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GOVERNO BOLSONARO
Militares que oprimiram o povo negro do Haiti povoam altos cargos do gabinete Bolsonaro
Marcello Pablito
Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

As credenciais de interventores a mando da ONU no Haiti, aprofundando a opressão do povo negro, aparecem com destaque para ocupar cargos de estatura no gabinete de Bolsonaro. Os generais que tiveram papel ativo em submeter o povo haitiano às vontades dos Estados Unidos - e que reivindicam as operações repressivas no país como "treinamento para atuação nos morros e favelas do Brasil" - foram beneficiados com ministérios e importantes secretarias do novo governo da extrema direita.

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Foto: picture-alliance/dpa

As credenciais de interventores a mando da ONU no Haiti, aprofundando a opressão do povo negro, aparecem com destaque para ocupar cargos de estatura no gabinete de Bolsonaro. Os generais que tiveram papel ativo em submeter o povo haitiano às vontades dos Estados Unidos - e que reivindicam as operações repressivas no país como "treinamento para atuação nos morros e favelas do Brasil" - foram beneficiados com ministérios e importantes secretarias do novo governo da extrema direita.

Bolsonaro colocou no GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno, primeiro comandante da Minustah ("Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti") entre 2004 e 2005; levou para a Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz (que esteve no Haiti de 2007 a 2009); e indicou para o comando do Exército Edson Leal Pujol (líder da força de paz entre 2013 e 2014).

Floriano Peixoto Vieira Neto, que coordenou a missão entre 2009 e 2010, é cotado para assumir a gestão de contratos de publicidade do governo, na Secretaria-Geral da Presidência.

Dos 11 brasileiros que chefiaram as tropas ao longo dos 13 anos, cinco terão funções relevantes na República a partir dos próximos meses, se for incluído na conta o último comandante da ação em solo haitiano, Ajax Porto Pinheiro (2015 a 2017).

Ajax Pinheiro será assessor especial do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, substituindo Fernando Azevedo e Silva, que era assessor de Toffoli até ser escolhido como ministro da Defesa.

Azevedo e Silva é mais um que atuou na missão no Haiti. O general da reserva foi chefe de operações do contingente brasileiro no país, entre 2004 e 2005.

Outro nessa categoria é o próximo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Oficial do Exército de 1992 a 2008, ele esteve encarregado de tarefas militares em Porto Príncipe entre 2005 e 2006.

Durante os 13 anos de ocupação militar chefiada pelo Brasil (a maior parte deles sob as presidências do PT, Lula e Dilma, e também sob o governo Temer), as tropas brasileiras e da Minustah não levaram nada de humanitário ao Haiti. Ao contrário, afogaram em sangue a revolta do povo haitiano que se levantava contra a fome e à miséria provocadas pela opressão e exploração imposta tanto pela burguesia local, mas sobretudo pelo imperialismo naquele país.

As tropas brasileiras, cumpriram um papel auxiliar na manutenção de regimes e governos que atendiam aos interesses do imperialismo, em primeiro lugar dos Estados Unidos (verdadeira paixão do vassalo Bolsonaro). Durante esses 13 anos não levaram mais do que opressão, como obrigar as mulheres haitianas a serem escravas sexuais em troca de comida (denúncia veiculada em diversos periódicos, veja aqui, aqui e aqui, prática comum das tropas de ocupação da ONU), desrespeitando os mais elementares direitos civis com invasão permanente das residências pelo exército, que também promoveu o desvio e ocultamento de alimentos, como se vê nessa reportagem d’O Globo, assassinatos, proibição de atos e repressão a manifestações políticas, destruição da infraestrutura do país promovendo catástrofes sociais (como o surto de cólera que se seguiu aos estragos do furacão Matthew), entre outras atrocidades.

