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RIO GRANDE DO SUL
Igreja condena direito ao aborto enquanto protege padre envolvido em pedofilia no RS
Valéria Muller

Recentemente a Arquidiocese de Porto Alegre se pronunciou contra qualquer avanço no direito ao aborto no Brasil e ainda ressuscitou o Estatuto do Nascituro, que criminaliza o aborto inclusive em casos de estupro e risco de vida da mulher. A mesma arquidiocese, entretanto, não combateu o fato de um padre seguir fazendo missas em Caxias do Sul com tornozeleira eletrônica após terem sido encontrados materiais de pedofilia em seu computador.

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A Arquidiocese de Porto Alegre se pronunciou no último dia 17 em repúdio à ADPF 442 e à discriminalização do aborto. Em nota, além de repudiar a possibilidade das mulheres brasileiras deixarem de ser criminalizadas pelo seu direito de decidir sobre o próprio corpo, vai além e exige a apreciação, aprovação e aplicação do PL 478/2007, o Estatuto do Nascituro. Na época a proposta gerou repúdio de amplos setores e hoje a tramitação desse projeto reacionário está paralisada, mas ele não foi derrubado definitivamente ainda. O PL foi escrito pelo então deputado do PT/BA Luiz Bassuma e Miguel Martini, que na época cumpria mandato pelo PHS/MG. Luiz Bassuma saiu do PT para o PV e em 2018 concorrerá pelo Avante, mesmo partido do Pastor Isidório.

A Igreja combate ferozmente qualquer avanço no direito das mulheres ao próprio corpo, com um discurso de suposta "defesa da vida", quando na verdade seu discurso é conivente com milhares de vidas arriscadas e perdidas em abortos clandestinos. As principais vítimas de abortos clandestinos são as mulheres negras, pobres e das camadas mais precarizadas da classe trabalhadora. O direito à vida dessas mulheres não está entre as preocupações da Igreja.

Essa mesma Igreja que defende criminalizar as mulheres que abortam inclusive em casos de estupro e risco de vida da mãe com o Estatuto do Nascituro acoberta casos escandalosos para defender os padres. Um exemplo absurdo disso é o padre Evair Heerdt Michels, que desde o ano passado usou tornozeleira eletrônica durante as missas devido à uma investigação da Polícia Federal em que foram encontrados materiais de pedofilia no seu computador. No último dia 04 foram registradas imagens dele descumprindo a ordem judicial e ficando próximo de crianças e adolescentes. No dia 06 de julho, após denúncia do descumprimento da ordem judicial, o padre foi afastado das missas mas não deixou de ser padre e sua congregação segue o protegendo. Neste caso a suposta "defesa da vida" que a Igreja usa como argumento contra a legalização do aborto não se estende às crianças e adolescentes que estiveram expostas a um homem apontado como pedófilo.

Na época em que as imagens foram descobertas o padre era diretor do Colégio Murialdo de Porto Alegre e presidente da Associação Protetora da Infância, da qual a escola pertence. Ele foi transferido para Caxias do Sul e lá também foi visto em outras atividades escolares, o que levou à medida de obrigá-lo a usar tornozeleira eletrônica. Durante as investigações ainda foi descoberto que o padre já tinha sido transferido várias vezes pela congregação, como forma de o proteger de denúncias de assédio e abuso sexual feitas por alunas. Foram encontrados 330 GB de materiais de pedofilia em seu computador e um dos emails que ele utilizava também apareceu em outra apuração sobre o mesmo tema, no Ceará. A investigação ainda constatou outras denúncias de assédio e abuso sexual que nunca foram apuradas nesta mesma congregação. As denúncias são dos colégios Murialdo de Caxias do Sul e Aranranguá.

O falso discurso da Igreja e dos setores conservadores de "defesa da vida" não se estende nem à vida das mulheres que morrem por abortos clandestinos, nem à vida das crianças e adolescentes que estudam nas escolas vinculadas à Igreja, tampouco às crianças que frequentam as missas. Acobertam casos chocantes como deste padre, expondo crianças a riscos, enquanto criminalizam as mulheres por querer decidir sobre seu próprio corpo. Querem ainda mais intervenção da Igreja no Estado para que um direito básico como a interrupção voluntária da gravidez, já legalizada em muitos países do mundo, siga sendo negado e gerando mortes. Por parte da Igreja não há preocupação com a vida das crianças, para além de seu discurso demagógico, muito menos com a vida das mulheres. Ao contrário de "defender a vida", o que a Igreja defende é o conservadorismo, a estrutura patriarcal e capitalista onde se assenta seu poder espiritual e material. Os bispos, padres e todos que se protegem dentro dessa estrutura podre combatem o direito das mulheres ao próprio corpo com um discurso cínico enquanto demonstram, na prática, que em nada se importam com a vida, inclusive nem com a vida das crianças que frequentam igrejas.

Na Argentina, contra o conservadorismo da Igreja e da casta política, a luta das mulheres impôs a aprovação do aborto legal na Câmara dos Deputados. No próximo dia 08 será a votação no Senado, uma data decisiva para a luta das mulheres no país e no mundo, especificamente na América Latina, onde na maioria dos países este direito segue sendo negado. É necessário sair às ruas também nesta data em apoio à luta no país vizinho e pelo aborto legal, seguro e gratuito e também levantando a necessidade de separação da Igreja e do Estado no Brasil. É somente a força da mobilização que pode arrancar a legalização do aborto e impôr à Igreja e aos conservadores nosso direito de decidir sobre nossos corpos.

 
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