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UFMG
Porque estamos até agora sem matrícula na UFMG
Francisco Marques
Professor da rede estadual de Minas Gerais
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No dia 10 de julho, a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) soltou uma nota comunicando o atraso nas matrículas que aconteceriam, segundo o calendário acadêmico, do dia 14 ao dia 18 do mesmo mês, rompendo o silêncio que a reitoria vinha fazendo sobre a greve. Isso aconteceu devido à greve dos técnico-administrativos da universidade, que foi deflagrada já há mais de 2 meses, no dia 28 de maio. Até o momento os alunos estão sem matrícula e sem perspectiva de iniciar o semestre. Por que? O que fazer?

A primeira coisa a se tomar em conta são as reivindicações da greve, a situação da educação e da UFMG e as propostas do governo federal. As demandas centrais dos trabalhadores são o reajuste salarial de 27,3% (com reposição das perdas salariais para inflação desde janeiro de 2011), melhora na carreira e contratação de mais funcionários. Apesar de ser uma greve nacional que vem afetando 67 instituições federais em todo o país, a proposta do governo federal é de corte nos salários da categoria, pois ofereceu 21,3% de reajuste ao longo de quatro anos. Sendo que inflação está hoje prevista para mais de 9% em 2015, esse reajuste proposto na verdade significaria um ofensivo arrocho salarial, contando também que todas as previsões para a economia do país são de piora do quadro, com maior recessão e aumento da inflação.

Essa proposta do governo federal segue a linha de Dilma e Joaquim Levy para economia, aplicada desde o início do ano. Os cortes em gastos sociais já totalizam quase 80 bilhões tirados da saúde, educação, etc.; a inflação vem rapidamente diminuindo o poder de compra da população, batendo o “recorde” dos últimos 12 anos; o aumento nas contas de luz foi de quase 40%. Essas e muitas outras medidas que atacam os direitos trabalhistas e as condições de vida da maioria da população também precarizam ainda mais as condições de ensino, pesquisa e extensão nas universidades, como viemos sentindo desde o início do ano na UFMG, com a demissão de centenas de terceirizados, cortes e atrasos em bolsas de assistência estudantil e de pós-graduação, etc.

A greve dos servidores é forte, conta com bastante adesão e por isso tem impedido a volta às aulas. Depois de junho de 2013 e da onda de greves de maio de 2014, as greves têm aumentado em frequência e força, e os servidores da UFMG e de todo país também são parte disso. Os trabalhadores não querem pagar com seus salários e direitos o superávit do governo PT, que só serve para manter os lucros dos bancos e grandes empresários responsáveis pela crise que vivemos.

A greve dos servidores pode ser ainda mais forte!

Apesar da grande força da greve, muito de sua potencialidade ainda não se desenvolveu. O SINDIFES, sindicato da categoria, hoje filiado à CUT, tem poupado de críticas o governo Dilma (que é principal responsável pela atual situação), o que faz enfraquecer a greve, que precisará derrotar esse governo para conseguir suas demandas. A CUT, que hoje é dirigida pelo PT, apoia o governo federal e acredita que o problema da atual situação no país é Joaquim Levy (Ministro da Fazenda, como se esse não fosse mandado diretamente por Dilma) e a oposição de direita. Mas o que vemos é que na verdade governo e oposição têm quase a mesma saída para o país.

Outra questão importante é a postura de conciliação com a reitoria, que demagogicamente se coloca como “imparcial” e diz que a greve é uma questão que deve se resolver entre servidores e governo. Esse silêncio é cúmplice do governo que quer derrotar a greve por cansaço. O reitor foi diretamente escolhido pela presidente, e implementa dentro da universidade o mesmo plano de corte de gastos “sobre a cabeça” dos mais explorados e oprimidos (como as trabalhadoras terceirizadas demitidas e os estudantes que dependem da assistência estudantil). Em nenhum momento abriu as contas da universidade para que todos decidissem onde deveriam ser feitos os cortes nem cogitou reduzir os “salários de deputado” que ganham o reitor e vários membros da burocracia acadêmica e do Conselho Universitário. A greve também terá que derrotar os planos da reitoria para conquistar as demandas dos trabalhadores.

Qual o papel dos estudantes da UFMG?

O arrocho salarial contra os trabalhadores, assim como a falta de contratação, atinge diretamente os alunos e a qualidade das atividades desenvolvidas na universidade, e ameaça o que sobra de público na universidade, porque sabemos que a solução que o governo e a reitoria terão para cada vez menos funcionários concursados e para a precarização é ampliar os convênios com empresas terceirizadas e a privatização do ensino superior público. Para além da justiça de suas reivindicações, este é mais um motivo pelo qual devemos apoiar a greve dos servidores em curso.

Além disso, devido ao adiamento das matriculas, as aulas deverão voltar apenas em setembro. Isso impõe um tipo de um "estado de greve" aos estudantes e professores. Frente a isso, não podemos ficar passivos enquanto o nosso futuro é decidido no embate entre os servidores e o governo. O movimento estudantil deve organizar apoio cotidiano a esta greve, assim como acompanhar suas pautas e debater e incorporar as pautas também dos estudantes, que também são diretamente afetados pelos cortes e ataques do governo federal. Aproveitar este mês de agosto, em que as aulas já deveriam estar voltando e muitos dos que moram fora de Belo Horizonte voltam à cidade, para organizar diversas atividades, debates, espaços de cultura e lazer e que discutam a situação da UFMG e do cenário da educação nacionalmente. Esse é o papel que deve cumprir com centralidade o DCE-UFMG, e também todas entidades estudantis e coletivos de esquerda da universidade.

Está colocada por esta greve a possibilidade de lutar em defesa da educação e da universidade pública, que vem sendo atacada de conjunto (e não só os servidores da UFMG), e questionar os planos do governo federal e da oposição de direita, que vêm impulsionando projetos reacionários como a redução da maioridade penal e o aumento das penas, cortes no seguro-desemprego e o aumento na terceirização, que vão afetar diretamente a juventude.

Foto: O Tempo

 
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