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LULA E O PT
Qual a política do PT? Velhas alianças para salvaguardar a exploração capitalista
André Barbieri
São Paulo | @AcierAndy

A qualquer pessoa que se pergunte qual foi a atividade política do PT nos últimos meses, a conclusão obrigatória seria que Lula e a direção desse partido buscaram comprovar às elites enfurecidas que não mudaram (e não mudarão) um átomo de sua docilidade aos empresários, e de sua estratégia de conciliação de classes a serviço dos capitalistas.

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O PT se esquivou de organizar o combate contra a agressividade com que a direita veio atacando não apenas os direitos dos trabalhadores, mas as questões democráticas mais elementares: foi tímido sobre a liminar da "Cura Gay", uma réplica do projeto de Marco Feliciano em 2013 (seria porque Feliciano o fez quando era presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara durante o governo Dilma Rousseff?); não disse nada sobre as ameaças da alta cúpula das Forças Armadas de "limparem a corrupção, caso o Judiciário não o faça", um movimento dos militares para que emerjam como fator político para 2018.

Muito menos - como era de se esperar - se opôs aos ataques do governo a categorias como professores do RS e os trabalhadores dos Correios, que se enfrentaram à reforma trabalhista de Temer (de fato, o PT ajudou a desmontar a greve dos Correios, e a isolar a greve do Sul).

Com todos os sindicatos e parlamentares que possui, a conduta das lideranças parlamentares e sindicais do PT se resumiu, via de regra, a um post "democrático" em meio ao seguimento normal de negociações secretas com oligarcas.

Assim, neste período, o PT esteve ocupado em tarefas mais edificantes: convencer os empresários de que são partidários fiéis da velha ordem e que podem garantir a "paz social" em meio aos ajustes, depois das eleições de 2018.

Foi avalizador da reforma política que censura a esquerda e os trabalhadores, tendo como relator na matéria Vicente Cândido (PT-SP). Durante a votação da primeira denúncia de Janot a Temer na Câmara, encheu os bolsos de dinheiro público com as emendas liberadas por Temer: segundo a Agência Lupa, foi o segundo partido que mais recebeu verbas do governo golpista, tendo recebido R$ 266,4 milhões em emendas em junho e julho. Este selo de "partido amigo do fisiologismo" é importante para cacifar-se no altar da política capitalista.

Em sua caravana pelo Nordeste, Lula atravessou os estados da região de braços dados com os eminentes representantes das velhas oligarquias golpistas e seus partidos tradicionais. Agradeceu Renan Calheiros e dividiu palanque com o PMDB em Sergipe e Alagoas; distribuiu abraços ao PSB de Pernambuco, ao governador Paulo Câmara e ao prefeito de Recife, Geraldo Julio (repressor da greve dos rodoviários), acenando uma aproximação com este partido, em encontro com Renata Campos. Na Paraíba, esteve no palanque com Ricardo Coutinho (PSB), entre outras eminências do conservadorismo.

Lula e Jackson Barreto, governador do Sergipe (PMDB), amigo de Temer

Segundo o jornal Extra, Lula demonstrou interesse em fechar um acordo entre o PT e o ex-prefeito Eduardo Paes do PMDB. A chapa teria também o senador Lindbergh Farias (PT) para candidato à reeleição.

Reeditando sua estratégia da década anterior, trata-se de preservar os direitos de exploração dos capitalistas, quando a tarefa é justamente a oposta: construir uma grande força política anticapitalista, para enfrentar a direita e os empresários.

Essas são as demonstrações reais do que planeja o PT: repactuar os acordos do "lulismo" com a velha casta de políticos corruptos (Renan Calheiros, Kátia Abreu, etc.) e aprofundar a confusão e passividade no movimento de massas. Essa estratégia de conciliação de classes é a que permite que dia a dia Bolsonaro, militares e juízes tenham mais e mais peso na classe trabalhadora.

Sua traição a construir e preparar uma nova greve geral contra a reforma trabalhista significou um freio a essa tendência de entrada em cena da classe trabalhadora, mas também uma tentativa de impedir que fossem os operários a acelerarem a agonia da Nova República pela esquerda.

