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SEXUALIDADE
A sexualidade no trabalho: O desejo em disputa (parte I)
Tomás Máscolo
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Fotomontaje: Enfoque Rojo

A genitalizaçao esta destinada a retirar a função do corpo de reprodução de prazer para converter em instrumento de reprodução alienado, deixando à sexualidade apenas o indispensável para a reprodução. E por isso que o sistema condena com especial severidade todas as formas de atividade sexual que não sejam a introdução do pênis na vagina, chamando de “perversões”, desvios patológicos, etc. Para acorrentar o ser humano ao trabalho alienado é necessário mutilá-lo reduzindo sua sexualidade aos genitais.

Nestor Perlongher – Sexo e Revoluçao

A alienação principal, a grosso modo, se fundamenta na sistemática separação dos produtores diretos (trabalhadores) e seus meios (ferramentas) e objetos de trabalho (terra, água etc). Isso conclui em: a expropriação do fruto do trabalho próprio e a separação entre o conhecimento do processo produtivo e o produtor. O trabalhador despojado de bens com os quais pode ficar satisfeito, é forçado, sob pena de perecer de fome, a vender-se como uma mercadoria a quem o deseje explorar.

Nas palavras de Marx: “O alinhamento, alienação do ser humano, em uma medida em que supõe a perda de si mesmo, a renúncia a sua própria natureza em favor de um ser alheio. Deste modo o ser humano se converte em algo estranho para si mesmo, em um ser alienado. O produtor de sua objetivação se impõe como verdadeira e única realidade, a qual deve submeter-se, vivendo somente “para o outro”.

Mas frente a exploração, a organização dos trabalhadores é fundamental para colocar um freio. O Objetivo dessa nota e abrir um debate ao redor do corpo, o desejo e o trabalho. Enquanto essas identidades e sexualidades que estão fora do cinturão heteronormativo são as mais perseguidas, em um regime de trabalho de exploração e tercerização qualquer tipo de desejo sexual – incluindo o heterosexual – é mutilado.

“Estava muito cansado e não conseguia ter uma ereção”, conta Emanuel Gimenez, um jovem morador de Rosário-Argentina, de menos de 20 que trabalhou em uma fabrica metalúrgica. “Minha namorada me perguntava o que estava acontecendo, eu simplesmente estava cansado”. Seu relato, me recorda o de um operário no filme Memórias para Reincidentes. O filme aborda a luta operaria que vinha ocorrendo nos anos anteriores, desde o “Cordobaço,as novas conduções classistas estendendo-se por todo o país, as greves e ocupações contra o pacto social e os “villazos”, e em todo esse cenário de luta remete a anedota dos trabalhadores da Fiat em Córdoba, onde os trabalhadores nas assembléias também problematizavam sua escassa vida sexual, produto das condições de trabalho.

O retrato de Emanuel segue:”No primeiro dia de trabalho meu chefe me disse que me queria calado, que olhasse meu companheiro e não falasse. Eu sabia que iriam me fazer pagar o direito de piso, por isso não dizia nada quando me perguntavam constantemente se eu transava com tal ou qual colega de trabalho, ainda que sabia que isso podia fazer com que me descartassem.

O relato do rosarino se soma o de Luis, que vive na Capital Federal e trabalha muitos anos na Ausa. A perguntá-lo sobre como vivia sua sexualidade no trabalho, disse: “ O clima no trabalho geralmente e hostil, principalmente nos lugares onde a idade media e maior. Percebe-se uma maior liberdade de aceitação, existe um senso comum que segue sendo opressor. Por exemplo, muitos companheiros que não dizem abertamente que são homossexuais, te que escutar as conversas cotidianas entre funcionários que fazem piadas de cunho explicitamente homofóbico”, disse.

Os acabados

Marcos conta que trabalha desde os 11 anos. “Hoje em dia tenho 21 anos. Me ferrei o Ciatico. Dores nas costas constantes, as penas sobretudo e os pés por estar muitas horas parado trabalhando, nos dias mais húmidos me doem os ombros e o pulso. Trabalho de verdureiro, entregador e de garçon entre muitas coisas. O relato de Marcos e único, porém suas dores são coletivas.

Nesses meses se põe em discussão o papel dos jovens nas eleições. Grande parte do chamado “voto jovem” (de 16 a 24 anos), é parte da famosa geraçao “nem, nem”. Os 15%, que são 566.000 jovens, não estudam nem trabalham. A esse número se soma o desemprego, que é 18% , o dobro da população adulta. Muitos jovens se vêem obrigados a deixar seus estudos para trabalhar, e aí começa o círculo dos “nem, nem”, que são condenados aos piores trabalhos.

“Entrei disfarçada de homem para poder conseguir esse trabalho”

É a historia de uma trabalhadora da Donnelley, quando ainda não estava sobre o controle dos trabalhadores. Seguramente e o caminho que começou a transitar Tamara com apoio dos companheiros e sua batalha contra a discriminação é um primeiro grande passo. O apoio da comissão Interna de Donnelley e de los militantes do PTS como parte dela, unificando a luta contra a exploração e opressão, é um exemplo para a classe operária. Lutando contra todo tipo de opressão e discriminação, a classe trabalhadora também se liberta, em parte a si mesma.