As tropas foram para Haiti (assim como para o Congo e a República Centro Africana) com um discurso falacioso de “paz”, “pacificação” e “estabilização”. Na prática, essa "pacificação" estava a serviço de manter os haitianos sob a repressão internacional de outros países, sobre o comando do imperialismo para conter sua população, que foi a primeira a lutar por sua independência e fazer revolução, tornando-se uma república.

Uma história de revoluções, dominação e golpes militares

O Haiti entrou para a história como o primeiro país do mundo em que os escravos negros arrancaram com uma revolução o fim da dominação da metrópole francesa e também o fim da escravidão. Mesmo depois da gloriosa revolução haitiana este país é marcado por sucessivos golpes militares e as sucessivas ocupações do Estado norte-americano (algumas chegaram a durar quase 20 anos), que fazem da democracia haitiana algo completamente degradado e escancaram o nível de ingerência imperialista neste país.

Durante os anos 1915 e 1934 o Haiti foi ocupado militarmente pelos Estados Unidos. Em 1946 Dusmarsais Estimé foi eleito e destituído. Em 1957 François Duvalier (Papa Doc) foi eleito com o apoio dos Estados Unidos e depois instalou uma das ditaduras mais sanguinárias da América Latina, tornando-se presidente vitalício de 1964 a 1971 sendo substituído no poder por Jean-Claude Duvalier (o Baby Doc) até 1986, quando foi substituído pelo General Henri Namphy. Em 1988 ocorreu um novo golpe militar que levou ao poder o chefe da guarda presidencial, General Prosper Avril.

Em 1991, Jean-Bertrand Aristide, que havia sido eleito presidente, foi deposto por um golpe militar liderado pelo General Raul Cedras depois de cinco meses de governo. Em 1994 o governo Clinton, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização das Nações Unidas (ONU) impuseram sanções econômicas até que os militares aceitassem o retorno de Aristide ao Haiti com o objetivo de avançar nas privatizações e ajustes exigidos pelo FMI.

Em 2000, Aristide, que era um ex-padre ligado a ações humanitárias no país, obteve 92% dos votos, porém, traindo o programa que havia ganho a confiança do povo haitiano, foi completamente submisso a agenda dos Estados Unidos, o que fez com que enfrentasse uma forte resistência pular e fosse deposto em 2004 depois de inúmeros protestos e uma forte convulsão social no pais. A ocupação militar do Haiti se deu como forma de conter os protestos que tomaram o país naquele momento.

As premiações de Bolsonaro são parte dessa história de opressão, na qual os generais brasileiros não cumpriram um papel menor. Uma verdadeira vergonha, a ser repudiada contundentemente.

Repúdio à participação brasileira na ocupação do Haiti

Bolsonaro está premiando os generais interventores que comandaram, durante as presidências do PT e de Temer, a ocupação do Haiti e a repressão de nossos irmãos negros naquele país, submissos aos Estados Unidos e ao imperialismo estrangeiro.

Repudiamos veementemente esses generais e a política conjunta de ocupação e opressão do Haiti. Exigimos de imediato a retirada de todas as tropas da ONU do Haiti, do Congo e da República Centro Africana, "missões" essas que, como em todos os países da África e da Ásia, levam apenas catástrofes, misérias e mortes. Os bandidos nacionais responsáveis por estas intervenções militares estarão representados na cúpula do G20, que terá início essa sexta-feira em Buenos Aires, chefiada por Donald Trump. Estamos ombro a ombro com os trabalhadores e a esquerda argentina que protesta hoje contra os chefes do imperialismo internacional e seus capachos na América Latina: não são bem vindos!

No Brasil é necessário estarmos juntos aos imigrantes na luta em defesa do povo haitiano que vive no Brasil. Lutar para que recebam os mesmos salários e tenham os mesmos direitos dos trabalhadores brasileiros. Todos os povos oprimido e possuem uma dívida com o povo haitiano, o primeiro país do mundo a fazer uma revolução é o primeiro a abolir a escravidão. Valorizar essa história é nos colocar ombro a ombro com nossos irmãos haitianos, contra o racismo de Bolsonaro.

 
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