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BANCADA EVANGÉLICA ATACA PSICÓLOGOS
Marco Feliciano e psicólogos evangélicos querem CPI de conselhos pelo “direito” à LGBTfobia
Fernando Pardal

O deputado da bancada evangélica Marco Feliciano (Podemos) disse que irá entrar com pedido de CPI dos Conselhos de Psicologia por uma suposta “perseguição religiosa” após a cassação do registro da psicóloga Patricia Teixeira em decorrência de um vídeo onde critica a “ideologia de gênero” e defende a imposição da heteronormatividade e da família tradicional às crianças.

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Há anos as igrejas evangélicas fundamentalistas como as de Marco Feliciano (Assembleia de Deus) decidiram tentar dar uma roupagem supostamente “científica” a diversos de seus dogmas preconceituosos, machistas e LGBTfóbicos. Para isso, se utilizam de “psicólogos” ligados às suas igrejas para difundir crenças de intolerância e desrespeito à diversidade como se estivessem baseadas em concepções científicas sólidas e fundamentadas. Frente à reação dos Conselhos de Psicologia em âmbito regional (CRP) e federal (CFP), que cassam o registro de quem faz esse absurdo uso do título de psicólogo, o deputado do Podemos contra-ataca e quer criminalizar os conselhos.

Um dos grandes embates em torno desse tema, cujos absurdos denunciamos fortemente no Esquerda Diário, foi o tema da “cura gay”, que o próprio Marco Feliciano - ao conquistar a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara por meio de negociatas que envolveram até o PT (na época no governo) - tentou transformar em lei. Na época, as manifestações nas ruas impediram esse imenso retrocesso.

Em 2017, o debate voltou a ser pautado a partir de autorização da Justiça Federal para as chamadas “terapias de reversão”, mais conhecidas como “cura gay”. Enquanto no front político institucional Feliciano encabeçava a batalha dos evangélicos pela patologização dos LGBTs, no “científico” era a ex-psicóloga Marisa Lobo, que teve seu registro cassado em 2014 por oferecer a “cura gay” a pacientes, pratica proibida por determinação do CFP.

Também mostramos que por trás da defesa ideológica dessa prática absurda se escondiam - como não podia deixar de ser - interesses econômicos dos grandes empresários da fé. O pastor Silas Malafaia, por exemplo, havia investido em clínicas psicológicas de recuperação que, caso a “cura gay” fosse aprovada, poderiam lucrar milhões oferecendo as “terapias”.

A batalha dos fundamentalistas evangélicos para patologizar e criminalizar os LGBTs e a educação sexual e de gênero está em toda a parte, como podemos ver com o projeto Escola Sem Partido, que visa proibir qualquer tipo de educação sexual nas escolas, e que obviamente conta com o apoio do ultra-reacionário Bolsonaro, que recentemente proferiu a absurda declaração de que quem ensina sexo é “papai e mamãe”.

Recentemente, outra figura da “psicologia” evangélica, Patricia Teixeira, ganhou notoriedade defendendo a “necessidade” da heteronormatividade e dos pilares da “família tradicional”. Ela fez o seguinte vídeo, ao lado de um vereador de Tubarão/SC:

No vídeo, ela defende, como se falasse em nome de algum conhecimento cientificamente estabelecido, concepções como as de que “cores, brinquedos, roupas e até mesmo o banheiro que usam informam sobre o seu gênero”, e diz que “a ideologia de gênero contraria essas e outras necessidades e atribui à escola a necessidade de pregar essa neutralidade”, concluindo que “suprimir informações na fase da infância é um grande empecilho para que a escolha [de orientação sexual] seja clara, o que é um confronto à família tradicional, ferindo em muito o real livre arbítrio”.

As consequências nefastas desse tipo de discurso são evidentes: utilizando sua autoridade como profissional da área de psicologia, Patricia Teixeira dissemina as identidades trans e as orientações sexuais não hetero como anormais, e visa suprimir que as escolas ensinem a tolerância e o respeito aos que estão em dissonância com a “família tradicional” tal como ela e seus dogmas a concebem. Fere todo tipo de ética profissional da psicologia - para não dizer os direitos humanos da população LGBT - a disseminação do preconceito e da intolerância sob a “defesa da família tradicional” feita por Patricia Teixeira.

Por isso, é mais do que justificada a ação tomada pelo CRP de Santa Catarina que cassou o registro profissional de Patricia Teixeira. A sua defesa de uma ideologia reacionária baseada em dogmas religiosos intolerantes e preconceituosos em hipótese alguma deve ser feita utilizando como escudo a autoridade profissional de psicóloga, cobrindo sua LGBTfobia com um suposto verniz científico. Não há nenhuma ciência na intenção de Malafaia, Feliciano, Marisa Lobo e Patricia Teixeira em criminalizar e patologizar os LGBTs e acabar com a educação sexual e de gênero, nem tampouco em qualquer absurda ideia de terapia de conversão para “curar” a orientação sexual ou a identidade de gênero de alguém, que nada têm de patológico.

Marisa Lobo levou a Marco Feliciano um “dossiê contra o Conselho Federal de Psicologia e os conselhos regionais”, e o parlamentar da Assembleia de Deus disse que irá encaminhar um pedido de CPI para averiguar a alegação de “perseguição política e religiosa” denunciada. Veja o vídeo que gravou com o deputado, incitando, a exemplo do que vem sendo o Escola Sem Partido, que alunos gravem seus professores de Psicologia para denunciá-los:

Marisa Lobo, que se candidatou pelo Avante como deputada esse ano, condena ainda as notas de repúdio dos conselhos contra as absurdas posições como as que defende, que vão contra toda a ética profissional dos psicólogos. Encorajados pela vitória de Bolsonaro, agora essa extrema-direita tentará impor sua ideologia reacionária também no âmbito da profissão dos psicólogos. Não podemos aceitar.

 
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