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ELEIÇÕES 2018
The Economist: um setor das finanças internacionais começa a flertar com Haddad?
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy
Ítalo Gimenes
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

A revista liberal britânica The Economist, um dos ícones do capital financeiro, apresentou preocupações com um eventual governo Bolsonaro no Brasil. Representante de uma ala das finanças imperialistas, estaria mais inclinada a uma alternativa à candidatura do PSL no segundo turno? Estaria chamando pela negativa um voto em Haddad?

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Com comparações entre o ultraneoliberalismo do guru econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, com os governos de Pinochet aconselhados pelos “Chicago Boys” (liberais da Escola de Chicago), a revista que representa um setor das altas finanças se preocupa com o risco de Bolsonaro se tornar o eventual próximo presidente do Brasil.

Em um dos títulos apresentados pela edição, trata-se de mostrar Bolsonaro como uma “ameaça para a América Latina”. O subtítulo da matéria é "Bolsonaro seria um governo desastroso". Algo que indica muito mais do que parece, num momento em que os traços do segundo turno começam a se delinear com mais clareza.

A revista compara o avanço de Bolsonaro e de suas propostas ao avanço do populismo nos Estados Unidos, com Donald Trump; na Itália, com Matteo Salvini; e nas Filipinas de Rodrigo Duterte. Para a revista neoliberal, Bolsonaro soube explorar a combinação de recessão econômica, descrédito com a classe política e aumento da violência urbana com a apresentação de visões conservadoras e uma proposta de economia pró-mercado. "Os brasileiros não devem se enganar. Bolsonaro tem uma admiração preocupante por ditaduras", diz o texto.

A modo de passagem, cumpre lembrar a hipocrisia da revista, que em seu momento apoiou as brutais ditaduras militares no Cone Sul, que ora critica, impulsionadas pelos EUA.

Em outro artigo da mesma edição, também sobre as eleições brasileiras, diz-se que o próximo presidente precisa “resgatar a confiança das instituições. Para isso, precisa avançar em acabar com a corrupção, tirar a economia da recessão e reduzir a violência urbana [...] Se Bolsonaro vencer, não poderá avançar em nenhuma das três”.

A revista reconhece estar ciente de que Haddad é o provável adversário de Bolsonaro no segundo turno. “Haddad é o oponente mais provável de Bolsonaro, tem um partido grande atrás de si e foi um prefeito de êxito [em SP]. Promete baixar a dívida, mas seu partido tem menos intenções que ele de assumir reformas. Terá de lutar contra a percepção de que será um títere de Lula”.

Carrega a preocupação do conjunto do mercado financeiro, de que Haddad seja independente de Lula (mesmo tendo sido Lula um administrador fiel de todos os interesses mais importantes do capital financeiro no Brasil). Apesar disso, deixa entrever certa inclinação nas entrelinhas ao “prefeito de êxito”.

Partimos do pressuposto de que, em eleições manipuladas pelo autoritarismo judicial, com o apoio das Forças Armadas, todo tipo de fraude pode ser utilizada. Entretanto, excetuando-se possíveis fraudes e levando em consideração que o segundo turno que se desenha é entre Bolsonaro e Haddad, poderíamos conjeturar: estaria este setor das finanças internacionais inclinado a apoiar Haddad contra Bolsonaro?

Esta hipótese não é descabida, visto que o capital financeiro não em uníssono, e também se divide em alas. Após Haddad aparecer nas pesquisas como provável concorrente dos votos consolidados em Jair Bolsonaro, o petista passou a competir também na busca pela graça do mercado, em especial das finanças imperialistas.

Veja aqui: Haddad: compromisso com o ajuste fiscal e a reforma da previdência

Veja também: PT e Haddad deixam claro que se eleitos vão governar com golpistas e a direita

Em crescente campanha para preparar o embate no segundo turno com o candidato que tem na sua equipe o ultraneoliberal Paulo Guedes, Haddad já vem prometendo estar compromissado com "o ajuste fiscal e a reforma da previdência", como disse em sabatina do UOL. Mais que isso, chegou a sugerir que a diferença entre os programas econômicos de Bolsonaro e do PSDB, com o do PT, é que "o plano deles leva a uma retomada mais lenta do que no nosso entendimento” (ver aqui no minuto 21:30).

Ou seja, Haddad já admite que aplicará ajustes contra os trabalhadores, e aplicará a reforma mais querida pelos bancos e as finanças estrangeiras. Segundo o candidato petista, fará isso num pacto de unidade nacional com partidos queridos pelas finanças internacionais, em primeiro lugar com os golpistas do PSDB e do MDB.

Mensagens como essa não passaram despercebidas pelos "mercados". Se ainda não soa como violino, é porque os mercados exigem ainda mais garantias.

Segundo a colunista do Estadão Vera Magalhães, as finanças ainda tem mais receio de Haddad que de Bolsonaro. "Operadores de São Paulo e do Rio avaliam, com pouca dissonância, que Haddad traria risco mais imediato de disparada do dólar e reversão de decisões de investimentos, dada a questão do futuro de Lula." Este setor das finanças era o que mais se posicionava até agora, pelas relações intrínsecas entre bancos, fundos de investimento e o agronegócio - este último, fortemente adepto de Bolsonaro.

