Ana Mendieta, Body Tracks, 1974
Vermelha Primavera
Promessa de primavera,
corre a chuva de outubro
para chegada de novembro,
corre o vermelho rubro
na calçada,
corre a travesti em decadência violada,
corre o capoeira da peixeira,
não, não houve tempo!
morre travesti, se vai capoeira
escorre em trama salgada
a jovem lágrima,
que logo cai no pranto,
fora planejada sua queda
para assim que nasça
vi Sol lá fora
e fez calor,
só que nem Sol aguenta
essa gente toda que já foi boa,
essa gente que hoje espanca,
então volta o Sol
e se esconde, atrás de cinza nuvem
feito pique-esconde,
vai-se também o seu calor
e o frio desce o monte
a mulher que dobra esquina,
tarde, noite ou dia,
dobra a manga da blusa
caso o mal desponte,
carrega consigo,
a meretriz mulher de novos ares,
a força de todas em uma,
a união da ancestralidade
pode ser,
pode ser que a promessa
de uma vermelha primavera
seja feita por aquelas
que tem sangue, vida, morte
a escorrer entre as pernas.
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