bolsonaro anunciou que serão implementadas 50 medidas para “destravar” a economia. Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil que já confessou caixa 2, disse que as medidas vão facilitar a vida das pessoas.

Ainda que as 50 medidas não tenham sido anunciadas na totalidade, se prevê que sigam a tendência do que foram os primeiros dias da gestão Bolsonaro, que desde que assumiu anunciou o objetivo de idade mínima para a aposentadoria de 62 anos, redução do BPC que afeta os mais pobres e ataques à aposentadoria rural. Ou seja quer espalhar miséria para melhorar a vida dos burgueses. Já aprovou também por MP um salário mínimo menor do que o votado na comissão orçamentária de Temer, a privatização das estatais (Eletrobrás, portos e aeroportos, totalizando cerca de R$7 bilhões em investimentos e precarização do trabalho e encarecimento dos serviços para os trabalhadores):

A lista continua: quer avançar para implementar mais profundamente a reforma trabalhista, tentou acabar com a Justiça do Trabalho, destruir os direitos dos povos originários e quilombolas sobre suas terras, passando tudo para que a agricultura atropele, tudo isso com a demagogia da redução do imposto de renda, que foi desmentida por Onyx no dia 04/01. Com a criação do reacionário Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, dirigido pela reacionária Damares Alves (que inclusive está sendo investigada pelo possível envolvimento de sua ONG no tráfico de pessoas), Bolsonaro também retirou a população LGBT das diretrizes dos Direitos Humanos.

A mãe de todos esses ataques é a menina dos olhos da burguesia internacional, a Reforma da Previdência, que Bolsonaro e Guedes entraram numa corrida para, através de um fatiamento, aprovar medidas de burocratização do acesso aos benefícios do INSS para trabalhadores rurais, corte do BPC, entre outros ataques, através de Medida Provisória, o que significa enfiar goela abaixo eixos da reforma sem sequer votar no Congresso. Para o primeiro semestre, pretendem colocar a Reforma da Previdência em votação em todo o seu texto, com a absurda idade mínima de 62 anos pelo menos, faixa etária que boa parte dos trabalhadores sequer conseguem alcançar, o que significa, em todos esses casos, trabalhar até morrer.

Em coletiva à imprensa, apresentou sua ordem de prioridades: "Se fosse possível votaria logo no dia 1º de fevereiro, nós temos que respeitar logicamente o calendário, a tramitação de proposições, e gostaríamos e pretendemos aprovar porque não é uma proposta minha, é do Brasil. (...) O que mais interessa, num primeiro momento, é a idade mínima."

A lua de mel do governo Bolsonaro e uma corrida de velocidades contra as inevitáveis desilusões desse “casamento”

O ritmo dos ataques é acelerado, mas apesar de poder parecer que a velocidade tenha a ver com uma vantagem moral, todos os analistas burgueses opinam em uníssono que essa corrida de velocidades dos ataques contra a nossa classe tem a ver justamente com uma “lua de mel” da nova gestão, que conta ainda com opiniões em aberto das massas que elegeram Bolsonaro para poder avançar sobre tantos terrenos. Isso porque os eleitores de Bolsonaro não assinaram um cheque em branco quando digitaram sua legenda na urna, pelo contrário. Em meio a uma crise política e econômica da magnitude de uma crise orgânica, o rechaço das massas à política, apesar de confuso, certamente contém traços de autodefesa e de ódio aos políticos ricos (que por hora atingiu com maior força os partidos mais tradicionais, como DEM e mais profundamente o PSDB) que impedem que seja tão simples aprovar a reforma de todas as reformas, que Guedes, Bolsonaro e toda a burguesia nacional e imperialista fazem de tudo para nos convencer de que é necessária mas não conseguem, que é a reforma da previdência.

Bolsonaro em seus dois discursos de posse, dentro e fora da Câmara, propaga em nome de uma ideologia nacionalista em defesa da bandeira verde e amarela (que sabemos que é manchada de sangue negro, indígena e LGBT) uma profunda demagogia de quem está vendendo todo o país para os interesses imperialistas. O maior deles, a reforma da previdência, promete aos especuladores internacionais um exército de trabalhadoras e trabalhadores que pela doença e o avançar da idade, aceitem salários de miséria e nenhum direito, aumentando ainda mais as taxas de lucro que já são altíssimas no Brasil (a das indústrias automobilísticas, por exemplo, chegam a serem 3 vezes maiores que as taxas norte-americanas).

As massas brasileiras estão sendo bombardeadas por todos os lados de uma ofensiva midiática pró reforma da previdência. Os jornais, analistas, até as novelas, falam que o déficit público é culpa do INSS, mesmo que os próprios analistas fiscais indicam que a previdência não tem nada a ver com isso, e que a maior culpada das contas não fecharem é justamente a dívida pública, a mesada-banqueiro que nenhum governo brasileiro deixou de pagar, honrando com nosso suor e perda de direitos e serviços públicos uma dívida que ninguém sabe como, onde e quando começou e que vai direto pro bolso do capital financeiro internacional, com bancos como Itau, Bradesco, ou o Santander - que ganhou até presidente do Banco Central - como detentores de enormes quantias do tesouro nacional. Mesmo com o bombardeio dessa propaganda pró-reforma, os governos federal e estadual não conseguem convencer a classe trabalhadora a aceitar esse enorme ataque, e isso se provou parcialmente nas greves gerais de 2017, que só não foram maiores pelo tamanho da traição das burocracias sindicais.

