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FRENTE DE ESQUERDA E DOS TRABALHADORES
Depois das previsões de derrota, MAIS fica perdido com triunfo da FIT
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

Os resultados da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT) nas eleições da Argentina foram históricos, neste dia 22 de outubro. Foram ainda mais contundentes por terem se dado num momento de consolidação da direita representada pelo governo Macri, pois sinaliza o prelúdio das batalhas na luta de classes que virão. Não assim para o MAIS, que segue em sua triste empreitada – vergonhosa para o trotskismo – de diminuir a força da FIT.

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Estampado com destaque nos principais jornais do país, que fizeram uma campanha de veto para invisibilizar a FIT (composta pelo PTS, PO e IS), seus mais de 1,2 milhão de votos representaram o melhor resultado da esquerda anticapitalista e socialista desde a formação da Frente de Esquerda: significou um aumento de 40% frente aos resultados de agosto, elegeu dois deputados federais (Nicolás del Caño do PTS e Romina del Plá do PO) pela estratégica Província de Buenos Aires, dois legisladores pela Capital federal (Myriam Bregman do PTS e Gabriel Solano do PO), conquistou dezenas de deputados estaduais e vereadores pelo país (como Mendoza, Neuquén, etc), e contou com o “terremoto” na província de Jujuy com Alejandro Vilca, trabalhador gari, do PTS, que obteve quase 20% dos votos numa região dominada pelos barões e latifundiários.

Na estratégica Província de Buenos Aires, onde se disputou a “mãe de todas as batalhas”, no marco de uma forte luta onde intervieram as principais figuras da política nacional, a FIT não só resistiu à polarização fomentada pelos meios de comunicação concentrados nos grandes aparatos políticos, mas também fez a melhor eleição de sua história (mais de 500 mil votos), obtendo 46% mais votos que nas eleições prévias de agosto.

Estas conquistas, ainda superiores aos ótimos resultados das eleições prévias em agosto (ver aqui), mostram uma inserção nova de uma frente de independência de classe anticapitalista nos setores mais explorados e oprimidos da classe trabalhadora. Um peso que não é meramente eleitoral, mas é fruto das grandes batalhas de classe como dos operários da Pepsico, e da luta por justiça a Santiago Maldonado. Um triunfo tático a serviço da luta de classes extra-parlamentar, que seja o pilar da construção de um partido revolucionário dos trabalhadores, com impacto no Brasil e em toda a América Latina.

Diante desse panorama, chega a dar vergonha a renovada tentativa do MAIS de diminuir os impressionantes resultados da única frente política de independência de classe no mundo, hoje encabeçada pelo PTS, com inserção sólida no movimento operário e que defende a constituição de um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

Em sua matéria de setembro, haviam “previsto”: "Apesar deste crescimento na votação, que é importante, as projeções para a FIT não são das melhores: ao contrário do anunciado no início das eleições, a projeção atual é que a FIT consiga apenas um deputado [nacional]". O trotskista James Cannon dizia que não é bom marxista quem não é capaz de prever: no novo artigo do MAIS essa previsão foi, para o bem de todos, “esquecida”.

Isso explica o silêncio ensurdecedor de seus dirigentes e quadros, que ora ou outra já comemoraram os votos do "socialista" Bernie Sanders nos EUA. Não sabemos se esse silêncio ensurdecedor é efeito também de um jovem grupo que abriu mão do internacionalismo, já que segue sendo um grupo estritamente brasileiro. O Blog Esquerda Online, de todo modo, não expressa o mais importante dos movimentos a nível internacional.

Sempre com o devoto objetivo de “destacar a eleição da FIT”, o MAIS é fiel a si mesmo: se antes o debate de prognósticos servia para distorcer o crescimento evidente dessa frente política anticapitalista, agora – com os infelizes prognósticos devidamente ocultos – a consolidação de Macri cumpre o papel de lançar areia nos olhos de quem enxerga o claro desenvolvimento da FIT como exemplo de oposição à direita e as “oposições” nacionalistas burguesas na América Latina.

Para se ter uma dimensão da importância do avanço da esquerda anticapitalista na Argentina: em 2014, nas eleições para deputado Federal, o PSOL obteve 1,5% nacionalmente (1.745.110 votantes). A Frente de Esquerda na Argentina obteve 5% para deputado Federal em 2017, três vezes mais o resultado do PSOL. Proporcionalmente, isso equivale no Brasil a 6 milhões de votantes.

Sua "bombástica" conclusão é que as organizações que defendem a independência de classe deveriam se unificar com organizações oportunistas que na mesma eleição saíram junto a peronistas em várias províncias (trata-se da “Izquierda Al Frente”, aposta frustrada do MAIS, sequer passou pelo piso de 1,5% onde realmente importava: menos de 1% na Capital Federal [MST] e não mais de 1,14% [Nuevo MAS] na Província de Buenos Aires).

É a velha tese da “esquerda dividida”, também manejada pela grande mídia oficial como o Clarín, ignorando a diferença entre um programa de independência de classe e um de conciliação de classe. Isto já se torna um hábito para o MAIS, cujo sectarismo com a FIT na Argentina tem sua contracara na construção de iniciativas em comum com a burocracia sindical CUTista através do Vamos! (que conta com o apoio de Gleisi Hoffmann do PT e Vagner Freitas, da CUT).

A dificuldade é que reconhecer o triunfo da FIT, no caso do MAIS, significaria ter que assumir as inúmeras capitulações que vem protagonizando ao longo de sua jovem existência, uma vez que a existência da FIT conquistando influência em setores minoritários de massas demonstra que construir uma plataforma com o PT não tem absolutamente nada de independência de classe.

Ao invés de seguir depositando suas esperanças em chamados estéreis para que Lula “coloque seu peso político e social a serviço da resistência” (sic!), o MAIS deveria entender que um programa de independência de classe e anticapitalista dos trabalhadores, nas ruas e nas fábricas, é o único que cresce no subcontinente. A estratégia de conciliação de classes, aqui ou na Argentina, não pode enfrentar seriamente a direita.

A grande força anticapitalista que se instala nos centros operários urbanos e rurais na Argentina é um exemplo ímpar para o Brasil e a América Latina, independente da amargura do MAIS.

 
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