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MARX 200 ANOS
Atualidade de Marx a 200 anos de seu nascimento
Gonzalo Adrian Rojas
Shimenny Wanderley
Campina Grande
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Durante toda a semana, de 21 à 25 de maio, a Unidade Acadêmica de História da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), realizou um evento pelos 200 anos do nascimento do teórico de Trier intitulada: “Karl Marx: 200 anos depois” e desde Esquerda Diário participamos na sexta-feira, 25 de maio, numa Mesa-Debate sobre a atualidade do pensamento de Marx com a Professora Rosa Godoy da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). No contexto da crise dos combustíveis quase cinquenta pessoas, entendemos que foi um público muito bom.

Gonzalo Rojas participou desde Esquerda Diário, impulsionado pelo Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), apresentando uma visão ofensiva do marxismo e na intervenção usou como base principalmente uma matéria escrita junto com Shimenny Wanderley para a rede internacional de jornais La Izquierda Diário intitulada “Karl Marx: 200 anos do nascimento do revolucionário de Trier

O objetivo desta matéria é apresentar elementos mais gerais da intervenção, para não repetir a citada matéria e destacar três questões de luta e conjuntura que apareceram no debate.

Apresentamos a Marx a través da crítica que ele realizou a filosofia idealista alemã, o socialismo francês e a economia política inglesa, conseguindo realizar uma superação dialética articulando economia, política, filosofia e história, entendidas como separações analíticas de uma realidade que fazem parte de uma totalidade social. Desta forma delimitamos em termos metodológicos e epistemológicos a Marx de suas interpretações economicistas, historicistas.

Apresentamos um conjunto de categorias teóricas que vão aparecendo em algumas de suas principais obras e que sempre tem relação com uma tática de intervenção na luta de classes do proletariado no marco de uma estratégia revolucionária.

Marx e o Estado

Na Introdução a “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, escrito entre dezembro de 1843 e janeiro de 1844, destacamos a relação entre a crítica religiosa e a crítica da política, a crítica irreligiosa, a crítica do Estado e é uma de suas primeiras menções ao proletariado como sujeito político da Revolução. A burguesia revolucionária francesa faz uma crítica à religião, mas não faz a crítica da política nem de seu Estado. A crítica do Estado é a critica a seu principal exponente Hegel, o maior filósofo da burguesia enquanto classe revolucionária, o teórico do Estado Ético, que entendia que o homem só poderia ser livre no Estado, Marx entende que o Estado tem relação com as classes sociais, é um instrumento de classe e também a esfera da alienação. Por isso, a possibilidade de emancipação do proletariado não se dá no Estado, senão em luta contra este transformando-se em sujeito histórico. Este “descobrimento” do proletariado como classe universal significa um avanço gigantesco que desenvolverá junto com Friedrich Engels no Manifesto do Partido Comunista.

Em relação ao livro “A questão judaica” (1843), destacamos a polêmica com Bruno Bauer, a diferenciação conceitual realizada entre emancipação política, defendida pelo primeiro com emancipação humana. Marx expõe os limites da emancipação política numa sociedade dividida em classes, sendo a igualdade jurídica a expressão da desigualdade social, por isso a luta é pela emancipação humana no marco de uma luta anticapitalista para atingir uma sociedade sem exploração.

No “Manifesto do Partido Comunista” publicado em 1848 a pedido da Liga dos Comunistas, destacamos que o central é que o programa apresenta pela primeira vez a necessidade da independência política da classe trabalhadora. Até 1848 o proletariado lutava junto a burguesia contra os elementos da ordem cristã-feudal ainda existentes na Europa, a partir de 1848 os trabalhadores deixam de lutar contra os inimigos de seus inimigos para lutar contra seus verdadeiros inimigos: a burguesia. Destacamos os conceitos burguesia, como os proprietários dos meios de produção, proletariado aqueles que não tem propriedade alguma, sendo duplamente livres, livres juridicamente e livres de seus meios de produção e da terra, para serem explorados no mercado mundial capitalista, além dos conceitos de classe, fração de classe, luta de classes e Estado.

A história da humanidade não é outra coisa que a história da luta de classes, que não se produz em toda sociedade, mas sim naquelas em que a sociedade se divide em classes antagônicas. Amos e escravos no modo de produção escravista; senhores feudais e servos no feudalismo; burgueses e proletários na moderna sociedade capitalista. Surge o Estado como uma instituição para garantir a dominação da classe economicamente mais poderosa sobre a classe explorada. O Estado será definido no Manifesto como um comitê que administra os negócios comuns de toda a burguesia, que deve garantir a reprodução da sociedade burguesa, que a propriedade privada seja legal, assim como a exploração da força de trabalho, para garantir a acumulação rentável de capital num território. Nesta aula protesto realizada contra a Escola sem partido falamos do tema (ver aqui).

Muito relevante como Marx e Engels apresentam a relação entre burguesia e proletariado e que a burguesia, na medida em que se desenvolve, desenvolve também o seu coveiro: o proletariado, sujeito histórico revolucionário. Passando pelo livro ”Lutas de classes na França”, obra onde Marx realiza uma autocrítica sobre algumas hipóteses que trabalhavam com Engels no Manifesto do Partido Comunista, depois da derrota das revoluções na França e na Europa. Tira como uma conclusão que desenvolverá na Introdução a Crítica da Economia Política, que nenhuma sociedade desaparece sem haver desenvolvido a totalidade de suas forças produtivas e que os homens não se põem tarefas que não conseguem realizar.