Esse "empate" no qual Bolsonaro está atuando para tensionar forças pro lado dos lucros dos ricos e poderosos, é a comprovação cabal de que a classe operária não está derrotada estrategicamente. Impedimos a aprovação da reforma da previdência até agora, e não fosse a traição das centrais em julho/2017, nossa força barraria também a reforma trabalhista. Frente a muitos ataques a nível regional, houveram limites colocados pela força da organização dos trabalhadores. Bolsonaro e a burguesia sabem que há um amplo rechaco da classe operária e dos setores populares aos ajustes,isso é uma expressão latente de que por mais que o golpe tenha se consolidado, a classe operária não está derrotada, Bolsonaro irá tentar aproveitar sua lua de mel para impor uma derrota estratégica e por isso, mesmo com as direções do movimento sindical entregando, os trabalhadores podem resistir e assistirmos profundos embates da luta de classes, onde é fundamental estarmos preparados com programa e estratégia para vencer.

As centrais sindicais e a necessidade de uma ruptura da “paz social” a Bolsonaro

Como Marcello Pablito escreveu em seu artigo: "Na data da posse de Bolsonaro (01/01/2019), as principais centrais sindicais do país dedicaram uma carta ao atual presidente do país com uma tentativa de diálogo respeitoso. (…) A carta parte de não denunciar o fato de que Bolsonaro se elegeu em eleições manipuladas pelo judiciário e tuteladas pelos militares, sucedidas de um golpe institucional com esses mesmos atores e da prisão ilegítima de Lula. O PT e PCdoB à frente da direção da CUT e CTB, sucumbem definitivamente às alas golpistas da burocracia sindical da Força, UgT e Nova Central, ao participar do silêncio como se não houvesse um ataque profundo às liberdades democráticas dos trabalhadores com a consolidação do golpe institucional.”

A normalidade que as centrais sindicais pintam tem por trás uma estratégia de esperar o desgaste de Bolsonaro para responder eleitoralmente em 2022. Essa estratégia não poderia ter outro nome que não traição. Uma traição de quem busca se submeter totalmente para manter seus privilégios e garantir sua sobrevivência, às custas de rifar os direitos dos trabalhadores, num momento onde Bolsonaro promete acabar com o socialismo e chama um movimento onde uma das suas reivindicações será por fim ao sindicalismo. Uma pelegagem pura de burocratas que temem o fim de um modelo sindical que em verdade, já não existe mais, e em nome de migalhas desse modelo, vão querer esmagar os trabalhadores para manter seus privilégios. A CUT e CTB cobrem pela "esquerda" as centrais golpistas, e atrai até mesmo a própria esquerda, como aconteceu com a Intersindical e a CSP-Conlutas, que se adaptaram e assinaram uma carta na qual o objetivo das outras centrais era negociar a reforma com o governo.

Essa é a verdadeira estratégia do PT, que na voz de seu antigo dirigente, José Dirceu, deixou claro como a luz do sol em entrevista antes da posse de Bolsonaro: “(devemos) deixar a cadeira presidencial queimá-los”, esperando que a própria implementação dos ataques desgaste Bolsonaro e sua trupe reacionária, para passivamente e “naturalmente” voltarem em 2022 já com todos nossos direitos arrasados. Querem que confiemos mais na tal “resistência parlamentar” de 70 deputados do que na força da nossa classe, em sua grande maioria mulheres e negras e negros, revoltados com as declarações racistas e patriarcalistas de Bolsonaro e seus ministros e dispostos, se organizados pela base, a luta contra os ataques econômicos que se preparam para fazer com que paguemos pela crise.

O PSOL compõe a mesma frente com o PT, porém, apesar de muitos posicionamentos de suas referências públicas, não apresenta outra saída estratégica ao se silenciar sobre as manobras da burocracia sindical, sem fazer qualquer tipo de chamado a organização dos trabalhadores para superar esse obstáculo enorme de um punhado de burocratas que não se enfrentam com o governo para não perder seus poucos privilégios. É preciso batalhar por uma saída para que os capitalistas paguem pela crise, que deve desenvolver, junto ao rechaço urgente à reforma da previdência e as demais retiradas de direitos econômicos e políticos, pontos programáticos que ataquem a espoliação imperialista e os lucros capitalistas, como o não pagamento da dívida pública, o fim das privatizações com estatização total das empresas que já foram vendidas total ou parcialmente, com funcionamento sob gestão dos trabalhadores que ali trabalham e controle popular, para enfrentar as burocracias estatais e as máfias que sugam os recursos públicos das estatais do petróleo e energia, aeroportos e transporte público. Além disso, é preciso atacar o reacionarismo contra a população LGBT, mulheres, negras e negros e indígenas, lutando pela demarcação das terras quilombolas e dos povos originários, igualdade salarial entre negras, negros, brancas e brancos, homens e mulheres, trans e cis.

A guerra já começou, e o inimigo está disposto a tudo para abaixar a cabeça para o capital imperialista norte-americano. Mas a nossa classe é muito mais forte. Só preciso entrar com tudo nessa guerra, organizando em cada local de trabalho e estudo, impondo aos sindicatos e centrais sindicais um plano de luta e batalhando para recuperar os sindicatos e centros acadêmicos para a luta de classes. A votação da reforma já tem data. Nossas forças devem estar unidas, independente de qual central sindical dirige nossas categorias, para colocar de volta a classe operária, o verdadeiro gigante nacional, em ação.

 
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