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JBS: a marca dos acidentes
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Apesar de ser conhecida por seus números fantásticos de faturamento etc., chama a atenção que ao entrar no site da empresa JBS, a última notícia atualizada no seu “mídia center”, datada de 16/07, anuncia a criação de uma diretoria de compliance.

Trata-se de um termo do meio empresarial que nada mais é do que um departamento responsável por garantir que a própria empresa siga as legislação vigente, adeque-se às normas e órgãos reguladores. Nas palavras do executivo responsável, “...Iniciaremos o trabalho com a conscientização de riscos, engajamento de liderança, mapeamento de riscos e prioridades dentro das áreas, assim como a definição de medidas preventivas ou corretivas”. A realidade salta aos olhos, as crescentes denúncias na grande mídia sobre desrespeito às leis trabalhistas, inumeráveis processos, assim como os graves e recorrentes acidentes de trabalho, que se tornaram uma vergonhosa verdadeira marca da empresa, é o que está por trás da criação de tal diretoria.

Casos graves continuam crescendo

Somente este ano, ao menos quatro graves acidentes ocorridos em suas plantas foram denunciados, sendo conhecidos já os casos deWilliam Garcia da Silva, da unidade de abate de bois em Coxim, Mato Grosso do Sul, que em 22 de janeiro teve um braço amputado;Vanderlei Costa Rosa, de Carambeí, no Paraná, que em 03 de fevereiro perdeu uma mão; assim com o mecânico Alexandre Oliveira e Silva, de Lins, no interior de São Paulo, que no dia 05 de fevereiro faleceu ao cair dentro de um triturador; além do caso denunciado no Esquerda Diário, ocorrido na unidade de Osasco, São Paulo, no qual um funcionário perdeu a ponta do dedo e feriu gravemente outros dois, no último dia 09 de julho. Em todos esses casos as vítimas trabalhavam com as máquinas ligadas e tais máquinas não continham a segurança necessária e viável, diga-se de passagem, para evitar os acidentes. A exceção do caso fatal, os outros três ocorreram na função de limpeza das máquinas, que costuma ser um setor mais precário.

Além desses casos graves, a empresa tem seu posto no topo das listas, como mostrou matéria publicada este ano no jornal El País, “Dados inéditos obtidos pela Pública com o Ministério da Previdência Social, por meio da Lei de Acesso à Informação, mostram que a JBS foi a campeã em comunicados de acidentes de trabalho, de 2011 a 2014, somando-se os setores de abate de gado e de fabricação de produtos de carne. No setor de abate de aves – em que começou a se expandir nos últimos dois anos, com a compra da Seara e de outros frigoríficos –, a empresa já subiu para o segundo lugar em 2014 e ficou quase empatada com a BRF (antiga Brasil Foods).”. Segundo a mesma matéria, o dado de 7.822 trabalhadores doentes ou incapacitados para o trabalho nos últimos quatro anos fez a empresa alcançar o tenebroso número de 5 acidentes por dia, durante esse período.

Naturalização e omissão

Em outra reportagem, no site “apublica.org”, questionada sobre seus elevados índices de acidentes, a JBS respondeu com o argumento “lógico” de que, por ter muitos funcionários, estaria mais exposta à ocorrência de acidentes e que seus índices estão dentro das médias do segmento. Contudo, a “lógica” desse argumento, quando contextualizado junto à declaração do coordenador-geral de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Jorge Mesquita, que em 2014 informou que o Brasil é o quarto país do mundo em número de acidentes fatais no trabalho, assim como com dados do Tribunal Superior do Trabalho, segundo o qual “nos setores específicos da indústria, as atividades de produção de alimentos e bebidas, com 59.976 ocorrências, e o da construção civil, com 54.664 registros, se encontram dentre os com maior número absoluto de acidentes de trabalho em 2010”, torna-se óbvio como os argumentos da JBS nada mais são que de uma profunda naturalização dos acidentes de trabalho.

Ainda buscando compreender o tamanho do problema que a JBS representa em relação à saúde e segurança dos trabalhadores, mais uma vez destacamos trecho da reportagem do El País, denunciando a subnotificação dos casos, “Os dados de acidentes de trabalho da JBS e de outras empresas podem esconder um cenário muito pior. Isso porque o setor de frigoríficos é conhecido por não comunicar muitas das ocorrências. Com medo de perder o emprego ou as bonificações que melhoram os baixos salários, funcionários costumam trabalhar adoentados. “Há os casos que vão para a mídia e também aqueles que não aparecem. O trabalhador corta o dedo, recebe quatro, cinco pontos e vai trabalhar, porque é o encarregado daquele dia. Se faltar, perde prêmio de abate, de couro, de desossa. Então prefere trabalhar acidentado a ficar afastado”, diz Vilson Gimenes Gregório, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carne e Derivados de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.”.

Exemplos necessários

Recentemente a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação (Contac/CUT) produziu um vídeo que denunciava a empresa em relação ao plano de saúde, chegando a milhões de visualizações, o material “viralizou” ao ponto da empresa abrir negociações e alterar o valor cobrado aos trabalhadores. Outro exemplo conhecido de iniciativa dos trabalhadores contra os desmandos da empresa é o caso de Andreia Pires, que após ser demitida “porque comecei a passar um abaixo-assinado, pedindo à JBS para rever a decisão de cobrar as nossas refeições”, segundo ela mesma, passou a denunciar a empresa e assumir a defesa de outras vítimas como ela, de demissões ilegais, ou de acidentes de trabalho, como denuncias feitas por Andreia ao Esquerda Diário.

Veja também a entrevista com Andréia Pires feita no programa Virando a Mesa, do Esquerda Diário - Parte 1 | Parte 2

 
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