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RACISMO
Instrumento de tortura vira móvel. Você compraria o “tronco dos escravos”?
Maré
Professora designada na rede estadual de MG
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O buffet “tronco dos escravos” é um móvel inspirado em um instrumento de punição para os negros escravizados que fugiam para os quilombos. Os designers Marcos Batista e Eduardo Peroni apresentaram a criação em uma mostra, impulsionada pelo SEBRAE e pelo governo do estado de Alagoas, cujo tema era “O Quilombo dos Palmares e seu líder Zumbi”.

Esse móvel tem sido motivo de polêmica nas redes sociais. Os criadores escrevem, no catálogo da linha de móveis a qual pertence o buffet, em tom que pode ser compreendido como o de uma homenagem, que não trata apenas de um objeto para compor a decoração de uma casa, “mas de histórias, de pessoas que com seus sorrisos e mãos preenchem nossas casas de alegria, a paixão em ser marceneiro”.

No catálogo também consta que “o projeto consiste na estratégia do design aplicado para agregar valor aos produtos e serviços e dar mais visibilidade ao Arranjo Produtivo Local de Móveis de Maceió e entorno (APL) e empresas participantes. A linha de móveis “QUILOMBO DOS PALMARES” apresentará uma história importante e simbólica do Estado de Alagoas como diferencial competitivo”. Ou seja: a história de Zumbi, Dandara, e tantos outros, que mantiveram um quilombo de 30 mil pessoas que se refugiavam da escravidão, é tratada como nicho de mercado. É, assumidamente, uma aposta de que a “homenagem” seja lucrativa.

Acontece que tal “homenagem” parte, no mínimo, da escolha das piores formas de retratar a brava história dos negros e negras que ergueram o Brasil à custa de seu sangue. Não há “paixão em ser marceneiro” na história da escravidão, tampouco poderia haver sorrisos e casas cheias de alegria diante de um instrumento usado pelos feitores contra os negros.

No Brasil, a teoria da democracia racial, originalmente apresentada por Gilberto Freyre, diz que a história do Brasil – desde a colonização passando pela violência, os estupros, as chacinas de indígenas e a escravidão forçada de negros roubados de seu continente, e chegando à “miscigenação” – foi de passividade e harmonia entre raças e classes. Mas como desmascara o trotskista CLR James em “A Revolução e o Negro”: o único lugar onde os negros não se rebelaram é nos livros de historiadores capitalistas.

A história dos negros no Brasil e no mundo é digna de inspiração. Mas não para novos produtos que tomem essa história como “diferencial competitivo”, e sim para subverter essa ordem de que, ainda hoje, muitas vidas negras estejam condenadas em nome do lucro de uns poucos parasitas que usam do racismo e de todas as opressões para melhor explorar enquanto, demagogicamente, se mascaram de progressistas, deturpando e transformando em mercadoria a luta secular pela real emancipação.

Fonte: Blog Repórter Nordeste

 
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