De fato, o mercado não deu poucos sinais de que poderia apostar suas fichas no proto-fascismo sustentado por um ministro ultraneoliberal no comando da economia. Desde o atentado a faca em Juiz de Fora que o hospitalizou, a bolsa respondeu em alta e o dólar em leve queda frente a possibilidade disso elevar ainda mais as suas chances de vencer.

Alguns economistas tem revelado posicionamentos de CEOs de grandes bancos e gerentes de empresa que aceitam tudo menos a volta do governo petista. Para Renato Ometto, sócio da Mauá Capital, por mais que Haddad tenha admitido o problema fiscal do país e adotado um discurso mais positivo quanto à reforma da Previdência, o ex-presidente Lula continua sendo uma voz fundamental no partido, o que gera “ressalvas nos investidores”.

Entretanto, as finanças não constituem um mundo homogêneo. Se é certo que uma ala do capital financeiro espera que Bolsonaro seja o melhor agente de ajustes brutais, exclamações como a do The Economist mostram que há setores das Bolsas que ainda "não fecharam questão" contra uma alternativa a um eventual governo Bolsonaro, que se prevê seja bastante instável e gere enfrentamentos diretos na luta de classes.

Embora o garoto dos sonhos do mercado tenha sido uma opção dita de “centro”, como Alckmin, para dar continuidade ao governo golpista de Temer, implementando um ajuste fiscal rápido e duro contra os trabalhadores, o tucano vem despencando nas pesquisas. Uma das novidades nestas eleições é que o PSDB vai perdendo a posição predominante no campo político antipetista, sendo substituído vorazmente por Bolsonaro.

O que realmente coloca Haddad em seu radar é o grau de entreguismo do pacto de pacificação nacional com os golpistas que Haddad encabeça, apoiado por Lula. Sem estes sinais, que seduzem os mais preocupados com um eventual governo "populista de direita" sem contato com os sindicatos - como tem o PT através das burocracias traidoras da CUT e da CTB - as finanças estariam mais unificadas na decisão.

Por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana contra o pacto com o golpe

Nós do Esquerda Diário que defendemos incondicionalmente o direito do povo decidir em quem votar, contra a interferência do judiciário autoritário que prendeu Lula e vetou arbitrariamente sua candidatura,

denunciamos esse novo pacto nacional encabeçado por Haddad e apoiado por Lula, que busca uma reconciliação com os escravistas que deram o golpe, legitimando um sistema político tutelado pelo judiciário e pelos militares, e se adaptando aos interesses do mercado financeiro internacional e dos capitalistas nacionais de descarregar a crise econômica sobre as costas dos trabalhadores e do povo.

Nenhum combate à extrema direita nefasta representada por Bolsonaro, ou o autoritarismo judiciário apoiado pelo Alto Comando das Forças Armadas, pode ser feito de mãos dadas com o capital financeiro e os golpistas.

Haddad se pronuncia abertamente em sua campanha de que quer conciliar com os golpistas e ser subserviente ao mercado financeiro, e nós sabemos que isso significará ajustes e ataques ao povo trabalhador. Já vivemos a experiência do que foi o segundo mandato de Dilma, que no dia seguinte das eleições jogou no lixo todo o discurso “de esquerda” que tinha feito na campanha eleitoral, colocou um banqueiro neoliberal no ministério da fazenda e atacou o direito ao seguro desemprego num momento de enorme recessão e desemprego em massa, recortou orçamentos na saúde e na educação e avançou na privatização da Petrobrás para seguir pagando fielmente a dívida pública aos banqueiros milionários e para ganhar o apoio de setores do capital financeiro internacional em suas tentativas de conciliar com os que deram o golpe.

Contra esse pacto, a única forma de seguir lutando contra o golpe institucional, é exigir dos sindicatos e organizações populares que lutem por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Uma Assembleia que possa discutir o não pagamento da dívida pública, a revogação imediata e integral de todas as reformas do governo golpista de Temer e dos governos anteriores, a eleição dos juízes pelo voto popular bem como sua revogabilidade, o julgamento de todos os casos de corrupção por júri popular, o elementar direito ao aborto legal, seguro e gratuito e todas as medidas que possam fazer com que sejam os capitalistas que paguem pela crise, e que imponha a vontade das maiorias populares contra mais um pacto com golpistas e escravistas que pretende descarregar a crise sobre nossas costas. Somente a luta independente dos trabalhadores pode enfrentar o golpe, pois os de cima como o PT estão conciliando com os golpistas e capitalistas.

Essa é uma proposta emergencial que fazemos, pois cremos que no marco de uma luta como essa, amplos setores da classe trabalhadora perceberão que o poder real na sociedade capitalista não está no voto que damos a cada dois anos, mas sim no poder econômico e militar da burguesia, que condiciona qualquer governo de “mal menor” (não apenas Haddad, mas também Ciro Gomes) e que tem inúmeros mecanismos para impedir que qualquer medida realmente favorável aos interesses da maioria da população seja executada.

Será uma experiência que permitirá avançar na compreensão da necessidade de lutar por um governo dos trabalhadores que rompa com o capitalismo, exproprie a burguesia e socialize os meios de produção sob controle democrático dos próprios trabalhadores, que é a perspectiva estratégica pela qual nós socialistas revolucionários lutamos.

 
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