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DEBATE
A revolta feminina contra Bolsonaro: como combater a direita sem cair no “mal menor”
Isabel Inês
São Paulo

O que expressa a enorme revolta feminina frente a candidatura de Bolsonaro? O ódio às suas afirmações machistas, ao seu obscurantismo e autoritarismo, e que também no Brasil, como na Argentina, Estados Unidos, Espanha e outros países, as mulheres podem se tornar o elemento que organiza e expressa o descontentamento social de massas com a crise, como uma caixa de ressonância que antecipa os próximos embates da luta de classes.

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A rejeição de Bolsonaro é mais forte entre mulheres (49%), os jovens (55%) e os nordestinos (51%), setores da população que são diretamente atacados pelos discursos e planos de governo do direitista. No caso das mulheres, soma-se o machismo do candidato, como quando disse que as mulheres deveriam ganhar menos porque engravidam, com o fato dele defender todo tipo de ataque aos trabalhadores e aos programas de auxilio social, que afeta principalmente a vida das mulheres.

Bolsonaro é a expressão mais reacionária do golpe institucional, que se reafirma nessas eleições a partir do autoritarismo judiciário que impediu a candidatura de Lula e tirou um dos poucos elementos que restam de soberania popular dentro da democracia burguesa. Bolsonaro defende abertamente ditadores e seu discurso contra o PT não é só mirando o Lula, que governou por anos abrindo espaço para a direita e garantindo enormes lucros a empresários e banqueiros, mas principalmente contra os trabalhadores, as mulheres, e todas as idéias de esquerda que levem a subversão e ao combate ao capitalismo. Por isso o ódio ao comunismo e ao marxismo expresso pelo reacionário.

Essas eleições polarizadas são a expressão, ainda que distorcida, de uma correlação de força que a burguesia não conseguiu fechar contra o movimento operário e os direitos democráticos da população, assim quando Bolsonaro destila seu ódio ele não consegue seu objetivo de tentar calar e desmoralizar as mulheres, e toda população oprimida, pelo contrario, ele só desperta mais energia para combater a direita. Nesse sentido que estamos vendo vários atos com as mulheres a frente, chamando às ruas para combater o candidato.

Poderia esse fenômeno de milhares de mulheres querendo lutar contra o Bolsonaro ser o motor para surgir uma nova militância contra a extrema direita e a continuidade do golpe? Diferente do fenômeno de mulheres que surgiu nos EUA após vitória do presidente Trump, que no Brasil esse movimento se antecipe como parte de uma experiência acumulada nos últimos processos de luta, de que a direita não se derrota através das eleições, é preciso ir a luta. Essa é uma importante questão de como pode se desenvolver o movimento de mulheres e se impõe o debate: como combater a direita?

As mulheres são um entrave eleitoral para Bolsonaro, elas representam 52,5% dos 147,3 milhões de eleitores, das quais apenas 13% votariam nele. Esses dados mostram uma resistência ainda passiva, mas que mostra que as mulheres podem ser a força motora para varrer todo reacionarismo, que não é só o Bolsonaro, mas de um regime podre, onde se aplicou o golpe em meio a saudações a ditadores, à Deus e a família opressora e tradicional.

Onde o judiciário autoritário vota projetos como Escola Sem Partido que amordaça os professores e impede que se ensine educação sexual e qualquer ideia subversiva contraria ao patriarcado e a exploração capitalista. Isso porque esse Estado se mantém em cima da enorme diferença salarial entre mulheres e homens e entre negros e brancos, se mantém em base a super exploração e a terceirização, que não podemos esquecer, teve sua expansão nos governos petistas.

No Brasil, as mulheres podem se juntar ao fenômeno internacional que esta na ofensiva contra os ataques neo liberais, e vem sendo a vanguarda dos processos de luta que expressam o descontentamento social com os regimes políticos apodrecidos e tradicionais, como na Espanha, Estados Unidos, Argentina e outros países. Bem expresso na “novidade histórica” da greve internacional de mulheres, transformando o 8 de março num dia combativo e resgatando um método de luta operário.

Vimos na enorme luta pela legalização do aborto na Argentina, que abriu as portas para processos seguintes de luta estudantil contra os ajustes do FMI e do presidente Maurício Macri. Na argentina, nós do Pão e Rosas e do PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas, organização irmã do MRT), assim como no Brasil, atuamos no sentido de unir a luta democrática das mulheres às estruturas operarias, pois nenhuma mulher, negro ou LGBT pode se emancipar enquanto tiver trabalhadores sendo explorados, pois vivemos num sistema de exploração que mantém e sustenta a opressão.