Posteriormente nos referimos ao “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” publicado em 1852, onde Marx realiza uma excelente análise histórico-política e do processo político que acabou no golpe de Luís Bonaparte, destacando o conceito leninista de conjuntura como análise concreta de uma situação concreta, assim como os conceitos de Bonapartismo e de crise política, nessa parte da apresentação acrescentamos os elementos reacionários de bonapartização do regime, depois do golpe institucional e num contexto de crise orgânica no país, diferenciando de fascismo.

Da “Guerra Civil na França”, escrito em 1871, analisamos em termos estratégicos a Comuna de Paris, a primeira experiência de tomada do poder político pelo proletariado, tanto conceitualmente opondo formas de Estado, que remetem à regimes sociais diferentes como o Império e a Comuna, assim como suas propostas políticas que podem ser consideradas transicionais. Segundo Marx todo Estado é produto da divisão em classes da sociedade; se há classes, há Estado, uma forma de organização política que se impõe sobre as outras classes. A partir da Comuna de Paris, identificará a ditadura do proletariado com a forma política da Comuna. Marx defende a destruição do Estado burguês e sua substituição por uma nova forma de organização política, posto que depois de uma revolução não desaparecem automaticamente as classes, sendo primordial diferenciarmos aparelho de Estado de suas formas políticas, o aparelho de Estado depende do regime social mas pode ter uma variedade de formas políticas como afirma Lenin no final do capítulo II do Estado e a Revolução:

“A transição do capitalismo para o comunismo, está claro, não pode deixar de dar enorme profusão e variedade de formas políticas, mas sua essência será inevitavelmente uma só: a ditadura do proletariado”

Na “Crítica ao Programa de Gotha”, escrito entre abril e maio de 1875 e onde polemiza com as ideias de Ferdinand Lasalle, este período de transição é denominado como primeira fase do comunismo ou socialismo. Essa nova forma de organização estatal – a “ditadura do proletariado”, que significa a máxima democracia para a imensa maioria da população – que tem como objetivo ir definhando na medida em que desaparecerem as classes.

Das questões levantadas pelo público e em polêmica com a outra participante da mesa, destacaremos quatro: sobre a frase “Brasil não é para principiantes”, crise orgânica e hegemonia, bonapartização e fascismo e exploração e opressão.
Tem uma frase muito divulgada no facebook e como a maioria das vezes levantada acriticamente: “Brasil não é para principiantes”, que foi destacada pela palestrante. Entendemos que todo marxista revolucionário deve realizar uma análise da conjuntura de uma determinada formação econômico-social para intervir na luta de classes com uma estratégia revolucionária. Entendemos que essa frase expressa um desvio nacionalista e elitista, parece que é mais simples estudar Ucrânia ou França ou que só os especialistas podem falar de política. Não tem sentido.

A crise orgânica, articula crises econômicas políticas e sociais que se manifestam de forma desigual e combinada em cada país dependendo de sua formação econômico-social, e na América Latina e no Brasil bate com força desde 2013. Expusemos que não estamos frente a uma crise cíclica “normal” do capitalismo, onde depois de um momento de expansão vem outro de retração para impulsionar uma nova expansão, mas estamos frente a uma crise orgânica do capitalismo mundial em termos gramscianos. Isto significa que a crise iniciada no ano 2008 é muito mais profunda, já que se inicia nos Estados Unidos, a principal potência imperialista e não em um país semi-colonial, depois no norte da África na denominada “primavera árabe”, e logo se expande para a Europa e se expressa nas políticas de austeridade, chega com força na América Latina em geral e no Brasil em particular, isto gera uma crise de hegemonia no país.

Também analisamos se existe ou não um avanço fascista no Brasil, para isso diferenciamos os elementos reacionários da conjuntura de fascismo, conceituando fascismo e apresentamos como nós devemos nos posicionar frente a esta situação, posto que honestos militantes acreditam que o Brasil vive essa situação. Esta é para nós uma diferença política central com o PT e sua orbita, mesmo que existam elementos de direita e ultradireita no país , elementos reacionários predominando na conjuntura política, mas não só, no marco da crise orgânica também tivemos no país elementos à esquerda como as gigantescas mobilizações por Marielle e Anderson no Rio de Janeiro, o triunfo dos professores municipais de São Paulo contra a reforma das aposentadorias de Dória ou a reincorporação dos 62 metroviários demitidos também em São Paulo, mesmo que esses elementos não tenham conseguido mudar a situação de conjunto mas tampouco significa que a classe trabalhadora está derrotada. Explicamos que para nós o fascismo é uma categoria histórica, é a revolta da pequeno- burguesia organizada pelo grande capital em organizações de combate para destruir as organizações de combate do proletariado num contexto de revolução e contrarrevolução. Também afirmamos tanto a dificuldade que tem as classes dominantes para enfraquecer Jair Bolsonaro, para fortalecer um candidato golpista de centro, o ideal seria Alckmin, mas não está conseguindo porque seu programa político não constrói consenso de massas, o que tem relação com a crise de hegemonia, sequer em termos eleitorais e mesmo na sua crise estratégica, como mencionamos o PT como centro de gravidade levando para seu entorno por direita a Ciro Gomes e por esquerda Guillerme Boulos, todos defendendo um programa neodesenvolvimentista utópico, Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido da Causa Operária (PCO). Em síntese, se acrescentam os elementos de bonapartização do regime, mas não é fascismo.

O objetivo desta intervenção política foi recuperar o comunismo como projeto político revolucionário, depois de décadas de usurpação stalinista do conceito, e há dois séculos do nascimento do revolucionário de Trier.

 
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