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MATRICULAS USP
’A sensação de estar perdida é a maior’, afirma caloura sem matrícula na Letras USP
Jéssica Antunes

A alarmante situação do curso de Letras da USP, onde centenas de estudantes ficaram sem o direito de cursar as matérias nas quais se inscreveram, se deparando com a costumeira “Turma Lotada” no sistema de matrículas, foi escancarada pelo artigo do Esquerda Diário na quarta-feira passada.

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Foram mais de 3000 mil acessos, explicitando que o problema afeta realmente a muitos estudantes, indo pra muito além de alguns “casos isolados”, como se costuma dizer hoje em dia. Além de quase 500 curtidas até o momento, e dos inúmeros depoimentos que recebi de estudantes revoltados com a situação.

Hoje entramos em processo de pedir o “requerimento”, onde todos os estudantes que ficaram sem vaga se colocam para disputar algumas desistências. Segunda-feira, dia 03, as aulas começam com as nossas grades ainda indefinidas.

Mariana Lopes, do segundo ano, foi “chutada” de quarto matérias. “Sou aluna do segundo ano, e não consegui pegar 4 matérias. Todas turmas lotadas, ainda tem uma que é da licenciatura que eles abriram 200 vagas e tem mais de 800 inscritos, ou seja, impossível. MUITA gente mas muita gente ficou de fora. Optativa estão impossíveis de conseguir e eu estou sem matérias obrigatórias também! E aí?”, contou ao Esquerda Diário.

Tamiris Pereira, no quinto e último ano, não sabe como vai conseguir se formar, tendo conseguido apenas três matérias. "Essas interações foram sofridas pra mim, de seis matérias, só consegui três, e só optativas bobinhas... Tava pensando em requerimento mas não quero perder o que consegui, está muito difícil. Essas interações foram as mais difíceis pra conseguir matérias, e isso não aconteceu somente comigo. Erro do Júpiter? Não sei..“.

O aumento da dificuldade em conseguir as matérias este ano, notada por Tamíris, fica clara com uma novidade: os calouros também ficaram com a “Turma Lotada”. Pedro H. Monteiro, tentou levar no bom humor: "É foda. Como não fui bem no vestibular, decidi ir nos professores não tão concorridos pra não ficar de fora, aí em IELP (Introdução aos Estudos de Língua Portuguesa), que é pré-requisito pra várias nos próximos anos, por 3 vagas, eu fiquei de fora do mesmo jeito. Chego a rir, mas está firmeza. Agora é torcer pro requerimento dar certo." Pedro H Monteiro, calouro.

Alguns ingressantes, não conseguem entender a situação. “O que posso fazer agora é esperar o tal requerimento que nem sei como funciona, na primeira consolidação eu tinha ido de Waldir, mas ele foi muito concorrido aí fui com o Lopes e também deu turma lotada”, contou indignada Keila Vieira, “já tinha sido chutada do Titan também. Confesso que por ser caloura a sensação de estar perdida é a maior”.

A situação está piorando?

Desde o início do ano, quando a crise econômica chegou forte em todo o país e as universidades federais começaram a ver suas verbas cortadas pelo Governo Federal, logo os Governos Estaduais se apressaram em também aplicar também cortes orçamentários. Nas universidades estaduais de São Paulo, sob o governo do PSDB, houve uma redução de R$ 200 milhões no repasse financeiro. Os reitores, escolhidos pelo Governador, arrocharam as contas, congelaram a contratação de professores e funcionários, fecharam bolsas de estágio, intercâmbio e pesquisa e decidiram, inclusive, se “livrar” dos hospitais, escola para os alunos e fundamentais para as comunidades ao entorno.