Mas Tamara, não e a única que luta contra os preconceitos. A trabalhdora de La Virginia e candidata a deputada federal pela Frente de Esquerda, Leilen Archenti conta que tem HIV e que teve que lutar muito contra a patronal e alguns e alguns companheiros de trabalho que ainda tinham preconceito com sua doença : “Muitas vezes lavavam o bebedouro com água sanitária”, conta. É fundamental deixar bem claro que quem vive com HIV não está incapacitado para realizar qualquer tipo de atividade no trabalho. Ainda hoje, seguem utilizando em varias empresas exames pré-admissionais para detectar o HIV, o que é completamente ilegal, e limita as possibilidades de acesso a um trabalho aos soropositivos.

É um problema ser heterossexual?
Não, não e um problema ser heterossexual, o problema é a opressão. É um problema quando por fazer topless em Necochea te parem mais de três policiais enquanto nas revistas de moda os topless de muitas modelos saem nas capas para vender mais números.

Não há nenhum problema em construir uma sexualidade, o problema é quando querem controlá-la. Quando não dão educação sexual nas escolas e se permite – mesmo hoje contando com uma lei de educação sexual nas escolas - a permitir interferência clerical. Essa interferência que não permite que essa educação não seja somente orientada a heterossexual e permita aos jovens gays, lésbicas e trans saber cuidarem das doenças transmissíveis sexualmente, entre outras coisas. Sobre tudo tendo em conta que estamos em um país que possui Lei de Identidade e lei de Matrimonio Igualitário.

E assim como relata Ari Laxague:“A lei de identidade de gênero supõe um novo paradigma legal, onde o gênero de uma pessoa pode ser o que pessoa declare: não fazem falta requerimentos estéticos, nem perícias psicológicas para declarar um gênero ou outro, ou acessar a tratamentos para adaptar o corpo como desejamos e isso me parece fundamental”.

As pessoas trans tem uma expectativa de vida de 35 anos e há muito tempo que lutam contra a discriminação, tentando inclusão trans no mercado de trabalho. E assim que vive Juan Ignacio Pascual “Sim tiveram conquistas importantes enquanto a aquisição de direitos e visibilidade da comunidade LGBT, funcionaram e funcionam como uma lavada na cara para um sistema que segue matando pessoas trans todos os dias, que segue colocando uma posição vulnerável a todxs xs que vivemos nossa sexualidade em dissidência com a heteronorma.”

Em 16 de setembro de 2015 foi aprovado a lei de cota de trabalho trans na província de Buenos Aires. A mesma promove 1% dos postos de empregos estatais, no entanto a lei segue sem regulamentação ainda hoje nenhum município cumpre, sejam municípios macristas ou peronistas. Funcionários do governo de Maria Eugenia Vidal fizeram anúncio faz alguns meses seis mil postos de trabalho para travestis e transexuais que ainda esperam.

A Luta pela verdadeira liberdade sexual

Podemos falar de uma relação entre corpo e trabalho que ao mesmo tempo se cerca de uma principal contradição da sociedade capitalista, a relação capital- trabalho. São os corpos em ultima instância que se introduzem no processo de trabalho, onde se dá o processo de extração de mais-valia e também de alienação.

Mas o Capitalismo e o corpo não são meros processos de trabalho, se encontram inseridos dentro de um sistema muito mais vasto vinculados a outros fenômenos. Em primeiro lugar a alienção, mas esposta também à precariedade do trabalho, a morte prematura, a as enfermidades prematuras, a redução do tempo para o sono, a comida e o desfrute em todas suas manifestações. Esses são os substrato da miséria corporal, uma denúncia das misérias da vida através da qual a tradição marxista, as correntes do feminismo e de liberdade sexual se valeram para criticar o funcionamento interno do capitalismo.

O capitalismo se encarrega de prometer a felicidade a todos, anuncia que o alcance do prazer esta em cada esquina. A sexualidade no escapa disso, uma ilimitada oferta de possibilidades sexuais desenvolveu com vigor um mercado repleto de aplicativos para encontros, cruzeiros, hotéis, saídas românticas. Mas nos deparamos com uma vida cotidiana repleta de dificuldades para alcançar esses padrões, incompatíveis com o dia a dia de milhões que deixam literalmente seu corpo em trabalhos que acabam com suas energias mais vitais.

Uma perspectiva de libertação sexual não só deve atender o desejo e as limitações daqueles que optam por viver sua sexualidade por fora dos parâmetros da heteronormatividade. Deve também recuperar a crítica e a organização contra aqueles processos mais profundos mediante a qual o capitalismo aliena os corpos, regimenta o desejo aos ritmos tiranos de relógio, a máquina e a ganância.

Se trata de criar as condições materiais, culturais e políticas para que ele suceda alicerçar-se uma base para uma verdadeira libertação sexual contra as desigualdades existentes, contra a objetificação dos corpos e do desejo.

 
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