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RACISMO
Jovem preso injustamente por ser negro é solto depois de dois meses
Lourival Aguiar Mahin
São Paulo
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Mais um caso de como a justiça é não apenas racista, mas também injusta: a cerca de 2 meses, dois jovens foram presos sob a acusação de terem sequestrado e roubado um motorista, no bairro da Penha, na noite de 26 de julho. Porém, neste dia e horário, um dos acusados, o jovem negro Victor Ambergue Rocha, de 23 anos, estava trabalhando na zona oeste da cidade, como consta no registro das câmeras e do cartão de ponto do seu trabalho, além de 12 testemunhas que estavam trabalhando com ele neste dia. Fábio estava em casa com a família neste dia. Mesmo assim, ambos foram presos no dia 06/10, acusados de roubo e extorsão. Os policiais chegaram a eles pois Victor havia comprado um celular pela internet, celular esse que pertencia a vítima.

O jovem, e seu amigo Fábio Vinícius de Almeida passaram os últimos dois meses numa cela no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Victor teve problemas de pele, além de dificuldades para se alimentar. O jovem Victor Ambergue Rocha Gabriel, conhecido por ser um ótimo atleta nos times de várzea e uma pessoa amorosa e alegre, estava magro e abatido.

Nas redes sociais, a mãe de Victor, Alessandra Rocha, fez diversos apelos: "Sou a mãe desse menino Victor Ambergue que está sendo acusado como sendo um sequestrador... ....já protocolamos no processo todas as provas de que ele estava no serviço no dia desse sequestro, temos folha de ponto, declarações da empresa reconhecidas e autenticadas pelo cartório, testemunhas (funcionários da empresa que trabalharam junto com ele na data), comprovante de pagamento pelo dia trabalhado, carteira registrada, depoimento do próprio rapaz que vendeu o celular para ele, o crime aconteceu às 21:00 no bairro da Penha e o meu filho estava trabalhando na empresa no bairro da Freguesia do Ó até às 23:45..... Me ajudem, por favor!!!!"

Há duas provas que as Polícias Militar e Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB) levantaram contra o jovem, e que foram aceitas pelo Ministério Público Estadual, autor da denúncia contra Victor. Uma é o celular do motorista, apreendido com Victor. O jovem afirma que encontrou o aparelho à venda numa página do Facebook, e um empresário que postou a oferta na rede foi até a delegacia dizer que, sim, ele é quem havia vendido o celular para Victor.

A outra prova é o reconhecimento da vítima. Além de ter sido realizado 71 dias após o roubo, o reconhecimento ignorou uma contradição no depoimento da vítima. O motorista contou em depoimento que havia sido roubado por dois homens brancos e um pardo. Victor é preto.

“O pessoal não acredita nisso. Os ex-treinadores dele estão entrando em contato comigo, perguntando como está a situação, que é um menino trabalhador, de família, um menino que só une a equipe, não arruma confusão. É complicado, é bem difícil mesmo”, descreve Alessandra.

Entenda o caso

Na noite de 26 de julho, por volta das 21h, um motorista do aplicativo 99 foi chamado para uma corrida no bairro da Penha. Quando chegou ao local, três homens entraram no carro e anunciaram um assalto.

Eles conduziram o veículo até o Parque Novo Mundo, na zona norte, na tentativa de fazer saques com o cartão da vítima, porém, como o caixa eletrônico exigia impressões digitais, os assaltantes não conseguiram efetuar o saque. Então decidiram pegar o celular da vítima, além de uma jaqueta, tênis, cartões e documentos, e a deixaram partir.

O motorista prestou queixa no 90º DP (Parque Novo Mundo) e registrou que fora assaltado por três indivíduos, dois brancos e um pardo. O motorista também detalhou a roupa de cada um dos assaltantes, assim como o calçado.

No mês seguinte o celular foi dado a Roberto Soares Rossi, um empresário do setor imobiliário que tem uma série de casas e as aluga na zona norte da capital. Segundo Rossi, um dos seus inquilinos havia lhe entregado o aparelho como pagamento por um aluguel atrasado e voltado para a sua cidade natal, no estado da Bahia.

Rossi, então, colocou o celular para vender na página no Facebook “Desapego”, com foco na venda de produtos usados para clientes da zona norte. Ele chegou a consultar a Anatel, viu que o celular não tinha qualquer tipo de bloqueio e o anunciou para venda.

Foi nesse site que Victor viu um celular no valor de R$ 800,00 e o comprou. O empresário que vendeu o celular para Victor foi contatado pela família e também prestou depoimento. Disse ter recebido o celular como parte de um aluguel por um ex-inquilino que se mudou para a Bahia.

Liberdade!

Na última quinta-feira, foi a audiência de Victor e Fábio no fórum criminal da Barra Funda. Segundo Victor, a juíza relatou que havia “dois dias que ela não dormia pensando naquele processo.” Nessa mesma audiência, a vítima contou ter sido pressionada pelos policiais para reconhecer Victor como um dos sequestradores. Questionado sobre isso, o motorista não quis comentar, alegando "preocupação com sua segurança."

Ao final da sessão, Fábio e Victor ganharam a liberdade provisória, sendo liberados do CDP no final da noite. Como Victor não havia conseguido avisar os familiares, uma vez que todos os contatos estavam no celular que o levou à cadeia, foi pedindo carona até chegar a sua casa, no meio da madrugada do dia 09/12.

O processo segue na justiça. A preocupação de Victor agora é com sua ficha criminal. Fora da cadeia, no entanto, não terá de volta a liberdade de sair à noite e ir a "uma pizzaria ou MCDonald’s" com o filho e a mulher.

  •  Sou negro, minha família é negra. Sou pobre e moro na periferia. Com essa mancha no meu nome, como vou conseguir me explicar. Não poderei mais ser parado em blitz sem temer voltar pra cadeia.

    Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o inquérito policial sobre roubo, extorsão qualificada e associação criminosa segue em andamento e Victor ainda um dos principais suspeitos. Por isso não devemos depositar nenhuma confiança na justiça, que é especializada em prender, punir e matar jovens negros no Brasil. Os negros, que já são 68% da população carcerária no Brasil, enquanto 38% deles seguem presos sem julgamento, além de serem cerca de 3 a cada 4 assassinados pela polícia. A insegurança sentida por Victor e justificada pelos dados, que mostram o caráter racista na justiça e da polícia.

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