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OPINIÃO
Crise da UERJ ou desmonte da Universidade pública?
Rafael Reis
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Nos últimos anos o Estado do Rio de Janeiro vem sendo assolado pela precarização dos serviços públicos. Setores que prestam atendimentos básicos à população, como educação e saúde, sofreram cortes abruptos em seus orçamentos - que já eram reduzidos -, levando ao fechamento ou a extrema precariedade de suas unidades. Além disto, no último ano os servidores vêm recebendo seus vencimentos de forma parcelada ou com meses de atraso.

O principal motivo apontado pelo governo do Estado - gestão PMDB - para tal situação, é o agravamento da crise financeira e a queda da arrecadação. Ora, não há como negar que, de fato, o país atravessa uma crise econômica e que os seus desdobramentos na receita do estado são reais. Contudo, para além de problemas de ordem financeira, o estado está também no meio uma crise política, tendo desde o presidente da câmara até o governador envolvidos em esquemas de corrupção e desvio de dinheiro público.

Em meio a este turbilhão está a UERJ, universidade pública, gratuita, pioneira na implementação de cotas raciais e reconhecida nacionalmente pela sua qualidade. Entretanto nos últimos anos tem sido sistematicamente atacada pelo governo por meio de cortes no seu orçamento e atraso no pagamento de salários e bolsas. Como resposta a este descaso e por estarem impossibilitados de continuarem trabalhando técnicos, professores e alunos estão em greve. Em razão disto, a mídia e até mesmo a comunidade interna acostumaram-se a chamar o momento atravessado pela universidade de "Crise da UERJ".

Ora, segundo o dicionário de filosofia Nicola ABBAGNANO, a origem do termo "crise" remete a um uso na medicina hipocrática que "[...] indicava a transformação decisiva que ocorre no ponto culminante de uma doença e orienta o seu curso em sentido favorável ou não”, o uso mais recente da palavra nos remete a transformações sociais ou rupturas. Tendo isto em vista, a expressão "Crise da UERJ" nos faz imaginar que há um problema interno na instituição, cuja razão está na própria forma como a universidade vem atuando, sendo necessária uma transformação da mesma. Contudo, é importante lembrar que, mesmo com todo o descaso com a instituição, esta continua a ser destaque naquilo que diz respeito à qualidade dos docentes e discentes e de suas produções de amplo benefício para a comunidade fluminense.

Por outro lado, o governo do estado, este sim passa por uma crise profunda do seu modus operandi, fruto de anos de administrações que saquearam os cofres públicos em parceria com a iniciativa privada. O que acostumou-se chamar hoje de crise da UERJ, crise da saúde, crise da educação é, antes de qualquer coisa, consequência de uma política que tem por objetivo o desmonte do serviço público em benefício da privatização dos mesmos.

Tanto o governo federal do Michel Temer como o Estadual do Pezão vem promovendo um desmonte sistemático das Universidades públicas, por meio da asfixia orçamentária e valorização de inciativas que transferem o protagonismo destas instituições para os grandes grupos educacionais como a Anhanguera, Anima, Estácio, Kroton e outras. Por isso, a expressão "desmonte da UERJ" é mais apropriada, na medida que expressa o que de fato vem ocorrendo com a universidade. O desmonte ocorre por meio da falta de repasses e a consequente precarização da estrutura, com o corte no orçamento destinado à pesquisa e extensão, com o atraso de salários e bolsas – deixando alunos e professores sem condições de estarem atuando em suas atividades –, e principalmente, com o discurso promovido pelo governo e pela iniciativa privada – e seus meios de comunicação – argumentando que o ensino superior gratuito é injusto, que beneficia os mais ricos e custa muito caro.

 
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