Lula e o PT sabotam qualquer resistência séria das massas

Calado diante do golpe institucional, sem propor nenhuma ação da classe trabalhadora contra o golpe e os ajustes que o PT tinha iniciado, bloqueando qualquer alternativa real de luta por parte da base dos trabalhadores, negociando com os setores mais reacionários do regime a sua preservação em troca da sabotagem da resistência às reformas: o PT buscou ao máximo de suas capacidades construir um sentimento de desmoralização nas massas.

A CUT e a CTB se dispuseram a patrocinar a traição da Força Sindical no dia 30 de junho, que poderia ter sido uma greve geral ainda mais forte que o 28 de abril se não fosse o boicote das centrais. Negam-se a convocar greves e paralisações para derrubar a reforma trabalhista, porque apostam na conciliação com os partidos da direita e juízes desse podre regime. Aparentam discursos radicais, mas não querem lutar, quando é necessário rodear de solidariedade a greve dos professores do Rio Grande do Sul, um exemplo para todo o país. Impedem de lutar. Organizam a desmoralização.

Veja aqui: Para derrotar Temer e as reformas, cerquemos de solidariedade as greves do Rio Grande do Sul

Assim, a CUT e a CTB, veículos de transmissão da influência petistas nos sindicatos de massas, cumprem um papel de reforçar o caráter reacionário da conjuntura.

A frente única de resistência defensiva dos trabalhadores é uma tarefa imediata das organizações sindicais; mas não será levada adiante por partidos como o PT (ou o PCdoB, amigo do DEM). Deve ser imposta contra esses burocratas conservadores que paralisam os instrumentos de luta dos trabalhadores. Isto está profundamente ligado à necessidade de recuperar os sindicatos das mãos dessas direções traidoras, e que os professores, metalúrgicos, bancários, carteiros, definam os rumos de sua luta.

Tudo isso é parte da estratégia política do PT. Alimentam um sentimento de desmoralização nos trabalhadores, para que estes não vislumbrem com audácia a derrubada das reformas através do combate, e ao mesmo tempo assumem o papel de “vítimas” para projetar-se eleitoralmente. Aos que estão contra o autoritarismo judiciário, restaria resignar-se a votar em Lula ou seu “indicado”, tendo de engolir os ajustes neoliberais que nos farão trabalhar até morrer, os mesmos que Lula já declarou não garantir que revogaria, caso eleito.

Quanto mais crise no regime, mais se evidencia o papel de contenção da luta de classes do PT e de sua burocracia sindical. Sempre em defesa da estabilidade, da governabilidade e da institucionalidade burguesas, o compromisso do PT em primeiro lugar é com a ordem dessa “democracia dos ricos”.

Não defendemos os métodos da Lava Jato de condenar Lula sem provas; mas é indispensável denunciar a política de conciliação petista e derrotar sua tentativa de desmoralizar os trabalhadores.

É indispensável preparar uma alternativa política anticapitalista, à esquerda do PT

Os temas nacionais debatidos cotidianamente como a corrupção endêmica dos capitalistas e as reformas neoliberais indignam a população e abrem caminho para o questionamento de todo o sistema político, para combatê-lo de conjunto, e não reformá-lo ao sabor das elites corruptas, como quer o PT.

Enquanto o regime se prepara para as eleições de 2018, consideramos que as lutas defensivas dos trabalhadores, como no Rio Grande do Sul, e as lutas de frente única contra os ataques dos capitalistas devem ter como política a eleição de representantes para uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que comece por anular imediatamente todas as reformas e avance no combate a todas as instituições do regime político, colocando os grandes temas nacionais nas mãos dos trabalhadores para que os capitalistas paguem pela crise.

Isso permitiria batalhar para que todo político e juiz fosse eleito e revogável, recebendo o mesmo salário de uma professora. As grandes empresas como a JBS e a Odebrecht poderiam ser estatizadas sob controle dos trabalhadores. O fim do pagamento da dívida pública daria verbas suficientes para investimentos nos serviços públicos. Podemos batalhar pela proibição das demissões e a redução da jornada de trabalho, e a divisão das horas entre empregados e desempregados para combater o desemprego.

Esta experiência de choque dos interesses dos trabalhadores contra os interesses de empresários e banqueiros pode levar à conclusão da necessidade de avançar a um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

Este programa, junto à solidariedade às lutas como a dos professores do RS, pode abrir caminho a que se supere a experiência petista de colaboração com os capitalistas, e faça emergir uma real força anticapitalista.

 
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