As calunias contra Marielle, desencadeadas pela direita reacionária nas redes sociais foram denunciadas como grandes mentiras logo de imediato. De fato são grandes mentiras, sistematicamente desmentidas pela família, amigos e companheiros de luta. Entretanto, pra além de falsos, os boatos disseminados não foram escolhidos aleatoriamente: eles reproduzem conteúdos muito mais profundos e opressores do que podem aparentar a primeira vista.
Este mesmo tipo de método da mentira é usado pela imprensa racista e pelos defensores da repressão policial, sempre que um jovem negro ou pobre é morto pela polícia na favela: começa quando a manchete do jornal se refere a ele como "suspeito". A criminalização com cor e endereço serve à uma política racista que da poder às polícias para atirar e matar negros e pobres indiscriminadamente como política de estado.
É assim que chegamos a uma brutalidade social em que um jovem negro com um saco de pipocas é assassinado pela polícia com uma bala na cabeça de Jhonata Dalber Matos de 16 anos. A polícia alegou que "confundiu" com um saco de drogas, mas não tem nenhuma confusão aí, e sim puro racismo.
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Uma das calúnias contra Marielle, acerca de sua maternidade, foi facilmente desmentida por uma simples conta matemática: Marielle tinha 34 anos e sua filha tem atualmente 19, ou seja, ela engravidou entre os 18 e 19 anos. Mas, pra além dos fatos, essa calúnia carrega um teor machista e conservador muito profundo.
A calúnia coloca como se existisse um problema moral, caracterizado como algo de "má índole" e "promiscuidade", conceitos completamente burgueses, na maternidade na adolescência. Engravidar na adolescência não é questão um problema moral, e sim fruto de uma sociedade machista, que nega às jovens acesso à educação sexual, às descobertas do corpo e de sua proteção. A maternidade na adolescencia não é e nunca será um problema de cunho moral e individual, e sim um problema de uma sociedade, machista e de classes que afetam a vida de milhares de jovens, principalmente as mais pobres, que deixam de estudar, que se privam das descobertas subjetivas e que são sistematicamente excluídas do mercado de trabalho.
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O racismo nas falas é gritante. As calúnias não deixam de mostrar a face cruel do racismo, que trata todos os negros como traficantes ou aliados do tráfico, como bandidos e usuários de droga. Se é negro e pobre, o jornal já coloca como "suspeito". Para estes, não existe direito de defesa, processo legal, nada disso: a polícia tem o poder de execução, desde os autos de resistência até as torturas, assassinatos, tudo com cobertura da mídia racista, a mesma Rede Globo que fingiu comoção com o assassinato de Marielle.
Marielle foi repetidamente associada as faccções criminosas do Rio de Janeiro, como o Comando Vermelho e chamada pelo deputado Alberto Fraga de "usuária de maconha". O racismo fica escancarado nessas calúnias, onde a direita conservadora e reacionária e se sentem na liberdade de associar Marielle ao tráfico, drogas e crime.
A cor de sua pele foi o suficiente para tais ataques, assim como é sistematicamente feito com os negros, que são violentamente abordados por policiais, que perdem suas vidas nas favelas, que deixam de conseguir empregos por sua cor e cabelo, que são jogados para os cargos terceirizados e mais precários do mercado de trabalho.
Todos os boatos que construíram para deslegitimar as mobilizações contra essa barbaridade foram pensados com o que a burguesia mais se apoia para continuar explorando e oprimindo os trabalhadores e juventude: racismo e machismo.
Marielle felizmente está acompanhada de uma imensa massa que não apenas foi às ruas para denunciar seu assassinato e jogar na conta do Estado e de seus aparatos repressivos, denunciando o genocídio do povo negro no Brasil, como estão atentos e armados para desmentir esses boatos que atentam contra alguém que não pode se defender.
O judiciário racista que condenou Rafael Braga por portar um pinho sol, que encarcera e mata milhares negros todos os dias e a burguesia que lucra sobre o sangue das mulheres negras, usando das opressões para oferecer uma miséria e morte, não conseguirão passar suas calúnias, pois estamos armados e gritando novamente não só pela vida de Marielle, mas também pela vida de Anderson, Cláudia, Amarildo e DG.
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