Na USP, com mais de 120 milhões a menos no orçamento, o aumento das “Turmas Lotadas” em um curso como a Letras será sim uma expressão disso, já que entram 850 alunos por ano, e não haverá reposição dos professores que se aposentarem. Desde 2009, quando acabaram com o gatilho automático, mecanismo conquistado na greve de 2002 que repunha imediatamente um professor que se aposenta, falece ou se retira, a falta de professores na Letras se tornou um problema crônico que só tende a se agravar. Como também são as filas enormes nos bandejões, os fechamentos das vagas nas creches e o fechamento dos leitos do Hospital Universitário. Isso é o que viemos chamando na universidade de “desmonte” em curso.

Como dar uma solução?

Frente a essa situação, é necessário que os estudantes da Letras e de toda a USP se organizem e debatam em cada sala de aula como veem e como querem o seu curso. Quais as suas necessidades e seus interesses, e como atuar conjuntamente nesta situação de crise, em consonância com nossos professores e os funcionários da faculdade. Este é um primeiro passo para que possamos pensar e decidir sobre qual universidade queremos, voltada aos nossos interesses e às necessidades da população, e não do que é mais funcional ou prioritário para o mercado. Pois essa é transformação de fundo, e um grande debate de para que é produzido o conhecimento nas universidades, é necessário pra uma resolução completa do problema nas universidade hoje.

Na Letras, com toda essa situação crítica, o nosso centro acadêmico chamou uma venda de brejas na volta as aulas, mas não fazendo nenhuma discussão com os estudantes dos distintos anos que estão enfrentando dificuldades em se matricular, e muito menos se colocando como parte fundamental da resolução deste problema.

O que precisávamos agora, era que o CAELL (Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários da Letras USP) organizasse um amplo debate entre os estudantes, chamando a pensarmos como resolver os problemas e debilidades que vivemos em nosso curso. Partindo na volta às aulas de organizar a discussão sobre as “Salas Lotadas” conjuntamente com os professores e os funcionários. Para que assim pudéssemos tirar medidas efetivas e coletivas para que nenhum estudante ficasse sem cursar uma matéria desejada.

A atual Gestão Ruído Rosa, é composta por uma corrente política que mesmo depois de Junho e toda a desilusão com o PT segue sendo base de apoio do Governo Dilma, o Levante Popular da Juventude, junto com outros estudantes do curso de Letras.

Essa corrente não impulsiona a organização coletiva necessária dos estudantes para que todos decidam e atuem conjuntamente impondo sua vontade e suas necessidades, como a onda de greves operárias no país mostraram ser fundamental para conquistar qualquer mudança. Incluindo a própria greve histórica dos trabalhadores da Universidade, que durou 118 dias. E dessa forma, como faz o próprio PT, alimentam a ideia de que é principalmente pelas vias institucionais que os estudantes e trabalhadores conquistam seus direitos, e não pela própria força de sua organização.

A atual gestão está chamando também para a primeira semana de aulas, uma importante reunião sobre a Redução da Maioridade Penal. É fundamental que os estudantes debatam este tema que diz respeito ao futuro de todos os jovens do país, tomando essa demanda para si junto com a defesa da universidade. Porém, não basta ser contra a Redução que Eduardo Cunha quer aprovar, é também preciso se colocar contra o aumento das penas de jovens detidos, defendido pelo PT em aliança com setores do PSDB. O fato do Levante Popular da Juventude nesta gestão se calar sobre isso, também deixa claro seu alinhamento com o governo petista, e sua impossibilidade por conta disso de colocar os estudantes à altura de responder a todos os ataques que estão vindo desse governo à juventude e a educação no país.

A Ruído Rosa deixou os estudantes da mão do “Lúcifer Web”, como os estudantes aqui costumam chamar, não oferecendo qualquer alternativa além do “requerimento” institucional para que não fiquemos sem matrícula nas matérias. Assim como também, já no terceiro semestre de gestão, não vem respondendo às demais demandas dos estudantes no curso, como espaços de vivência, arte e cultura, e um debate profundo sobre o currículo da Letras, que há muito vem sendo questionado pelas mulheres, LGBT’s e negros e negras do curso como não contemplativo. É preciso aprofundar o debate sobre qual é a gestão e a entidade que os estudantes de Letras da USP e do Brasil precisam neste momento.

 
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