Combatendo a política imposta pela burguesia que tenta nos dividir entre homens e mulheres, negros, brancos e imigrantes, para pulverizar as forças dos trabalhadores. Unificar os trabalhadores, combatendo todas idéias opressoras que podem existir nos meios operários, é parte fundamental de construir uma força contra a direita, que a combata a partir de atos, greves e mobilizações levantando um programa anti capitalista, anti burocrático e socialista revolucionário. Nesse ponto, levantamos a hipótese se também não pode ser essa nova classe trabalhadora feminina que supere as travas burocráticas das direções sindicais patronais ou traidoras.

Nessas idéias contém um norte estratégico do sujeito revolucionário e o grande objetivo de construir uma sociedade verdadeiramente livre e ilimitada. Essa é uma batalha dentro do movimento de mulheres, para que essa força não seja desviada ou usada demagogicamente por partidos do regime capitalista, mesmo aqueles que fazem o discurso mais democrático, mas para manter tudo como esta. Por isso é preciso saber quem são aliados da pauta das mulheres, e quem são inimigos de classe.

Nesse sentido, a resistência a direita deve conter um programa e uma estratégia que leve a ofensiva e a fortalecer uma política dos trabalhadores. Que não se limite apenas em resistir nas eleições, votando no candidato “menos pior” por exemplo. A "pura resistência" e a ideia de “menos pior” se casam no sentido de, apesar de não falarem, conterem a ideia da completa impossibilidade da vitória, nesse caso nos resta resistir e a cada eleição votar no candidato que apareça como "menos pior" frente ao fortalecimento da ultra direita. Como Andrea D’atri desenvolve, “A resistência é um ato de insubordinação, mas, como diz lucidamente Daniel Bensaïd – “é em primeiro lugar, um ato de conservação, a defesa encarniçada de uma integridade ameaçada pela destruição”.

Nesse sentimento que o PT se fortalece agora enaltecendo seus anos de governo, e se fortaleceu na eleição de 2014 quando muitas pessoas votaram na Dilma, já descontentes com os ataques iniciais que o petismo vinha fazendo, mas para evitar um governo do PSDB.

Ciro Gomes também busca aproveitar desse sentimento do “menos pior”. Dentro dessa lógica, é possível votar, por exemplo, na latifundiária Kátia Abreu, que é contrária ao direito ao aborto e nada tem a ver com os direitos das mulheres, principalmente as indígenas e trabalhadoras do campo.

O problema do “menos pior” é que de “menos pior em menos pior, sempre acabamos frente a um mal maior” - já dizia Antonio Gramsci - como foi o exemplo histórico do próprio PT que nos seus anos de governo abriu espaço para a direita.

E para todos que passaram por Junho de 2013, vale lembrar-se de Haddad junto a Alckmin reprimindo a juventude nas ruas para preservar os monopólios do transporte. Essa não pode ser a alternativa de resistência à direita, e com certeza ela não é a única, ainda que apareça hoje como algo imediato e possível, não é. Ciro e Lula alimentam essa ideia do “possível agora”, do “menos pior” e da "pura resistência", porque os beneficia eleitoralmente. Já a esquerda reformista é incapaz de apresentar uma alternativa radical, como vê-se na candidatura do Boulos, limitada a esse regime.

A resistência chamada pelo PT hoje é para construir uma reedição débil do que foi o governo Dilma pós 2014, aplicando ataques como fizeram em seus anos de governo, que cortaram da educação, expandiram a terceirização, negociaram com a igreja a continuidade da proibição do aborto. E em 2019, com o Brasil em crise, as pressões aos ataques será ainda maior.

O problema do enfrentamento à direita e à extrema direita, odiosos inimigos das mulheres e da classe trabalhadora, não é uma questão de discurso, ou puramente cultural. Mas sim uma força material, política e ideológica que serve para sustentar um sistema de exploração e opressão.

O movimento de mulheres não pode lutar pela metade: na luta contra a abominável figura de Bolsonaro e seu vice defensor de torturadores, não podemos ser cooptadas por alternativas que não são anticapitalistas e portanto não responderão aos anseios das mulheres, que vão sentir duplamente os efeitos da crise econômica. É preciso um grande movimento de mulheres anticapitalista e socialista capaz de fazer com que os capitalistas paguem pela crise que criaram. Podemos nos preparar para vencer.

 
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